A educadora infantil Fernanda Cristina Gonçalves da Silva, de 44 anos, realizou o sonho de ser mãe. Ela é mãe de Izziê, uma bebê de um ano, que nasceu prematura, com apenas seis meses e, por isso, precisou ficar quatro meses internada antes de ir para casa. Um ano depois do sonho realizado, Fernanda descobriu o câncer de mama e hoje luta contra a doença.
A história de luta de Fernanda contra o câncer começou em abril deste ano. “Uma amiga minha de infância percebeu que tinha algo errado com a minha mama, porque estava avermelhada. Como estava organizando a festa de aniversário da minha filha, falei que ia no médico só depois da festa. Depois de uns 10 dias procurei um médico, nesse tempo o seio estava vermelho e quente, mas não me incomodava. Nem imaginava que podia ser câncer”, disse ela.
No início, como tinha uma bebê que foi amamentada por alguns meses, a vermelhidão foi tratada como mastite, uma inflamação da glândula mamária que normalmente acomete as mães. Ela foi medicada, mas não teve melhora. “A médica pediu uma ecografia. O meu peito esquerdo estava todo preto como o pulmão de um fumante. Ela então pediu a biópsia e aguardei 10 dias para sair o resultado. Foram 10 dias terríveis de espera”, relatou Fernanda.
Enquanto aguardava o resultado, ela que trabalhava com a venda de bombons, foi chamada no concurso da Prefeitura de Paranaguá para a vaga de educadora infantil. “Quando recebi o resultado, já estava na escola. Mandei o exame para a médica e ela me ligou dizendo que o resultado era aquilo que a gente não queria que fosse e pediu para ir direto ao consultório. Trabalho na Escola Maria Trindade, de lá até o centro foi um tempo muito difícil, 15 minutos que pareceram dois dias. Comecei a lembrar das pessoas que tinham morrido de câncer, na minha bebê que eu tanto esperei e Deus me abençoou, estava empregada. Por que tudo isso agora?”, contou.
Depois de receber a notícia, Fernanda viu seu seio quadriplicar de tamanho, passou por sessões de quimioterapia que reduziram o tamanho do seio e enfrentou outros problemas que surgiram no caminho. “Vi meu cabelo cair, a mudança no meu corpo. Mesmo acontecendo tudo isso, Deus me cercou de pessoas muito importantes, minha família, meus amigos, não podia pegar minha filha no colo, foi um processo muito doloroso a cada quimioterapia. Me olhava no espelho e via uma imagem que eu não reconhecia”, relatou Fernanda.
Vontade de viver
Apesar de tudo, a vontade de viver, segundo ela, foi maior que tudo. “Às vezes, não damos valor para a vida, ou acontece um problema e a gente já se abate e não ter a noção do que é passar por uma doença e lidar todos os dias com a morte. Eu decidi viver, sou feliz e isso é só um período que vai passar”, disse.
No dia de raspar a cabeça, ela fez uma sessão de fotos com a família. “Isso resgatou minha autoestima, vi uma nova mulher, uma força. Comecei a me observar e me achar bonita, mesmo sem cabelo, com todas as fragilidades. Não uso lenço, hoje gosto de me ver careca”, ressaltou Fernanda.
Ela também é paciente no Instituto Peito Aberto, onde pode conversar com ex-pacientes que venceram a luta contra o câncer, o que fez acreditar que tudo é possível. “A fé da gente é uma grande aliada também. Quando cheguei ao instituto vi que encontrei o lugar. Comecei a participar das ações, esse lugar é muito acolhedor, muitas mulheres passam por isso e nem sabem que existe. Cada uma aqui tem suas experiências e mostram que é possível. Já era uma pessoa animada e o câncer contribui para eu ser mais alegre”, declarou Fernanda.
Em novembro, ela termina as quimioterapias e, em seguida, fará a cirurgia. “Quero viver, me cuidar. Que as mulheres conheçam os fatores de risco, cuidem do emocional e nunca deixem ninguém as diminuir. Se as mulheres soubessem o quanto elas podem, talvez muitas agiriam diferente. A mulher é um ser extraordinário e temos uma coisa que é muito especial que é a capacidade de se reinventar”, finalizou Fernanda.