Foliões na rua

As proibições, em nome do projeto modernizador, alteraram a festa carnavalesca em Paranaguá no ano de 1913, reduzindo os foliões mascarados e esfriando a animação dos poucos que decidiram enfrentar a lei e sair com máscaras (mas parece ter havido vista grossa da polícia, pois não encontrei informação sobre abordagens ou prisões).

Não obstante a proibição de criticar pessoas diretamente, a legislação não acabou com a crítica na festa. Com muita inteligência e humor, alguns jovens ironizaram a demora da instalação do sistema de água encanada: a comissão utilizou canos de taquara e pelas ruas da cidade imitava o prometido assentamento dos canos. Mas, a maioria não foi assim. Diversos rapazes saíram fantasiados de “cow boy, por influência cinematographica, cavalgando fogosos ginetes” como nos filmes de Faroeste (Far West). Dois carros alegóricos transportavam “gentis senhoritas phantasiadas de italianas” e o “automóvel da família dr. Coelho Moreira apresentou-se todo enfeitado de rosas”.

Estreando sua participação no Carnaval de rua de Paranaguá, “o recém-nascido Club do Gira-Sól: fundado por uns cinco mortaes” colocou um “gramaphone, com a corneta semelhante ao heliotropus”, sobre uma padiola e executaram o mesmo disco continuamente. Rapazes de vários clubes da cidade desfilaram ao som da banda do 6.° Regimento, indo à residência do prefeito interino Alberto Gomes Veiga para homenageá-lo por seu aniversário.

A festa do Carnaval de rua na terça-feira começou cedo e bem animada, continuou assim o dia todo e chegou à noite no mesmo embalo. No final da tarde ainda existia intensa aglomeração e rebuliço pelas esquinas, com “renhidas batalhas de lança-perfumes”. Para finalizar, um grupo de Sírios executou músicas e danças de sua Terra Natal, matando saudades. Enquanto isso, os clubes preparavam tudo para mais uma noite de folia perfumada. 

Por Alexandre Camargo da Sant’Ana