Por: Kátia Muniz
Muito bem, aí está você, indo para mais um dia de trabalho. A vida? Sem sobressaltos. Contas em dia e saúde idem. Os dias mornos e iguais. Basta arrastá-los.
A porta do elevador se abre e ela entra. Você não a procurou, nunca a viu na vida, mas ela foi responsável por fazer suas pupilas dilatarem e por dar um ritmo diferente ao seu calendário.
Manhã seguinte, seu coração se encontra acelerado. Na outra, também.
Você segue desejando que o elevador entre em pane para ter horas a mais com ela. Ela quem? “Mariana. Ela respondeu.”
Mariana era o seu último pensamento ao deitar e o seu primeiro ao acordar. Mariana era sua falta de concentração e sua ansiedade. “Se ela não vier, hoje?”. “Se a porta do elevador abrir e ela não estiver ali?”. Estava. Dessa vez, de sandálias vermelhas. Seu fetiche, seu desejo inconfessável, seu segredo jamais revelado.
Você não sabia se avançava, se recuava, se dava alguma pista do sentimento ou se ficava de boca fechada. Achou melhor não mexer nenhuma peça. Deixou tudo como estava. Nenhum passo. Afinal, de dias iguais você entendia, o que estava difícil de lidar era com a turbulência de pele clara contrastando com as sandálias vermelhas.
Mariana era sua paixão platônica, era sua vontade, seu sonho, seu desejo, seu desassossego. Mariana era seu sorriso largo, sua vivacidade, sua euforia. Mariana era aquele rebuliço todo que o revirava por dentro.
Por ela, você alterava seus horários, provocava encontros casuais, armava acasos e arquitetava possibilidades para vê-la.
Mariana ficou guardada no coração, fruto de um sentimento que chegou fora de hora.
Dolorido, mas acontece. Tem amor que a gente carrega dentro do peito, sem nunca ser verbalizado.