Dentre as várias categorias de navios que ficaram famosos, certamente se destacam os navios de guerra e, entre esses, há inúmeras “belonaves” (nome derivado do latim “bellum” = guerra) que deixaram suas marcas, seja por terem combatido e ganhado suas batalhas, ou por as terem perdido. Comentaremos nestas linhas o Cruzador de Batalha “Admiral Graf Spee”, da Kriegsmarine (Marinha da Alemanha), que se tornou mundialmente conhecido pela sua triste participação na Batalha do Rio da Prata (Uruguai), no começo da II Guerra Mundial.
Lançado ao mar na Alemanha pré-nazista em 30/06/1934, levava o nome do Almirante Graf (Conde) Maximilian Spee, obedecendo ao Tratado de Versailles (pós 1.ª Guerra Mundial) que limitava o deslocamento e armamento dos navios alemães. Mesmo assim, e com alguns subterfúgios técnicos e introdução de solda elétrica na construção do casco, o Graf Spee deslocava 16.200 toneladas e portava seis imensos canhões principais com bitola de 280mm (11”), além de armamento de menor calibre. Também inovava no sistema de propulsão, usando oito motores diesel gerando 52.000HP para acionar seus dois hélices, ao invés de empregar caldeiras e turbinas a vapor, como seria a forma mais tradicional para potências elevadas.
No começo da II Guerra Mundial foi destacado para navegar nos oceanos abaixo da linha do equador, interceptando e afundando navios cargueiros ingleses e de seus aliados. Para isso disponha de suporte de abastecimento do navio petroleiro Altmark, também alemão, e com instruções para evitar embates com navios da Royal Navy, britânica. Após afundar nove navios mercantes nas rotas de grande tráfego marítimo, o Graf Spee foi tentar a sorte no Atlântico Sul, na entrada do Rio da Prata, estuário do nosso conhecido Rio Paraná entre a Argentina e Uruguai.
Deu muito azar. Foi detectado por uma força-tarefa que já o caçava há tempos, constituída pelo cruzador pesado HMS Exeter e pelos cruzadores ligeiros HMS Ajax e HMNZS Achilles. Num feroz combate de artilharia, tanto o Graf Spee quanto o Exeter ficaram bem avariados, levando o comandante do Graf Spee, Capitão Hans Langsdorff, a refugiar-se nas águas territoriais uruguaianas para tentar executar reparos de emergência, conforme permitiam as leis internacionais vigentes. Os britânicos, por outro lado, ficaram navegando em águas internacionais, fora do estuário, fazendo circular notícias (“fake news”) que mais navios ingleses estariam no caminho para ajudar na captura, ou derrota, do Graf Spee. Enganado pelas notícias circuladas, o Capitão Langsdorff afundou de propósito seu navio no Rio da Prata para que não caísse em mãos britânicas e, dias depois, suicidou-se, envolto, não na suástica nazista, mas na bandeira alemã de batalha.
Os restos do “Graf Spee” continuam até hoje nas águas do Mar del Plata, em águas de jurisdição argentina.
Paranaguá, 23 de março de 2021
Geert J. Prange – Engenheiro Naval
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