O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) indicou que os casos de feminicídio cresceram 22,2% entre março e abril deste ano, em 12 Estados do País, quando comparados com os dados do ano anterior. O crescimento da violência doméstica foi relacionado à pandemia de Covid-19. O litoral do Paraná registrou a morte de quatro mulheres por seus companheiros desde o início de 2020, sendo três casos em Paranaguá e um em Matinhos.
A delegada de Polícia, chefe do Nucria e responsável pelo atendimento de violência doméstica em Paranaguá, Maria Nysa Moreira Nanny, observa que os números não são maiores na região, quando observados os do ano passado. No entanto, eles se tornaram mais graves.
“Em Paranaguá, em termos gerais, os casos de violência contra a mulher não aumentaram em função da pandemia, mas se tornaram mais graves. Também devemos considerar a sensação de impotência que a mulher agredida vive ao não ter melhores referências para o pedido de socorro. Para as mulheres sem acesso à Internet e telefones celulares, o risco e vulnerabilidade são ainda maiores”, disse a delegada.
O último caso registrado no município foi o assassinato de Steffany Caroline da Silva, de 25 anos, morta pelo marido por golpes de uma peça de caminhão enquanto dormia. O crime ocorreu no dia 9 de junho no bairro Porto dos Padres.
Prevenção da violência
Segundo a delegada, a pandemia teve um impacto nos casos de violência contra a mulher no mundo inteiro, entretanto, os casos de feminicídio e também os de homicídio, não podem ser evitados pontualmente. “Demandam-se políticas públicas transversais – as que envolvem vários setores de governo, instituições, sociedade. A prevenção à violência de crimes contra a vida exige uma completa mudança social, moral e em termos de políticas públicas. Se for possível traçar uma correlação entre a pandemia de Covid-19 no Brasil e o feminicídio, seriam relativas à banalização da morte e displicência com os cuidados para uma vida feliz e saudável”, afirmou.
Para a delegada, infelizmente a sociedade brasileira se acostumou a conviver e observar os casos de violência. “As pessoas parecem nem ter receio de ser vítimas de um vírus ou de conviver com violência contra as mulheres. Pondero isso na medida em que pessoas saem às ruas sem cuidados com o uso de máscaras, distanciamento físico, que não se sensibilizam com as necessidades das pessoas durante o isolamento e esta falta de atenção parece ter a mesma origem da falta de empatia e acomodamento que se dá com a violência contra a mulher: tornou-se assunto de distração em noticiário”, pontuou.
Portanto, de acordo com a análise da delegada, a pandemia não é a causadora dos problemas, mas acentua aqueles que sempre existiram. “Da mesma forma que muitas mulheres podem ser mortas nesse período, muitas já foram mortas antes. A sociedade pode, e deve, preservar vidas impedindo feminicídios no momento em que assimilar e viver o respeito e dignidade merecidos pelas mulheres. Da mesma forma, a sociedade pode, e deve, preservar vidas impedindo o alastramento do contágio por Covid-19, entendendo que distanciamento, isolamento e quarentena expressam respeito e dignidade merecidos por todos”, destacou a delegada.
Denúncias durante a pandemia
As mulheres podem usar os meios já conhecidos de denúncia: 190 (Polícia Militar), quando o crime está acontecendo ou acabou de acontecer; 180 para denúncia de violência que já aconteceu; presencialmente noticiar o crime na Delegacia Cidadã ou em Batalhão da Polícia Militar solicitar a elaboração de boletim de ocorrência. Há, ainda, a possibilidade de fazer um boletim on-line no site da Polícia Civil: http://www.policiacivil.pr.gov.br/.