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Sob o Véu

INICIAÇÃO

Publicado

em

Antonio Castaño Ferreira

A progressiva evolução da consciência espiritual do homem até abarcar a mente infinita, ou o conhecimento no plano universal, pode ser compreendida como uma série de estados de ser, que dão uma ideia de determinado plano da natureza. Para obter o fim visado pela própria lei do progresso, passa o homem, ou qualquer outro ser autoconsciente, por modificações que são, pelos sábios de todas as épocas, clas- sificadas numa série setenária; daí falarem em sete estados de consciência, cada um deles se caracterizando por uma percepção particular – ou do mundo físico, crosta do Universo, ou do mundo sensível, alma do Universo – até que realmente mergulhe na consciência espiritual, ou seja, a fusão com a Causa sem causa de todas as manifesta- ções e, portanto, a plenitude do Ser, a libertação.

A este estado chamamos Moksha ou Nirvana, a suprema realização, a superação

ou a iluminação perfeita, representada pelos “Christos” e pelos “Buddhas”.

Até lograrem a realização derradeira, de acordo com a Lei natural, os seres cons- cientes deverão atravessar grandes sistemas, denominados “Sistemas Planetários”, em sete etapas de um Universo Solar. Há, entretanto, um meio de, num período curto de algumas vidas, atingir este supremo estado. É a isto que chamamos de “Caminho direto” ou “Iniciação”. Assim, o candidato à Iluminação, sujeita-se a um regime que o aparta definitivamente do meio e das necessidades dos seus irmãos do mesmo ciclo. Isto porque deverá passar por transformação radical, não só no mundo psíquico; se- não também no próprio físico, que lhe permita despertar as faculdades indispensá- veis, possibilitando a compreensão da natureza essencial das verdades de ordem uni- versal; verdades estas que o colocam num plano infinitamente superior ao dos demais homens de sua época. Todos nós sabemos que uma semente vegetal, por exemplo, precisa para se transformar numa planta da mesma espécie da que a originou, de uma determinada quantidade de energia natural que lhe é comunicada, através da luz, do calor ou do frio; e do produto de certas reações bioquímicas. Para esta transformação necessita, ainda, de um determinado tempo que se chama o ciclo evolutivo da planta.

Da mesma forma o homem, para desenvolver completamente sua “consciência discriminativa”, e transformá-la em “consciência universal”, única que lhe dá a per- cepção da realidade eterna, necessita também de uma quantidade de energia que, normalmente, só poderia ser armazenada através de kalpas inumeráveis.

Para abreviar a evolução natural, os Iluminados, pertencentes a Jerarquias muito superiores à humana, codificaram as leis naturais, facilitando, assim, a obtenção desta energia infinita que possibilita, num curto ciclo, a realização de todas as transforma- ções interiores que levarão à consciência total.

Que energia será esta? Como alcançá-la? Como empregá-la? São as perguntas que todos formulam. Suas respostas só serão possíveis, através de um estudo siste- matizado do processo iniciático.

No domínio da ciência oficial, o processo da “Iarovização”, descoberto pelo pro- fessor Lysenko, demonstrou essa asserção de ordem oculta. Seu método constitui, essencialmente, em submeter as sementes de trigo, antes de seu plantio, a um trata- mento térmico em estufas conjugado à iluminação artificial de poderosas lâmpadas de luz solar, que comunicam às sementes energias, que são por elas absorvidas e que lhes abreviam o ciclo vegetativo.

É fato bastante conhecido, principalmente dos viajantes que visitam a Índia, o caso de faquires que, tomando uma semente de uma árvore frutífera, comunicam através de sua vontade, as energias que necessita para sua transformação em árvore. Por este processo, eles reduzem a algumas horas o ciclo vegetativo que normalmente, levaria alguns anos, conseguindo ao cabo delas colher do arbusto, que no início da demonstração era apenas uma semente, frutos maduros.

Também o homem, para conseguir, sua iniciação, utiliza uma energia de ordem cósmica, que deveria acumular em uma infinidade de kalpas.

Que energia é esta, afinal?

A Índia, através dos seus Tantras, fala-nos de uma força que está latente em to- dos os seres: Kundalini Shakti, a força, serpentina. Kundalini, palavra sânscrita, que se originou de Kunda, ou seja, o 3º Logos, o Espírito Santo, é a forma pela qual a energia criadora do Universo se manifesta no mundo fenomênico. A terminação line indica a energia feminina de Kunda. Os Persas, nas suas obras que tratam das coisas ocultas, em particular, no Avesta classificam esta força Universal em:

  1. Vohufryana, o fogo do corpo humano e dos animais;
  2. Urvazistâ, o fogo dos vegetais;
  3. Vohuverazaite ou Bereziçavanha, o fogo interior da terra;
  4. Çpenista, o fogo de Ahura, o Fogo Sagrado, o Fogo Divino.

