Como vimos em textos anteriores, a ascensão da burguesia transformou as cidades europeias através de projetos urbanísticos modernizadores, alterando a área urbana rumo ao futuro, muito mais ordenado, limpo e saudável que as velhas cidades ainda medievais. Nesse processo também era necessário alterar a cidade humana, ou seja, os cidadãos deveriam mudar, abandonando hábitos insalubres e aceitando a padronização do discurso médico. Por outro lado, o governo prometia uma qualidade de vida melhor, com menos doenças, maior longevidade, etc. Em Paranaguá o modelo seguido foi o mesmo.
Após tantas dificuldades na busca pela modernização de Paranaguá, a inauguração da água encanada deveria ser uma grande festa. Entretanto, festividades são esquecidas rapidamente. Buscando evitar que seus méritos caíssem no esquecimento, Caetano Munhoz da Rocha trouxe um imponente monumento do outro lado do Atlântico, criado na mais importante fundição artística da história: a francesa Val D’Osne.
A escolha aconteceu em maio de 1913, através de catálogos incrivelmente detalhados e altamente realistas. Segundo o jornal local, tratava-se de “verdadeiro monumento”. O chafariz seria instalado no Campo Grande sobre um majestoso pedestal de pedra (construído pelo Sr. James Alexandre Grant por 3 contos de reis)e rodeado por um belo jardim arborizado. O mesmo jornal informou que o chafariz chegou em 2 de setembro, mas creio ter sido no Rio de Janeiro, afinal, a peça foi comprada através das Fundições Indígena, saindo da Capital para Paranaguá apenas no final do ano. Em novembro as obras do coreto e a base para assentamento do chafariz no Campo Grande estavam bem adiantadas e nos primeiros dias de 1914 tudo ficara pronto. Finalmente, a festa de inauguração do sistema de água aconteceria. Seria dia 18 de janeiro de 1914, domingo.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana