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Sob o Véu

TEOSOFIA

Veja a coluna desta semana!

Publicado

em

Sebastião Vieira Vidal

O termo Teósofo é composto de dois outros, de origem grega, a saber:


a) Theos – Deus;
b) Sophus – sábio, erudito.


Teósofo, pois, é, etimologicamente, o “sábio nas coisas concernentes a Deus”. Por sua vez, o termo Teosofia, também composto grego, significa “o conhecimento das coisas divinas”.

Compreender, pois, o que é Teosofia implica no perfeito esclarecimento de Deus, a elucidação das coisas que lhe dizem respeito.

E como no universo tudo são emanações, em graus diferentes, de Seus atributos, resulta que a Teosofia tem por objetivo o estudo de toda a manifestação cósmica, desde o início das coisas até o mais rudimentar dos seres materiais, incluindo nesta escala de estudos as leis que provocam o metabolismo evolutivo dos mundos e dos seres que os habitam.

Este objetivo que aqui rapidamente traçamos da Teosofia, poderia desanimar a qualquer indivíduo menos avisado, por ser tão vasto e aparentemente insuperável. Tal não se dá, entretanto.

A nós, ocidentais, parece ser impossível tamanha empresa pelo fato de termos criado nossa mentalidade segundo uns moldes falsos, conduzidos pela chamada “análise científica”.

Embora não tenhamos direito de menosprezar as conquistas da ciência ocidental, com os indiscutíveis benefícios que tem trazido à humanidade, podemos, todavia, criticar o seu processo de investigação e sua unilateralidade em face dos problemas humanos, e não haverá como chegar à conclusão de que ela, em grande parte, é responsável pelo estado de coisas implantado na face da terra, pelo menos uma responsabilidade passiva, por fornecer ao homem armas que lhe servem para sua própria destruição física e moral. Teremos a este respeito ocasião de entrar em maiores detalhes, quando procurarmos comparar o conhecimento verdadeiro, iniciático, com o processo didático, exterior, provisório, perecível com a destruição da memória.

O que desejamos aqui frisar é o seguinte: podemos ter um verdadeiro conhecimento teosófico sem necessidade de dissecar seres, analisar a constituição elementar de toda a matéria, desintegrar átomos, medir e calcular, enfim, sem que sejamos obrigados a perder anos e até a vida inteira na pesquisa de um ângulo extremamente limitado da existência, e que não nos daria, de nenhuma forma, uma solução dos problemas que, de fato, dizem respeito ao homem.

Sem dúvida, tais conhecimentos facilitam a compreensão das leis e princípios que regem o mundo, tanto assim que recorreremos à ciência oficial para comparar e exemplificar nossos conceitos. Justificamos semelhante processo com o seguinte exemplo:

Entreguemos a um homem de cultura mediana, por exemplo, uma folha de papel, e peçamos que ele nos descreva, partindo desse “efeito”, que é o papel, qual o processo de sua fabricação, quais os mecanismos empregados, ingredientes servidos, qual a fonte que produz os ingredientes, etc.

Há dois caminhos que terá então que recorrer:

  1. Dirigir-se diretamente a um fabricante de papel pedindo os esclarecimentos requeridos, e em poucas semanas poderá nos responder à consulta, com o conhecimento que terá obtido da química, mecânica e leis de fabricação, para se alcançar
    o fim determinado;
  • 2. Iniciar um vasto programa de retorno, de estudos intensivos que compreendam todas as ciências já estabelecidas e que permitiram ao homem civilizado fabricar papel.

Pois bem, a humanidade, em geral, tem sistematicamente escolhido o segundo caminho apontado no exemplo acima, isto é, procurou estabelecer “ciência” partindo dos efeitos que seus sentidos foram registrando, ao invés de entrar em contato com os Progenitores da humanidade, que sempre deram oportunidade de cada um seguir pelo caminho direto.

Esses Progenitores dos homens existem com toda a realidade concebível, e em nossas palestras iniciais dar-lhes-emos o nome genérico de Mestres, aos quais nos referiremos na medida do permissível.

O termo Teosofia já foi usado por filósofos alexandrinos do tempo de Amônio Sacas. Os discípulos de Paracelso, o inconfundível humanista e terapeuta do Renascimento usaram o nome de Teósofos, aos quais também cognominavam de “filósofos do fogo”.

A origem da Teosofia, porém, é muito mais remota; ela se perde, a bem dizer, entre as primeiras culturas humanas. Como já deixamos exposto no primeiro Boletim, este nome é hoje usado para enquadrar as Ciências Esotéricas verdadeiras, puras, legítimas, e predestinadas a servir à futura ciência oficial do domínio público.

