O amor não é linear. A gente não ama da mesma forma todos os dias.
Amamos, mas há dias que a gente não quer ver o outro, quer conversar o mínimo possível, quer silêncio, quer um espaço, quer uma paz individual.
Há dias que as mensagens no WhatsApp se fazem desnecessárias, ligar nem pensar e assistir a um filme juntos não é uma boa ideia.
Há dias que o amor veste a roupa da raiva, da mágoa, do descontentamento, do desconforto, da desilusão, do me deixa em paz.
A gente ama, mas quer fazer uma viagem sozinho, quer fazer um programa com as amigas, quer jogar um futebol com a turma do trabalho, quer um respiro, uma quebra de rotina.
Amamos também quando temos vontade de sumir, de chutar o balde, de programar a vida de um jeito diferente.
Tudo isso confunde, deixa a gente pensando que o amor fez as malas. Mas, quando ajustamos o foco, entendemos que, muitas vezes, o amor é contraditório. Faz looping na montanha-russa dos sentimentos, mas depois o carrinho desacelera e estaciona no trilho.
Porque há dias em que o amor parece não ser amor, mas ainda é.
A bagunça toda é só por um momento, um período, uma data, uma fase. Passada a turbulência, as mãos são dadas e a vida segue.
Amor só não é amor quando se instala o tanto faz: tanto faz se um bom-dia foi dado, tanto faz se o outro está gripado, tanto faz se vai trabalhar ou se é o dia da folga, tanto faz se comeu ou se está de dieta.
Tanto faz se está em casa ou não, se vai sair ou está chegando, se está vestido ou se está nu.
O tanto faz são olhos acostumados. Olhos que já não mais enxergam o outro.
Tanto faz é você não mais pertencer, não estar mais inserido no contexto, é não fazer falta, é saber que o outro não sente a tua presença e já não mais percebe a tua existência.
Tanto faz é a morte do amor, mesmo com o outro ainda respirando.