A análise em frente ao espelho segue minuciosa. Testa, pálpebras, olhos, nariz, bochechas, boca, queixo. Nada escapa ao meu olhar sempre atento.
Observo a foto que seguro em uma das mãos. Uma versão mais nova de mim. Vinte e poucos anos, eu acho. Lembro da pergunta feita recentemente por uma grande amiga: “Você trocaria a idade recém-inaugurada por uma volta aos seus vinte anos?”.
A resposta veio sem nenhuma hesitação: “Jamais”.
A minha pele trazia um frescor, os meus cabelos eram mais fartos do que são agora, a minha flexibilidade corporal era maior e eu bem sei que não caibo mais no tubinho preto da década de 90. Mas nada disso me causa sofrimento. As mudanças internas é que merecem comemorações.
Ao longo dos anos, fui abandonando muitas inseguranças, ainda carrego algumas, suficientes para eu não me moldar às certezas.
Também joguei fora medos tolos que atravancavam minha liberdade de viver.
Trago comigo alguns sonhos, com a consciência de só me deixar acompanhar por aqueles considerados alcançáveis. Não tenho mais tempo para projeções em longo prazo.
Demorei muito até entender que o momento vale ouro e que a vida passa a ter outro sentido quando, finalmente, levamos a sério o aqui e o agora.
Não há mais espaço para “amanhã eu faço”, “amanhã eu vejo”, “amanhã eu decido”. O amanhã é um dia que ainda não nasceu. Não merece vir com o fardo das minhas procrastinações.
Agarro as oportunidades com abraços de urso. Não serei tola de abandonar os acenos de dias melhores, daqueles dias diferentes que vão quebrar a minha rotina.
Nunca aprendi a nadar, por isso me apavoro até em piscina de criança. Porém na vida, eu mergulho, dou minhas braçadas. Crawl, costas, livre, borboleta. Encaro as modalidades que os momentos me trazem. Ora em mar calmo, ora em mar revolto.
Sou a mulher mais feliz do mundo com um livro nas mãos. Divirto-me à beça ao cantar num inglês sofrível “Iris”, do Goo Goo Dolls. Amo filmes, músicas e a escrita.
Sempre fui mulher de palavra e, de um tempo para cá, “das palavras”. Encontre-me nos versos e nesse emaranhado de letras que buscam sentido.
De todas as versões que habitam dentro de mim, aprendi a amar essa também, que continua investigativa, sondando as mudanças estéticas, enquanto sabe muito bem que a maturidade traz um frescor interno que espelho nenhum consegue captar.