Como disse Helena Petrovna Blavatsky, a fundadora do movimento teosófico contemporâneo, a Teosofia é a síntese das ciências, filosofias e religiões do mundo. Em sua obra capital, a Doutrina Secreta, base de todos os autênticos movimentos ocultistas modernos, ela procura interpretar e elucidar o significado contido nas diversas religiões da humanidade, nas crenças dos mais variados povos e grupos raciais, nas tradições esotéricas da

Cabala hebraica e egípcia, dos alquimistas e rosacruzes medievais, dos primitivos egípcios, chineses, hindus e mesmo dos povos pré-colombianos, como os astecas, maias, incas, quíchuas, toltecas, etc., comparando-o com comentários esotéricos que fez ao Livro de Dzian, pertencente à biblioteca da Grande Fraternidade Branca, e criticando ao mesmo tempo a ciência materialista dos fins do século passado; e em toda essa monumental obra, surge com toda evidência a unidade fundamental do conhecimento humano, unidade esta que é a mesma Teosofia.

Veremos, no próximo Boletim, alguns pormenores sobre o mesmo assunto, e cujo intuito é fazer compreender a amplitude do movimento teosófico, isento, por isto mesmo, de qualquer sectarismo.

Se o “conhecimento das cousas relativas à Divindade”, ou seja, a Teosofia, tivesse sido desenvolvido sem percalços, a vida humana estaria hoje num ponto de esplendor tão elevado que o atual modo de viver seria relativamente tão primitivo como a vida do homem da caverna o foi em relação à atual civilização.

Foram vários os motivos pelos quais as coisas não se realizaram como o previsto desde o amanhecer dos tempos até os nossos dias. Um deles, se encarados de um plano mais elevado, se identifica com as próprias leis universais que regem o progresso dos seres e das coisas no que se refere à luta dos opostos, corsi e recorsi, destruere et construere.

Para a mente humana que participa desses movimentos, tudo se passa como se um fator primordial fosse o criador dos obstáculos – o egoísmo – com suas múltiplas manifestações, como sejam o orgulho, a vaidade, a prepotência, o domínio, a intransigência, etc., levando ao fracasso as coletividades, após terem brilhado como estrelas efêmeras nos sucessivos cenários da História da Mônada.

O impulso primitivo que, criando os mundos, deu origem às formas de vida, defrontouse com as mesmas dificuldades de um construtor ao ter que erigir uma construção sem dispor dos recursos apropriados e indispensáveis, com exceção de uma vontade férrea.

Com essa vontade poderosa, o impulso primordial conglomerou restos dispersos de materiais adormecidos, criando os mundos e neles se manifestando através de veículos à sua disposição, mas nem sempre perfeitamente adaptáveis a seus desideratos. E nesses veículos, como mineral, vegetal, animal, homem, vai percorrendo etapas premeditadas, sujeito a insucessos pela qualidade do material empregado, volvendo por vezes sobre seus passos, mas sempre levado para frente por sua vontade poderosa que, se de um lado cria pela mente, de outro concretiza o pensamento, experimenta, dando-lhe forma e vida peculiares a seus fins, destruindo, também, quando o que pode realizar não correspondeu à sua expectativa.

Para que possais atingir a meta, é preciso irdes aprendendo a identificar os obstáculos que se amontoarão a vossos pés, em tentativas traiçoeiras para vos fazer dissuadir de palmilhar o Caminho; um por um deverão ser destruídos, e para isso, será necessário que encontreis os meios de anular esses obstáculos, utilizando-os como fatores aceleradores da evolução.

Desta maneira, um dos primeiros obstáculos que deparareis e dos mais perigosos pela sua sutileza, é a intransigência, isto é, o vício causado pelo hábito de se encararem as coisas exclusivamente por determinado prisma. É como se, em compartimentos estanques, ao olhardes para uma porção d’água, ali teimásseis em reconhecer o oceano indivisível. Às vezes, os pontos de vista são bons, tem nobres finalidades, mas olhados só por um aspecto, ficaria a Verdade reduzida a um fragmento indiscutivelmente falho, com o qual não se poderia entender uma ordem superior de cousas. A intransigência é consequência direta do egocentrismo, pois pressupõe que só é certo aquilo que se identifica com os pontos de vista pessoais ou de grupos de pessoas. Dela resulta, fatalmente, na melhor das hipóteses, a incompreensão, e na pior, como assistimos na presente existência física, para não buscar exemplos na História, a grandes e catastróficas lutas.

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