Por: Kátia Muniz
Ao pesquisar o termo afonia, problema do qual fui acometida de repente, descobri que se origina do grego Alphonia, cujo significado é perda da voz. Há pessoas assim como eu, que vão a fundo na reflexão sobre todas as coisas que lhe acontecem, tentando driblar determinada situação de maneira que a torne suportável.
Assim, pensei em como lidar com o ciclo sem poder ouvir a minha voz. Afinal, estava ciente de que isso era o resultado da mudança climática abrupta, pois, em um dia, enfrentamos altas temperaturas como se estivéssemos no verão; em outro, tiramos do armário gorros, cachecóis e outras peças afins. É perceptível que as estações do ano, há tempos, já não se encaixam por completo no período em que foram preestabelecidas. Saltam perdidas, fazendo visitas inesperadas em datas que não as reconhecemos, como aquele clima de verão em pleno inverno. Que organismo resistirá a essa dança das cadeiras e a esses impactos bruscos?
Portanto, nobre leitor, saiba que esta crônica nada mais é do que o meu anseio em liberar as letras, pois se não falo, pelo menos escrevo.
Na fase inicial da afonia, vaguei pela casa com todas as palavras aprisionadas na garganta. Na sequência, passei a gesticular muito mais do que o habitual e fiz uso de mímicas no afã de ser compreendida. O corpo em movimento buscava traduzir, sem muito êxito, o que gostaria de expressar verbalmente. Precisava encontrar uma saída daquela agonia. Foi então que abandonei a desastrosa ideia de me fazer entender por gestos e comecei a circular pelos cômodos com um caderninho. A caneta se transformou no giz de lousa com linhas.
Mas queria conversar, promover diálogos. E não demorei a perceber que era praticamente impossível passar para o papel tudo o que queria dizer. Emudecer não combina com as mulheres, nós que, por natureza, somos na grande maioria, tão impulsivas no quesito comunicação.
No exato momento em que este texto ganha forma, ainda me vejo fazendo mergulhos no silêncio. Finalmente, uma saída mais condizente. Diante do computador, digito, freneticamente, como se transferisse as minhas cordas vocais para as teclas. De algum modo, inexplicavelmente, ouvir o som do teclado, foi gerando em mim conforto e alívio.
Mais tarde, quando este texto for publicado, a minha voz, com certeza, estará restabelecida. Gastarei as palavras sem nenhuma economia, dando a elas a alforria que tanto merecem.
A afonia gerou o silêncio da voz, mas a escrita não me deixou calar. Escrever salva. Melhor ainda quando vira crônica.