São nove horas. A máquina de lavar está no modo centrifugação. Uma pessoa liga o aspirador de pó. Outra, o liquidificador. Há um apartamento em obra ─ profissionais quebram, arrastam e amontoam os resíduos da destruição. Indivíduos conversam enquanto esperam o elevador. A porta do elevador se abre. Na moradia de cima, a mulher usa salto alto. O passarinho bem-te-vi canta na árvore. Gatos miam. Jovens gargalham. A furadeira está em ação. A descarga do vaso sanitário é acionada. O interfone toca. O porteiro avisa que há correspondência. No fogo, a panela libera o barulho da pressão. O peixe frita no azeite quente. A empregada grita avisando que é hora do almoço. Talheres, pratos e bocas cumprem o ritual. Um copo cai e quebra. Palavrões ecoam. A vassoura varre o piso. A água lava a louça. Um televisor é ligado. A batedeira também. O zelador lava a calçada. Uma mulher espirra. O bebê chora. Crianças brincam no parquinho. Os meninos jogam uma partida de futebol na quadra. Goooool! O motor da caixa d´água é ativado. A porta de entrada do edifício bate forte. Um cachorro late. Vários cachorros latem. A vizinha ouve “Dreams” da banda Fleetwood Mac. No corredor, alguém derruba o molho de chaves. O homem fala ao celular. O avião rasga o céu. A motocicleta passa rapidamente. O carro buzina. O condutor xinga um transeunte. O caminhão de bombeiros liga a sirene. Alguém canta no chuveiro. O secador de cabelo é ligado. Há passos na escada de emergência. Do piano, ouve-se uma melodia. A campainha soa. Um homem tosse. Um casal discute. O céu escurece e chove. O vento uiva. Há trovões e relâmpagos. O portão de entrada das garagens é acionado. Um carro freia. Famílias conversam no jantar. A noite pede calmaria. As janelas, aos poucos, são fechadas. As cortinas se mantêm cerradas. As luzes se apagam. Os sons repousam. O silêncio vira um bálsamo. Fim de mais um dia no condomínio. São vinte e uma horas.
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Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.