Assim, toda iniciação tem por fim imediato o desenvolvimento e o domínio de Kundalini, que é a grande alavanca capaz de mudar o centro de gravidade da consci- ência humana, comum até transcender os limites do Universo manifestado, deslo- cando-a, portanto, para o domínio do Eterno. Daí as exigências a que se submete o “Aspirante a Mestrado”, indispensáveis para poder lograr este poder infinito. Estas exigências estão perfeitamente consignadas nas regras imutáveis que regem a vida dos discípulos. Podemos resumir, em alguns itens, o que é indispensável para a qua- lificação do homem na categoria de discípulo aceito:

  1. meios de vida que lhe permita viver em absoluta pureza;
  2. vontade inflexível de alcançar o fim a que se propôs;
  3. desprendimento absoluto em relação às coisas exteriores.

Isto conseguido, poderá então começar sob a direção de seu Mestre, a modificar por uma persistente atividade no sentido conveniente, sua natureza física e psíquica. Segundo as transformações que se forem dando, vai alcançando certas modali- dades de ser, que são simbolizadas por graus iniciáticos, que sempre lhe são conferi- dos por Aquele que assumiu, perante a Lei Universal, o dever de orientá-lo. Esta ori- entação é feita, apenas, através de sugestões muito sutis, e de temas de meditação, apresentados sempre por símbolos ou alegorias. Isto porque, segundo o velho adágio de todos os que trilharam este caminho: “O Adepto se faz e não é feito por ninguém”. Todavia é preciso notar que ninguém poderá atingir a plenitude de consciência sozinho, sem guia, sem a experiência milenar de um Guru, porque os perigos que ro- deiam a todo aquele que levanta seus olhos para o ideal superior, são inumeráveis e

muitas vezes imperceptíveis ao olhar dos menos previdentes.

É esta a razão pela qual é hábito de todo Guru experimentar os candidatos ao discipulado, antes de serem definitivamente aceitos, e sobre este ponto vamos trans- crever a palavra de um destes sublimes instrutores, conhecido por todo o mundo es- piritualista, através das obras de Helena Petrovna Blavatsky, pelo nome de Mahatma Kut-Humi:

“Ninguém entra em contato conosco, ninguém pode conseguir mais conheci- mento, sobre nós, sem que seja submetido a provas. A série de provas a que é submetido na Europa e na Índia é a da Raja-Yoga; elas têm a finalidade de desenvolver todos os germes bons e maus que existem latentes em sua natu- reza. A regra é inflexível e ninguém dela escapa, seja aquele que nos escreva somente uma carta, seja o que na intimidade de seu coração exprima um forte desejo de obter o conhecimento oculto.

Não é suficiente saber o que o discípulo faz ou deixa de fazer em um momento dado e em certas circunstâncias durante o período de provação. É preciso co- nhecer de que é capaz em diferentes ocasiões.

Cada ser humano contém em si vastas potencialidades, e é dever dos Adeptos rodear o Aspirante de circunstâncias que lhe permitam tomar o caminho de mão direita, se para isto tiver capacidade.

Não temos o direito nem de lhe tirar as possibilidades, nem de dirigi-lo no bom caminho. Se hoje é sincero e bom, poderá, amanhã, graças a uma nova cadeia de circunstâncias revelar-se traidor, ingrato, poltrão e fraco de espírito”.

Os que sabem as coisas secretas falam veladamente na “Comunhão das Almas Santas” ou na “Comunhão dos Santos”, como diz a Igreja Católica, servindo de eco a um conhecimento mais antigo que ela e cujo sentido verdadeiro lhe escapa comple- tamente. Isto quer dizer que cada “Aspirante à Verdade” que tenta o “Caminho Di- reto”, caminho mais fino que o fio de uma navalha, precisa se apoiar numa força cri- ada, através dos séculos, pelos seus inumeráveis predecessores nessa vereda

espinhosa. Isto porque cada homem que se faz “Mestre Perfeito”, deixa no ambiente terreno o resultado de seus tremendos e perseverantes esforços, como um “Poder Espiritual Consciente”, que se une aos dos demais irmãos de todas as épocas, como um influxo vivo, verdadeira torrente espiritual dirigida para um determinado sentido, constituindo o Poder Espiritual de determinada série de Seres que se sucederam inin- terruptamente como Mestre e discípulo, o que constitui o elemento fundamental de todas as iniciações. Este influxo, esta torrente espiritual, remonta à origem das coisas.

