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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

JÚLIA DA COSTA – UM GRANDE IDEAL DA POESIA PARANAENSE

Publicado

em

Prof.ª Lúcia Helena Freitas da Rocha

“Ser inteligente é um fardo muito pesado para uma mulher.”

Assim se caracterizava um dos grandes vultos da poesia paranaense – Júlia Maria da Costa.

Essa poetisa melancólica e sofrida, cuja obra se divulga pouco, nos propõe uma questão simples e quase insolúvel: quem foi Júlia Maria da Costa?

Nascida em Paranaguá, Júlia Maria da Costa (1844 – 1911) viveu grande parte de sua vida na ilha de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. Foi a primeira mulher paranaense a publicar um livro, chamado “Flores Dispersas”, de 1867.

Filha de Alexandre José da Costa e Maria Machado da Costa, casou-se por ordem de seu pai, com Comendador Costa Pereira, chefe do Partido Conservador. Ao longo dos anos, se mostrou uma mulher a frente de seu tempo, com opiniões fortes e ações de vanguarda. Além das poesias, gênero que ficou mais famosa, escreveu crônicas-folhetins – que podem ser entendidas como crônicas sociais, que falam sobre a moda, eventos atuais e outras informações do cotidiano.

Antes de se casar, namorou o poeta Benjamin Carvoliva, cinco anos mais novo. Após o casamento, continuou o romance, mas em segredo, trocando cartas constantemente. A escritora planejava fugir com Carvoliva, mas ele se negou. Essa relação mal correspondida fez aflorar o lado melancólico de Júlia da Costa, que começou a escrever poemas desesperançados, com grande frequência. A partir disso, passou a frequentar mais serões e festas, pintava frequentemente o cabelo de preto (em um tempo que apenas meretrizes e artistas usavam essa tonalidade), participava de campanhas políticas, escrevia para jornais e se tornava uma referência para várias pessoas da cidade, principalmente mulheres. Após a morte do marido, que organizava os saraus em sua própria casa, buscou o isolamento. Nos últimos anos de vida, tentou escrever um romance, mas o período de oito anos enclausurada em seu casarão a deixou enlouquecida. A artista faleceu em 12 de julho de 1911, em São Francisco do Sul.

A vida de Júlia é ao mesmo tempo um retrato de sua época e estabelece marcos divisores desta época. Ademais, anunciam uma nova era. Temos aí o fim do amor romântico, o fim da monarquia, o fim da escravidão. Há um mundo que se esgota. Chega ao fim um tipo de mulher e de homem, ocorre a falência de um tipo de casamento, a ruptura com um modo de fazer política e de governar. Chega ao fim a hegemonia do porto de São Francisco. Chega ao fim o reinado de D. Pedro II, por quem Júlia e o Comendador tinham admiração imensa. E começa a república com seus acertos e desacertos, retratados nas idas e vindas de Carvoliva, o ativista republicano.

E Júlia, nesse turbilhão, anuncia uma nova mulher que só será possível no século seguinte. Foi uma mulher de espírito livre e indomável, que, no entanto, terminou vítima do grande sonho de um amor romântico e das armadilhas de sua época. Sonhava de forma precursora com a igualdade entre homens e mulheres, mas sucumbiu ao peso de um casamento tradicional.

Sem realizar seus sonhos e vítima de seu pioneirismo, sua vida só poderia terminar em desgraça. Essa tragédia pessoal — que retrata a tragédia da mulher em geral no século XIX — é ao mesmo tempo a derrota e a grandeza da vida de Júlia.

Há na vida de Júlia um fio condutor: uma história de amor ao gosto romântico. Ela construiu e viveu seu próprio mito. Sendo uma história de amor impossível, é a história de uma mulher e pelo menos dois homens, o Comendador e Carvoliva, sua grande paixão.

Comemoramos os 180 anos de uma mulher à frente de seu tempo e por quem Paranaguá revela grande apreço.

Seus restos mortais encontram-se no Panteão do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá.

Referências: Roberto Gomes, Camila Muzzillo, Adélia Maria Woellner.

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