Ao partir de Santos e seguir pela costa até Paranaguá, o viajante é presenteado com um cenário fascinante, que prende o olhar e convida à contemplação. No convés do navio, a paisagem parece um quadro vivo, com o mar como protagonista. Em meio a essas vistas, o farol se destaca, símbolo de segurança e de expectativa para quem se aproxima do destino.
O Farol das Conchas, posicionado estrategicamente na entrada da barra, na ponta leste da Ilha do Mel, ergue-se a 60 metros acima do nível do mar. Firme e vigilante, enfrenta as ondas incessantes, cumprindo a mesma função que outrora desempenhou o famoso farol de Alexandria, construído por ordem de Ptolomeu Filadelfo e revestido de mármore branco. Apesar da distância histórica e da diferença de prestígio, ambos são marcos de luz a serviço da navegação.
Esse farol, inaugurado em 25 de março de 1872, foi uma obra do Barão de Cotegipe, então Ministro da Marinha, para orientar os navegantes com sua luz fixa, visível a até 20 milhas náuticas. Antes dele, no mesmo local, havia apenas um mastro de sinais, usado em comunicação com a Fortaleza da Barra e a Ilha das Cobras para alertar contra a presença de corsários. Em 1875, a Ilha do Mel ganhou também um farolete, com alcance de seis milhas, ampliando a segurança na região.
A rotina do faroleiro, isolado em sua torre, é um sacrifício silencioso. Enquanto cumpre seu dever, raramente é lembrado pelas classes mais privilegiadas, que pouco consideram o esforço dos que vivem nos confins do país, afastados do convívio social.
Histórias de bravura como a do Farol das Conchas ecoam em outras partes do mundo. Um exemplo notável é o de Catelote, esposa do guarda do farol de Kerdonis, na França. Em 1935, quando seu marido ficou gravemente doente na hora de acender as luzes, ela chamou seus filhos, todos pequenos, para ajudá-la. Durante toda a noite, com o pai agonizando, eles mantiveram o farol funcionando. Catelote os encorajava e ajudava quando se cansavam, garantindo a segurança dos navegantes até o amanhecer.
Esse episódio heroico merece lugar na memória coletiva, ao lado de feitos lendários como o de Hero e Leandro. A vida de faroleiros modernos também exige sacrifícios, como os que operam nas Ilhas Walis, no Pacífico, isolados por meses em prol da navegação.
O Farol das Conchas, imponente em sua missão, segue iluminando as águas do Atlântico Sul, um guardião incansável na deslumbrante baía de Paranaguá.
Caro leitor, o farol, com sua luz, simboliza a razão e a consciência que orientam a vida, ajudando-nos a evitar os perigos e a tomar decisões acertadas
NETO, Silveira, Pguá, v. 1, n. 1, p. 149-151, 20..