Sempre acreditei na frase “nada acontece por acaso”. Tudo tem uma razão de ser, de entrar em nossa vida ou de sair dela.
Então, chega um vírus e nos dá uma rasteira daquelas. Como não sabemos lidar com o que é novo e totalmente desconhecido, pensamos primeiramente em fugir. Afinal, não encarar os problemas, empurrá-los para debaixo do tapete ou fazer de conta que não é conosco pode gerar aquela falsa sensação de conforto.
Feito crianças nos escondemos atrás da cortina, certos de que não seremos encontrados, mas esquecemos um detalhe: deixamos os pés à mostra.
Lá vem a vida e nos captura, esfrega diante dos nossos olhos o pânico, o mundo em caos, a luta pela sobrevivência e o momento em que temos que nos unir e acionar o espírito de coletividade.
Raça, crença, posição social, opção sexual, não importa. O vírus nivelou a todos. Colocou todo mundo no mesmo barco. Trancafiou a maioria em casa e restringiu os nossos hábitos.
Um isolamento com altas doses de insegurança e medo, juntamente com uma pergunta que não dá trégua: Quando tudo isso acaba?
A resposta é um silêncio, um abismo em que não conseguimos enxergar o fim. Mas sabemos que um dia passará porque a perenidade é relativa. É somente um vocábulo explicativo, que serve para lembrar justamente o contrário do que estamos vivendo, ou seja, que tudo tem seu tempo de validade, que nada é para sempre e também o quanto somos frágeis diante desse universo.
Compromissos cancelados, agendas adiadas, estudantes sem aulas, comércios com portas fechadas e uma quarentena que nos entregou “tempo”, aquele mesmo “tempo” que nos queixávamos de não ter e que agora não sabemos direito o que fazer com ele.
É possível que a palavra quarentena também soe como um eufemismo, um alento, uma esperança depositada em um período em que acreditamos que a casa estará em ordem. Enquanto isso, pedimos em oração, proteção aos profissionais de saúde que estão na linha de frente combatendo essa pandemia, lemos livros, exercitamos a capacidade de viver na quietude, fazemos uma viagem interna, revemos conceitos, encontramos os membros da família, aqueles que moram na mesma casa, os quais se veem, mas, diante da correria diária, nunca se olham com atenção. Além disso, espreitamos em telas de aparelhos eletrônicos, a luta por dias melhores, quando voltaremos à baila com alguns ensinamentos causados pela dor e sofrimento, que nos trarão, sem dúvida, um olhar diferenciado sobre as nossas precariedades em relação ao mundo.