Você está aí, sem nada mais importante para fazer, gastando as horas enquanto desliza o dedo na tela do seu smartphone e confere o feed de notícias no Facebook. De repente, uma foto chama a sua atenção: seu ex com a atual namorada.
Seu coração dá um solavanco e suas pupilas se dilatam. A legenda da foto diz: “Feliz demais com você, meu amor”.
“Feliz demais?! Meu amor?!Não é possível! Não faz nem dois meses do nosso término e ele já está feliz demais e chamando outra mulher de amor?!”
Você dá mais uma conferida na imagem. Lá estão eles sorrindo com todos os dentes, cabeças encostadas uma na outra e um espaço enorme de sobra nas laterais da foto, nem precisavam se encostar tanto. Mas sabe como é o começo de um relacionamento, um grude só.
O mais sensato seria desligar o celular e ir dormir, mas você resolve dar início à “sessão de tortura”. Invade o perfil e a timeline da atual e começa uma busca frenética por fotos.
Você queria que ela tivesse o cabelo desgrenhado, uma pele sem viço, uns dentes tortos, um corpo desproporcional. Mas não. Ela é esguia, nasceu com um cabelo próprio para estrear comercial de xampu, o sorriso é lindo, a pele parece um pêssego e tem olhos azuis.
“Ah, Santa Luzia! Olhos azuis aí já é demais!”
Algum defeito. Você procura por algum defeito.
Pensa: “Deve ser burra feito uma porta”. Resolve dar uma conferida na graduação e engole seco. Ela possui doutorado em língua portuguesa. Uma mulher que sabe usar a próclise, a mesóclise e a ênclise.
“Não deve ser fácil conviver com uma criatura que diz ‘atrasar-me-ei uns dez minutos’. Quem é que fala ‘atrasar-me-ei’? Tenha santa paciência!”
Continua com os pensamentos a mil: “Já sei. Ela deve ser ruim de cama. Gastou a vida com a cara enfiada nos livros e esqueceu de aprimorar o lado apimentado. Mas pelo semblante de felicidade que o dito cujo posa ao lado dela, não parece que algo esteja lhe fazendo falta”.
Qual é o próximo passo? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três… Mandar um áudio gigantesco para a melhor amiga contando em detalhes o motivo da total destemperança.
Enquanto isso, a noite avança, os olhos não descansam e o coração dói como se uma flecha o tivesse atravessado.
Só há uma constatação: se incomoda tanto é porque ainda há sentimento.
