Por Alexandre Camargo de Sant’Ana
Iniciei pesquisando a morte de Fernando Amaro e descobri muito mais: ele nasceu pobre, mas cresceu entre a elite parnanguara, aprendendo os segredos do comércio marítimo e sendo influenciado pela cultura erudita, desenvolvendo ao mesmo tempo seu lado negociante e seu amor pela poesia. Possivelmente tal ambiguidade gerou conflito entre ele e a família Pereira, o que explicaria a morte solitária e pobre em Morretes.
Apesar do sucesso em vida, acabou esquecido após falecer, sendo redescoberto por volta de 1900, quando a intelectualidade paranaense recuperava as origens literárias do estado. Mesmo em alta, houve espaço para a confusão no cinquentenário de morte, erroneamente organizado em 1906 e o deslize descoberto apenas a poucos dias da comemoração. Em 1907 ocorreram as homenagens, principalmente em Paranaguá. Também morreu Leocádia, apresentada como irmã do poeta.
A naturalidade do comunicado evidencia que o fato era conhecido na época. Nestes mais de 100 anos criou-se um mito em torno de Fernando Amaro. A relação com a família Pereira acabou apagada, prevalecendo a teoria de suas origens pobres, como se ele tivesse saído da miséria e alcançado o sucesso apenas por seu esforço individual. Vimos que é mais complexo. Provavelmente foi sua criação no meio da família Pereira que o transformou em comerciante marítimo e poeta. Além disso, as condições políticas (a nova província precisava engrandecer os seus artistas) e a influência dele entre as elites intelectuais e econômicas do litoral e de Curitiba, colaboraram para sua fama no século XIX.
Não desejo menosprezar o talento de Fernando, nem desmerecer o poeta, mas é necessário explicitar os contextos no quais ele se destacou, morreu, foi esquecido, redescoberto e teve sua história alterada. Assim nos aproximamos do homem por trás da lenda. Fim.
