Na simplicidade de um ponto de ônibus localizado na Rua Conselheiro Corrêa, no bairro Bockmann, em Paranaguá, uma história de amor, luta e superação se mistura ao aroma irresistível de bolo caseiro. É ali que o casal Nely de Araújo Silva, de 64 anos, e Francisco Emílio da Silva, de 67 anos, encontrou uma nova forma de recomeçar a vida depois de enfrentar momentos difíceis.
Mais do que vender bolos, Nely e Chico compartilham com cada cliente uma verdadeira lição de vida. Eles mostram que, mesmo diante das maiores dores, o amor e a união são capazes de transformar dificuldades em esperança.
Recomeço com sabor de bolo
Casados há 46 anos, o casal enfrentou inúmeras dificuldades, principalmente após Chico passar por sérios problemas de saúde. Para complementar a renda, em março deste ano eles decidiram tentar algo novo.
“A gente começou vendendo chup-chup, por necessidade mesmo, no verão. Mas logo veio o inverno e pensei: já que sei fazer bolo, por que não tentar? Falei para o meu velho: vamos arriscar vender uns bolinhos. E assim começou. Primeiro pelo grupo do bairro, depois aqui no ponto de ônibus”, relembra Nely.
Atualmente, de segunda a sexta-feira, o casal vende em média 15 a 17 bolinhos por dia, a R$20,00 cada, além de atender algumas encomendas maiores. Mais do que garantir o sustento, os bolos representam para eles um novo começo.
“Sempre procurei vender alguma coisa em casa, fosse salgado, bolo em pedaço. Desde que me casei, nunca parei. Mas agora, com os bolinhos caseiros, a gente conseguiu ter uma renda certa. Eles têm ajudado muito a manter a casa”, conta Nely.
Momento de luta
A renda extra se tornou essencial depois que Chico precisou se afastar do trabalho. Aposentado, ele viu o orçamento encolher drasticamente, sobretudo por causa de empréstimos feitos durante o período mais delicado de sua saúde.
“Olha, os bolinhos têm sido uma bênção. Depois que ele amputou as pernas, a renda caiu muito. Foi difícil, precisamos até da ajuda de algumas pessoas. Mas hoje são os bolinhos que deixam as nossas contas em dia”, explica Nely.
A luta de Chico
Francisco dedicou a vida ao trabalho atuando em grandes empresas de Paranaguá. Porém, em 2020, sua rotina mudou completamente com complicações causadas por diabetes e trombose.
“Era muita dor, eu chorava a noite inteira. Amputei uma perna em 2020 e a outra em 2021. Fiquei cinco dias na UTI, tive duas paradas cardíacas, mas sobrevivi. Hoje, graças a Deus, a dor passou e a vida segue”, relembra Chico.
Apesar das adversidades, ele escolhe a gratidão. “Eu não reclamo de nada. Tudo eu agradeço a Deus. A vida é cheia de obstáculos, mas a gente tem que aceitar e seguir em frente. Graças a Deus, a ideia dos bolinhos deu certo e estamos aqui”, afirma.
Um amor que sustenta
Ao falar da esposa, Chico não contém a emoção diante do carinho e da dedicação recebidos ao longo de todos esses anos. “Ela é uma bênção. É minhas pernas, meus braços, tudo. Sempre me ajudou em tudo. Antes, me empurrava na cadeira de rodas até o centro da cidade. Agora, com a motorizada, ficou mais fácil, mas ela continua sendo meu apoio. Eu amo ela”, diz.
Nely, por sua vez, resume com simplicidade a força dessa união. “A gente passou por muita coisa, mas sempre juntos. É o amor e a fé em Deus que sustentam nossa família”.
O casal tem três filhos, Jean, Alberto e Leandro, e uma família numerosa que se orgulha deles: são 12 netos de sangue e mais nove “do coração”, tratados com o mesmo carinho.
