Crônicas

Aos 40

Por: Kátia Muniz Chega um momento em que as mulheres começam a se questionar sobre a vida. Não generalizemos, mas a maioria se fecha para balanço. Essa fase ocorre por ...

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Por: Kátia Muniz

Chega um momento em que as mulheres começam a se questionar sobre a vida. Não generalizemos, mas a maioria se fecha para balanço. Essa fase ocorre por volta dos 40 anos. Para algumas acontece entre os 37, 38, 39, outras aos 41, 42 ou 43, mas fica por aí, rondando os 40. Elas param e começam a refletir sobre tudo e, nesse período, é raro as que não promovam mudanças significativas em suas vidas. 

Essas transformações podem começar sutilmente com um corte de cabelo mais ousado, uma tintura, umas luzes para dar uma iluminada e disfarçar os brancos que insistem em aparecer. As sedentárias de carteirinha resolvem começar a se exercitar, compram um tênis novo e partem para as caminhadas ou encaram uma academia. Como são insistentes, os resultados no corpo começam a surgir e elas vão se sentindo cada vez mais motivadas, femininas e bonitas. Compram cremes e mais cremes para celulites, contra rugas, flacidez ou qualquer um que tenha escrito “anti” alguma coisa na embalagem. Muitas se entregam aos divãs, vão remexer o passado, o que incomoda, as culpas e, depois de um tempo, começam a se sentir seguras, firmes e leves. Com segurança, arriscam-se a ir sozinhas ao cinema, marcar mais encontros com as amigas para simplesmente jogar conversa fora e sair um pouco da rotina: trabalho, marido, filhos.

Algumas são mais radicais e resolvem pôr fim àquele casamento que parecia eterno, mas que andava enfadonho demais. Afinal, elas aspiravam por momentos com mais emoção, frio na barriga, coração palpitando no peito, uma angústia em saber se o novo pretendente iria ligar ou não, mesmo que causasse desconforto, mesmo que sofresse um pouco, pois até disso vinham sentindo falta, uma vez que há tempos não têm experimentado tais sentimentos. 

Sabem que a expectativa de vida aumentou e, nesse aspecto, saem com uma larga vantagem na frente dos homens. Elas querem viver, e de preferência bem. Anseiam chegar, no mínimo, aos 80 anos, mas com saúde, vigor, conseguindo sentar e levantar sem tanto esforço e, para isso, resolvem se mexer com 40 anos de antecedência. Talvez esteja aí o motivo dessas mudanças.  É como se essa idade representasse a metade da vida. Antes disso, foi possível brincar, estudar, trabalhar, ser inconsequente, errar e acertar nas decisões, namorar, sofrer desilusões, procurar uma estabilidade financeira, casar e ter filhos. E se formos comparar a uma peça de teatro, diríamos que se completa o 1º ato. Depois dos 40, o 2º ato tem início e o espetáculo realmente vai começar. Cada uma segue como personagem principal de sua vida, procurando extrair dela o que há de melhor, corrigindo o que for preciso, mudando uma coisa aqui, outra ali, fazendo escolhas e procurando cometer mais acertos do que erros. Por esse motivo, foram feitos tantos ensaios. Ainda há muito pela frente, fatos importantes serão acrescentados à peça. Prossigam! Mas é importante também não esquecer que as cortinas um dia se fecham e o espetáculo acaba. No fundo, o que todas esperam é que realmente o ingresso tenha valido a pena.

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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.