Crônicas

Mulher detalhista

Por: Kátia Muniz Meu amigo, permita-me dar um conselho: não se apaixone por uma mulher detalhista. Desconsidere o alerta, caso também seja obcecado por detalhes. Do contrário, fuja enquanto é ...

Kátia Muniz

Kátia Muniz

Por: Kátia Muniz

Meu amigo, permita-me dar um conselho: não se apaixone por uma mulher detalhista. Desconsidere o alerta, caso também seja obcecado por detalhes. Do contrário, fuja enquanto é tempo.

Ela tem olhos de lince, enxerga o que ninguém mais vê, percebe minúcias e vai gastar horas analisando as frases que o companheiro disser.

Além de tudo, fareja, faz links, encaixa uma coisa na outra, é praticamente um Sherlock Holmes de saias. Como se não bastasse, ainda é articulada, esperta e rápida. Joga a rede, e a pessoa cai. 

Já reparou no jeito que a mulher detalhista olha para você? Ou melhor, ela não olha, mas sim o devora. Parece que investiga por dentro, que sabe os seus segredos e vasculha o seu pensamento. A prova disso é quando está pensando com seus botões e ela verbaliza exatamente aquilo que passa pela sua cabeça. Que medo!

A pior parte? Sente-se para ouvir. Ela sabe de cor e salteado todas as datas que você, coitado, não será capaz de lembrar nem com um curso intensivo de memorização, como a data do primeiro beijo, a que fizeram amor pela primeira vez, quando disse que a amava, ou seja, a data disso ou daquilo. Tem mais: sabe a roupa que você estava usando em cada um desses dias, assim como o vestuário dela também.

Prepare-se, pois chegará o dia em que estarão no supermercado e, entre uma gôndola e outra, irá encará-lo e perguntará à queima-roupa: “Que dia é hoje?”

Imediatamente, você se engasgará com a saliva, tossirá, ficará roxo, enquanto ela estará impávida esperando a resposta. Óbvio que a detalhista não está perguntando se é terça, quinta ou domingo, mas quer saber se deu importância para o fato que ocorreu naquele respectivo dia. Lembre-se da comemoração, criatura. Rápido!

Com o cérebro em pane o sujeito tenta conectar os neurônios: “Aniversário de namoro? Aniversário de noivado? Aniversário de casamento?”

Oh, céus! Não acredito que não levou a sério o meu conselho, no primeiro parágrafo do texto, e casou com essa mulher.

Mas eu entendo, a detalhista carrega um fascínio. Antecipar-se aos fatos, prever as coisas, isso faz dela uma pessoa à frente do tempo, deixando aquela impressão de que, enquanto todos estão indo, ela já está voltando. É natural que não tenha resistido a todo esse encanto.

Por via das dúvidas, deixarei mais um conselho. Espero que esse, especialmente, você siga: a fim de evitar tantas noites dormindo no sofá e poupar teus ouvidos, use bloco de notas, agenda física ou agende no celular os lembretes. Não esqueça, para o teu bem, anote.


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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.

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