Tamborilo os dedos na bancada, enquanto penso em um assunto para escrever. Imagino que a cena seja corriqueira na vida de quem tem como ofício a escrita.
Nem sempre as ideias surgem, os parágrafos saltam para o computador e as mãos deslizam ágeis nas teclas.
Existem pausas que geram angústias. Ter um prazo para a coluna do jornal e não conseguir um tema palpitante para que o leitor não me abandone é somente uma delas.
Então, saio de casa na esperança de que os acontecimentos lá fora me tragam algo de novo. Mas a vida tem essa mania de se repetir e seguir seu curso. Os protagonistas, inseridos na vida, são os que fazem suas estreias nas mais diversas situações.
Há sempre o primeiro dia de trabalho, o primeiro beijo, o primeiro encontro, a primeira viagem, a primeira vez daquilo que você acabou de imaginar, o primeiro amor.
Talvez o primeiro amor fosse a condição daquele casal de adolescentes, devidamente acomodados em um banco de praça.
Estavam tão envolvidos um com o outro que nem sequer perceberam a aproximação dos meus olhos de cronista. Pudera! Do tempo que estive a espreitá-los, gastaram boa parte trocando beijos regados a desejo.
De vez em quando, as bocas precisavam descansar. Nesse momento, encostavam a cabeça um no outro e contemplavam o rio Itiberê.
A cena dos barcos de pescadores indo buscar o sustento é maravilhosamente poética. Retrata o vaivém frenético, típico de uma manhã ensolarada, de céu azul e brisa suave da primavera.
Sentada em outro banco, esqueço, momentaneamente, as embarcações e volto os olhos para o casal. Ela diz algo para ele, que por sua vez, solta uma gargalhada, levanta rápido e a puxa desajeitadamente. Ela se ergue e se lança naquele par de braços abertos e receptivos que a esperam.
Depois, as mãos são dadas e eles seguem levando o amor lado a lado, enquanto o rosto denuncia aquele sorrisinho meio bobo, característico dos casais apaixonados. Passam por mim absortos, andando devagarinho, como se o resto do mundo não existisse e o tempo não exigisse pressa.
No instante em que os pescadores seguem rio afora para jogar a rede e apanhar os peixes, eu preciso do olhar atento para fazer recortes da vida e capturar momentos que serão traduzidos em palavras.
Hoje, a crônica é dedicada ao casal da praça, que, sem se dar conta, salvaram-me da página em branco do Word.
Por: Kátia Muniz
Leia também: Vai passar