Cada vez mais ouvimos mulheres dizerem que não querem ter filhos. Algo impensável tempos atrás. Mas, hoje, elas ganharam voz e conseguem expor seus reais desejos, sem precisar repetir o mesmo script de vida de suas mães e avós.
Geralmente, são mulheres independentes e estão girando a roda dos gerúndios: trabalhando, produzindo, estudando, rompendo barreiras e paradigmas, viajando, vivendo.
Seguras, canalizam a energia para diversas outras áreas em que a maternidade passa longe. Algo errado nisso? Nada. Cada qual com suas escolhas e seu livre arbítrio.
Apesar de muitas mulheres estarem potencialmente preparadas para a condição materna, não querem e não se veem em hipótese alguma entre, fraldas, chupetas, educação, tempo e tudo que faz parte desse universo. Uma decisão legítima, uma vez que também há uma infinidade de mulheres que se tornaram mães sem entender até hoje o porquê e, por consequência, vivem num mar de reclamações e lamentações que vão respingar e interferir, de alguma forma, na criação de seus filhos.
A natureza não é justa com a mulher quando nos força a ter que fazer uma escolha tão séria e importante no auge do processo de conquistas pessoais e profissionais. Não bastasse, no caso da maternidade, é preciso encontrar um parceiro que esteja disposto a ser pai, mesmo que seja para seguir junto ou não.
Se a natureza flexibilizasse, poderíamos engravidar aos cinquenta e poucos, com a vida profissional estabilizada e o mestrado ou doutorado concluído no currículo, sem a preocupação da data de validade dos óvulos. Assim, poderíamos nos dedicar aos pequenos sem precisar terceirizar a educação.
Como não é isso que acontece, pois o relógio biológico promove um desgaste emocional implacável, é preciso dizer “sim” ou “não” para a maternidade. O que em hipótese alguma gera garantia de que foi feita a melhor escolha.
Mas (e sempre há um “mas” no meio do caminho) é que costumamos não seguir com a mesma opinião ao longo de uma vida inteira. Aos quinze pensamos de um jeito, aos vinte e cinco de outro e aos cinquenta podemos adotar uma postura e visão de mundo tão diferentes que, em certos momentos, nem chegamos a nos reconhecer.
Portanto, a decisão de não ser mãe aos trinta pode sim sofrer abalos aos quarenta e cinco do segundo tempo e, é possível, que não haja mais prazo hábil para a concretização desse desejo.
Adoção? Claro, mães de coração. Possibilidade que permite exercer a maternidade em qualquer idade, mas, aqui, falo da maternidade biológica.
Como não há bola de cristal para saber se a decisão de hoje será a mais acertada lá no futuro, cabe seguir em frente e torcer para que, depois de todos os anseios para obter estabilidade tiverem sido realizados e o tempo frenético da juventude ter ficado para trás, a mesma certeza das suas escolhas persista acompanhando seu caminho e que o arrependimento não venha bater à porta.
Por: Kátia Muniz