Crônicas

Deserto Particular

Deserto Particular é uma crônica filmada. É lento, possui longas cenas, fala sobre o amor em tempos atuais, a influência das redes sociais nesse processo (no caso do filme, a rede é o whatsApp) e uma infinidade de outras questões mais complexas

coluna crônicas

Por: Kátia Muniz

Muito difícil falar sobre o filme Deserto Particular sem dar spoiler. Não cometerei essa deselegância com quem ainda não o assistiu. Aliás, acho que o próprio trailer do filme entrega o ouro, o que acaba dividindo o telespectador entre o aguçar a vontade de vê-lo e o afugentar, dependendo, claro, da interpretação e visão de mundo de cada um. 

Achei lindo! Primeiramente, pela feliz escolha do título. Agora, você experimente, ao terminar de ver o filme, reler, mentalmente, o título e, só aí, perceberá o quanto é apropriado!

Deserto Particular é uma crônica filmada. É lento, possui longas cenas, fala sobre o amor em tempos atuais, a influência das redes sociais nesse processo (no caso do filme, a rede é o whatsApp) e uma infinidade de outras questões mais complexas que nos são apresentadas todos os dias.

Interessante ver o que a dinâmica e o poder, na troca de mensagens, são capazes de promover nas personagens principais. E é pegando esse gancho do filme que vou discorrer agora. 

Quantas pessoas buscam, desesperadamente, preencher o vazio de uma parte que lhes falta com mensagens que, naquele momento dão conta de amenizar períodos conflitantes, mas que, se a estrutura emocional não estiver forte o suficiente, vê-se aí um terreno fértil para a ilusão e a construção de um lugar de fuga.

É óbvio que se torna mais fácil impressionar pela tela de um smartphone. Recursos, como filtros em fotos, vídeos, tempo para escolher as palavras antes de responder, esses são só alguns exemplos dessa prática. Mas quando a paixão virtual se instala, automaticamente, a vontade de se ver começa a pulsar. Hormônios em ebulição não se satisfazem por completo diante das telas tecnológicas, pelo menos quando o desejo já está instalado e pedindo o toque entre os corpos.

É preciso saltar para o mundo presencial e se deparar com a realidade bruta, sem artifícios e lapidações. Tudo ali escancarado e instigando o poder de escolhas e decisões.

O que nos é apresentado bate com o que idealizamos na área do virtual ou frustra totalmente nossas expectativas?

De que mais trata o filme? Dos nossos desertos, das nossas angústias, do que protelamos para resolver e, quando nos damos conta, virou uma bola de neve. Trata ainda daquilo que tira a nossa paz, rouba o nosso sono, desestabiliza o nosso emocional, das pancadas que a vida nos dá. Fala também de respeito, empatia, aceitação, dor, amor. O amor tentando quebrar escudos de proteção e blindagem de sentimentos, não só do amor romântico, mas da aceitação do outro na sua essência. 

Deserto Particular nos oferta uma baita aula sobre a vida, disponível para todos aqueles que estão dispostos a aprender. 

Deserto Particular

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Deserto Particular

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.