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Crônicas

No supermercado

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Por: Kátia Muniz

Quando alguém diz que faz tempo que não me vê pessoalmente, costumo mencionar, em tom de brincadeira, que para me encontrar basta ir ao supermercado.

O supermercado é, sem dúvida nenhuma, o local que eu mais frequento. Inevitavelmente, piloto o carrinho de compras de duas a três vezes por semana.

Tempos atrás, comprei 4 galões de água mineral de 6 litros. Quando estava acomodando todos eles dentro no carrinho, uma pessoa conhecida, porém sem ser íntima, me abordou. No meio da troca de meia dúzia de palavras, acrescentou: “Vai passar um tempo no deserto, Kátia?”. 

Tenho um problema sério: não consigo disfarçar o que estou sentindo. Minhas expressões faciais denunciam. Desta vez, não foi diferente. Estava nítida, no meu rosto, a desaprovação da invasão alheia.

No entanto, como tudo nesta vida tem algo a nos ensinar, percebi, naquele exato momento, que as compras feitas no supermercado possuem uma dimensão reveladora.

O nosso estilo de vida e a nossa rotina alimentar estão ali. Os mais indiscretos podem ficar sabendo sobre a nossa intimidade, por exemplo: o papel higiênico que utilizamos;  a lâmina acoplada em um estojo cor-de-rosa, usado para depilar; a quantidade do nosso fluxo menstrual, de acordo com a embalagem adquirida; e ainda, a qualidade do sabonete que desliza pela nossa pele na hora do banho.

Há um bebê na residência? O carrinho aponta: fraldas, chupeta, lenços umedecidos, algodão, papinhas industrializadas, leite em pó…

Passou pelo açougue e comprou carne moída, devidamente, separada em porções? Conseguimos imaginar qual será o seu cardápio durante a semana: almôndegas, um refogado com batatinhas, bolinho de carne, molho à bolonhesa para uma deliciosa macarronada…

Compras contendo várias frutas e verduras? Vamos deduzir que a pessoa possui hábitos alimentares saudáveis. Por outro lado, se há mais embalagens de produtos industrializados, somos levados a pensar que não existe uma preocupação com a saúde e, tampouco, com a balança.

Assim como, é possível ter uma noção do futuro teor alcóolico que seu corpo atingirá, no fim de semana. Para isso, basta observar a quantidade de cerveja, vinho e vodca acondicionados, com o devido cuidado, dentro do carrinho.

Se, por ventura, algum item não foi detectado, a esteira do caixa cumprirá essa função. Qualquer produto fica visível na “passarela” antes do registro de preço.

O que se conclui: indubitavelmente, a nossa exposição não fica somente a cargo das redes sociais.

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