Entre todas as virtudes, a coragem é, a mais universalmente admirada. Curiosamente, seu prestígio não parece depender das diferentes, épocas ou indivíduos. Em toda parte, a covardia é desprezada, enquanto a bravura é valorizada. O que quase não muda é a coragem como habilidade de superar o medo. A coragem é a marca dos heróis, e todos os admiram.
A virtude não busca a aprovação do público. “A coragem não é uma virtude”, disse Voltaire, “mas uma qualidade comum tanto aos malfeitores quanto aos grandes homens.” O mesmo ocorre com a inteligência e a força, que também são admiradas e ambíguas (podem ser usadas tanto para o bem quanto para o mal).Pode-se temer qualquer coisa de alguém que não teme nada. E o que temeriam, se não esperam mais nada? Os militares sabem disso e tentam evitar essa situação.
Nosso medo não prova outra coisa senão a necessidade de coragem. A fórmula de Guilherme de Orange é bem conhecida: “Não é necessário esperar para agir, nem ter sucesso para continuar tentando.” “As pessoas verdadeiramente corajosas agem apenas pela beleza do ato corajoso”, escreveu Aristóteles, somente “pelo amor ao bem”.
Aristóteles nos ensina que a coragem está ligada à medida certa. Isso não significa que não se possa ser extremamente corajoso ou enfrentar grandes perigos, mas é preciso equilibrar os riscos com o objetivo em vista: é nobre arriscar a vida por uma causa justa, mas insensato fazê-lo por trivialidades ou simplesmente pelo fascínio do perigo. Isso distingue o corajoso do imprudente, e é por isso que a coragem como todas as virtudes, segundo Aristóteles, se encontra no meio termo, entre dois extremos: a covardia e a temeridade. A ousadia, mesmo extrema, só é virtuosa quando equilibrada pela prudência, o medo ajuda, e a razão orienta. “A virtude de um homem livre se mostra tanto em evitar perigos quanto em superá-los”, escreveu Spinoza, “ele escolhe com a mesma firmeza de espírito entre fugir ou lutar.”
Além disso, é importante lembrar que a coragem não é o fator mais forte, mas sim o destino ou, em outras palavras, o acaso. A própria coragem está ligada ao destino (basta querer, mas quem escolhe sua vontade?) e permanece sujeita a ele. Cada pessoa tem limites do que pode ou não suportar. Os heróis sabem disso, quando são lúcidos: é isso que os torna humildes diante de si mesmos e misericordiosos com os outros. Todas as virtudes estão conectadas, e todas se relacionam com a coragem.