Os Gurus, perfeitos conhecedores das leis da evolução, dizem não ser possível ao homem alcançar a iluminação sem que esteja ligado a esta torrente ininterrupta, através da qual são comunicados ao discípulo graus, que variam segundo as iniciações ascendentes. Estas “Consagrações” são definitivas, porque ligam o discípulo a um “Poder” infinitamente superior ao que nele possa existir de mais elevado. Nestas ini- ciações lhe são dados símbolos, palavras e determinados gestos, que são a linguagem que expressa este pacto, tacitamente assumido para com a tradição iniciática a que se ligou. Assim, ninguém pode evoluir até a libertação, num curto período de tempo, sem este auxílio indispensável. Este auxílio é uma verdadeira transferência desta tor- rente espiritual, que o Mestre faz ao discípulo, quando lhe confere determinada Ini- ciação. Por isso mesmo, o Mahatma Kut-Humi diz que os discípulos são envolvidos pelo ambiente do Mestre, para que todas as suas possibilidades, boas ou más, se ma- nifestem.

Certos místicos do Oriente nos falam, como já foi dito, no “Círculo das Almas Perfeitas”, com as quais os candidatos à Iniciação entram em contato para alcançarem proteção e auxílio em suas lutas sempre árduas e cheias de perigo. Este contato não é o resultado de nenhuma cerimônia de evocação de almas de seres falecidos, senão a elevação do aspirante ao nível elevadíssimo das esferas espirituais onde gravitam estas almas.

Assim, quanto mais antiga for a tradição esotérica a que se liga o postulante, mais fácil é sua luta pela conquista da iluminação. Quando, entretanto, se liga a tra- dições reconstituídas ou corrompidas, sua luta se torna mais árdua, não conseguindo, na maior parte dos casos, chegar a seu elevado objetivo.

Como os Iniciados criaram um Poder Espiritual Ativo, a humanidade, na sua in- consciência, também gera um poder incomensurável, formado pelas suas ações, seus pensamentos, palavras e paixões de ordem inferior. Desse poder se servem algumas criaturas para a realização de seus desejos, ódios, vinganças etc., quando aprendem os processos de entrarem em contato com esta força através, também, de certas ini- ciações, tão conhecidas dos denominados Magos Negros. Este poder, formado pela coletividade, pelos seus impulsos contrários à Lei, considerado Mau pelos espiritua- listas, também tem uma consciência constituída pelos múltiplos agregados das ações nocivas dos homens em todos os planos de sua atividade. Este poder é o tão falado

“Guardião do Umbral”, a terrível Potestade que deve ser vencida por todo o candidato à Magia Branca. Como o discípulo, durante milênios sem conta, concorreu mais para este poder do que para a “Torrente Espiritual da Boa Lei”, é claro que fica muito mais ligado a ele pelos poderosos laços das más ações que praticou do que pelas suas vagas aspirações ao Bem Supremo que caracteriza o outro polo. É este o motivo pelo qual se torna difícil ao homem libertar-se da suserania do Guardião do Umbral.

É nesta libertação preliminar que se resumem as provas iniciáticas a que é sub- metido o discípulo. Assim, o discípulo sozinho, tendo apenas por apoio o Poder Espi- ritual da Tradição a que se filiou, deve cortar, um por um, todos os laços que o pren- diam ao “Egrégora Negro”.

Podemos agora compreender por que os Iniciados não podem de modo algum interferir nesta luta de vida ou morte em que o discípulo se empenha. Com o choque que ele estabelece com o Guardião do Umbral, todas as más qualidades afloram ao campo consciente do discípulo, do mesmo modo que o contato com a torrente espi- ritual faz desabrochar as sementes do bem, que nele porventura existam, de forma a despertar na sua alma as duas tendências que se defrontam e se digladiam, até que, uma delas sucumba para sempre.

Por isso disse Kut-Humi:“O discípulo deverá, unicamente entregue a seus próprios esforços, escolher o caminho da direita ou da esquerda; fazendo-se por si só um Adepto da Boa Lei ou um Mago Negro, dependendo exclusivamente de si próprio a escolha do Caminho”.

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