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Crônicas

As cartinhas

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coluna crônicas

Estamos cada vez mais sobrecarregados de afazeres. A jornada profissional não termina quando saímos do trabalho. Ela continua, pois uma vez conectados com a tecnologia, somos encontrados a qualquer hora e momento. A menos que se desligue o celular ou não se veja a caixa de e-mails, o que é uma medida paliativa, pois as mensagens continuarão chegando. 

O bom senso se perdeu com a chegada da era digital. Lembro que, tempos atrás, era falta de educação ligar para a casa de alguém depois das 22 horas. Qualquer ligação que entrasse após esse horário era motivo de o coração sobressaltar, porque já pensávamos o pior. Hoje em dia, com a facilidade do WhatsApp, não há descanso, não importa o horário.  

E diante do sufoco da agenda abarrotada, chega o mês de dezembro para aplicar o último teste de resistência. Tudo o que foi protelado, ao longo do ano, precisa ser resolvido agora. Há uma urgência em zerar compromissos. Sentimo-nos pressionados com os recessos de fim de ano das repartições públicas, das clínicas médicas e outros serviços. Apressamos o passo para que consigamos liquidar antes. 

Enquanto os adultos correm de um lado para o outro, as crianças terminam o ano letivo e têm uma preocupação em mente: o que vão ganhar no Natal?

Então, nessa época, entra em cena uma tradição que resiste ao tempo e à tecnologia. Nada de tablets, computadores ou celulares. As crianças precisam de papel e caneta. Para quê? Escrever as cartinhas para o Papai Noel. 

Estas, invadem o século XXI e dão um tempo na digitação eletrônica. É preciso escrever, escolher as palavras, pensar no que será escrito, caprichar na caligrafia e expressar sonhos e desejos. 

Fico a imaginar a criança arrancando uma folha do caderno, acomodando-se em um lugar, segurando a caneta ou o lápis e liberando as palavras da inocência. Depois, endereçando o envelope para o Polo Norte e aguardando ansiosa que seu pedido seja realizado.

Por falar em pedido, também morro de curiosidade em saber o que elas pedem. Talvez emprego para o pai, material escolar, boneca, carrinho, skate, bichinho de estimação, calçado, saúde para a família, bola, celular, casa, ou quem sabe, um pai mais presente e carinhoso e uma mãe que não trabalhe tanto. Quantos pedidos cabem numa mente infantil? Quantos desejos as crianças almejam? 

Enquanto isso, torço para que Papai Noel leia esta crônica, pois preciso dizer a ele que não se renda à tecnologia. Continue a preservar essa magia que invade as crianças e os adultos num tempo em que quase tudo é substituível e descartável. E que, entre um afazer e outro, a gente não desvie o olhar daquilo que é realmente belo.

Feliz Natal a todos!

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