Alexandre Camargo de Sant’Ana
Naquele ambiente insalubre, as doenças assolavam a cidade. Varíola em 1900 e peste em 1908. Em 1913, a disenteria matava os parnanguaras, levando à cidade o diretor de higiene do Estado, que após inspecionar alguns enfermos reconheceu a gravidade da situação. Baseado no conhecimento científico da época definiu a causa: o calor. Também chegou o chefe do laboratório estadual, mas somente em abril de 1914 os casos diminuíram. Na mesma época, a cidade foi atacada pelas cãibras de sangue, causadoras de uma morte por dia, pelo sarampo, atingindo as crianças, e pelas febres, estas principalmente na Cotinga e região, onde houve muitos mortos.
Para aumentar a tensão, um caso de varíola levou a equipe de desinfecção do departamento de higiene estadual até Paranaguá. O jornal local exigia um posto de higiene estadual com aparelhos “desinfectórios”. As autoridades disponibilizavam vacina, entretanto precisavam convencer a população. Em 1912, as crianças foram vacinadas como exemplo, porém quase dois anos depois as pessoas ainda não haviam aderido à vacinação e o jornal chamava a atenção dos moradores.
Os imigrantes e os pobres passaram a ser tratados como o problema para a saúde pública, mostrando não ser de hoje que a pobreza e os “de fora” são vistos como perigosos à sociedade. Os primeiros trariam as doenças do além-mar e os miseráveis fortaleceriam as epidemias com a sua "porqueira". Independente da miséria, a culpa seria deles, dizia o jornal, afinal, havia até distribuição de panfletos pelo governo. Quando o verão de 1914 se aproximava, a mídia exigia fiscalização severa sobre a população para garantir a higiene da cidade e obrigar o povo a seguir os ideais burgueses de salubridade, pois muitos cidadãos permaneciam com seus hábitos antigos e insalubres, inaceitáveis.
