Por: Kátia Muniz
Algumas datas costumam garantir vários temas para os cronistas. Com a proximidade do Dia de Finados, comecei a refletir sobre homenagem póstuma, distinção concedida àqueles que, de algum modo, se notabilizaram, pois fizeram algo de relevante para a sociedade ou imprimiram a sua marca em algum feito.
Os homenageados podem ser agraciados de diversas maneiras, para as quais há inúmeros exemplos: por meio de bustos; de nomes em ruas, escolas, teatros ou praças; além de filmes; de obras literárias; entre outros.
Em vida, são possíveis distintas formas de reconhecimento, como: votos de congratulações, concessão de honrarias ou felicitações pelas realizações importantes.
Tudo certo, muito bonito, mas sou tomada por um incômodo quando penso na possibilidade de a valorização não acontecer durante a existência, somente depois que o indivíduo morre, na maioria das vezes, nem isso.
Ponho-me a pensar como esses seres humanos ficariam felizes com a consideração, com o gesto, com o ritual que inclui tanto tornar-se ciente dessa consagração quanto receber o convite para comparecer a uma solenidade destinada a celebrar sua trajetória ou algum outro ato que demonstre essa deferência.
Sendo eu, uma fervorosa defensora da exteriorização dos sentimentos, acredito que no decurso da vida tudo fica mais divertido.
Imagino que as pessoas consagradas queiram dar vazão às suas emoções, ouvir os discursos e preparar o próprio, sentir o perfume das flores recebidas, desfrutar dos aplausos, distribuir abraços, escolher o melhor lugar para expor diplomas, medalhas, prêmios, troféus ou qualquer outro agraciamento, seja ele pomposo ou singelo.
É possível que queiram ter a sensação do coração explodindo no peito ao escutar o próprio nome ser mencionado por quem conduz a cerimônia, frio na barriga, euforia registrada no semblante e tudo que de melhor possa transbordar em um momento tão especial.
Que em vida sejam ofertados votos e felicitações, expressões de ternura, telefonemas inesperados, mensagens carregadas de carinho, intensidade de afeto.
Homenagens póstumas são bem-vindas, claro, mas muitas vezes funcionam como reparação a uma falha que poderia ter sido executada quando a pessoa ainda estava entre nós. Isso é sempre uma pena, pois as emoções que poderiam ter sido externadas, seguem sepultadas.





