História, Memória e Patrimônio

A Casa Baleada

Conhecida como "casa baleada", existiam ruínas de um prédio na Costeira

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Conhecida como “casa baleada”, existiam ruínas de um prédio na Costeira, abandonado há quase um século. Antes do século atual, o local era chamado “Chácara da Lucinda”, propriedade da família Santana Lobo. O edifício, com arquitetura nobre, oferecia uma vista deslumbrante da baía e era utilizado para lazer e descanso dos proprietários.

Na época, a chácara estava distante da cidade, separada por uma vasta área conhecida como “Campo de Santana” por alguns e “Campo Dona Ana” por outros. A última denominação fazia referência a Ana de Azevedo, que possuía terras na região no início do século XIX. Hoje, a área é urbanizada, mas no passado era um grande alagadiço, cortada pelo rio do Chumbo. O acesso à chácara era feito por um estreito trilho, onde bois e cavalos frequentemente se afundavam no lamaçal.

A região era de terrenos baixos, invadidos pelas marés, que, em algumas ocasiões, chegavam até a estação ferroviária, fato que perdurou até cerca de 50 anos atrás. Nos anos de 1777, quando Paranaguá se cercou de fortificações para se proteger da esquadra espanhola de Dom Miguel de Cevados, a área já era pantanosa, mas naturalmente cercada por mangues e matas, que protegiam a cidade. Embora essas defesas naturais existissem, foram construídas fortificações que iam da Fonte Velha da Gamboa até o Arsenal (atual Praça Acioli).

 Em 1891, o prefeito João Guilherme Guimarães iniciou um projeto de drenagem, abrindo valas e construindo a estrada para o Porto Pedro II, hoje Avenida José Lobo. Isso facilitou o acesso à Chácara da Lucinda, tornando o Campo de Santana habitável. Contudo, em 1893, durante a Revolta da Armada contra o governo de Floriano Peixoto, Paranaguá foi transformada em praça de guerra, com fortificações e militares defendendo a cidade.

A Chácara da Lucinda foi escolhida como posto de comando das forças leais ao Governo de Floriano com trincheiras e canhões Krupps instalados da Costeira ao Rocio. Em 10 de janeiro de 1894, eclodiu uma revolta de Guardas Nacionais simpatizantes dos revoltosos, tentando sabotar a resistência e permitir o desembarque da esquadra sem combate.

O atraso na partida da esquadra, devido a chuvas, permitiu a reação do governo, que prendeu os revoltoso e retomou a Chácara. Contudo, a ação resultou em mortos e feridos.

No dia 13 de janeiro, a esquadra revoltosa chegou a Paranaguá, tomou a cidade após intensos combates e aprisionou o comandante Eugênio de Melo.

A Chácara da Lucinda foi destruída pelos canhões da esquadra e permaneceu em ruínas por décadas. Essas ruínas, agora alvo de escavações por pessoas em busca de tesouros deixados pelos Jesuítas, devem ser preservadas, pois representam uma parte importante da história das lutas civis que marcaram a formação do regime republicano no Brasil.

Infelizmente, a ruína da Chácara da Lucinda não foi preservada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e foi destruída para abrir uma nova rua na Costeira.

E você, leitor, sabia que houve essa batalha em Paranaguá?

Eu nem imaginava, mas fui até a Costeira para tentar encontrar algum vestígio das balas.

JUNIOR, Nascimento. A Casa Baleada, Pguá, v. 1, n. 1, p. 1-35, 1 abr. 1953.

Imagem: Família Castilho, Rua Ermelino de Leão, costeira

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Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior é pesquisador de história e genealogia, formado em Teologia e licenciado em História. Faz parte da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia e do Departamento Cultural do Club Litterario de Paranaguá, sendo também sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Atua em projetos históricos de resgate de memória, livros comemorativos e biografias, além de projetos museológicos e pesquisas documentais para segunda cidadania. Seu mais recente trabalho foi o livro comemorativo dos 100 anos da Associação Comercial Agrícola e Industrial de Paranaguá.