José Cleto da Silva, também conhecido como professor Cleto, nasceu em Paranaguá, no dia 24 de outubro de 1843, era filho de José Cleto da Silva e Maria Rosa da Silva. Em 1863, com 19 anos, começou a trabalhar na Alfândega de Paranaguá, situada no antigo colégio dos jesuítas, de frente para o Rio Itiberê. Em 1867, o presidente da Província do Paraná César Burlamarque o nomeou para a regência interina da primeira cadeira de instrução primária. A partir desse momento, José Cleto da Silva demonstrava uma grande dedicação aos seus alunos e a educação.
De acordo com Edilberto Trevisan, o professor Cleto foi sempre reconhecido como um dos melhores da província. Cleto também é lembrado como um dos professores que lutou pela defesa das crianças negras, pobres e escravas. Na segunda metade do século XIX, Paranaguá possuía uma considerável população de escravos. Em muitas das ruas onde despontava visualmente a riqueza das casas de sobrado, despontava também o sofrimento das crianças abandonadas. Muitas vezes, as crianças eram alvos dos recrutamentos forçados. Presenciando esse doloroso destino dos menores abandonados, Cleto se pôs a lutar e a enfrentar a situação. Logo, assumiu a liderança dessa batalha contra o recrutamento forçado. Era, de fato, uma verdadeira batalha, visto que ao tomar parte nesse movimento. Entretanto, nada tinha a temer da inspetoria de ensino, ainda assim seu comportamento ficava à mercê das autoridades governamentais e dos ódios políticos.
Em 17 de outubro de 1877, Cleto insurgiu-se contra a prisão de um menor, indo contra o depoimento do delegado. Sem medo, Cleto denunciou a atitude às autoridades de Curitiba. Logo depois, começou a falar na frente da casa do Delegado “Existe nesta cidade uma turma de meninos órfãos ou de pais miseráveis entregues a pessoas que desfrutam seus serviços como criados, dando a elas em paga mau alimento e trapos para vestir. Não recebem educação nenhuma e fazem-se notáveis pelo espírito de destruição contra tudo que está a seu alcance e forças”. Numa outra ocasião, um menino que vivia nas ruas junto a um escravo foi apanhado pelo Delegado. Logo que soube, o professor Cleto defendeu o menino e afirmou que o mesmo era seu aluno do seu curso particular de aula noturna para adultos. Logo em seguida, Cleto aproveitou-se desse ensejo para fixar as aulas noturnas voltadas às crianças negras e pobres.
Após longos anos atuando no magistério e lutando pela igualdade, em 1886, o professor Cleto requereu a sua aposentadoria. Longo e tumultuado seria o processamento desse pedido, que se prolongaria por mais de uma administração, para terminar em 7 de junho de 1889, no início do último período presidencial, do Dr. Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá. Em 25 de fevereiro de 1912, José Cleto da Silva faleceu. Nesse mesmo dia tomava posse do governo do estado o presidente Carlos Cavalcanti. Entretanto, como destaca Edilberto Trevisan “Nem uma linha foi escrita, porém, sobre o desaparecimento do professor. Também, aquela República de cartolas e fraques, arejando em carruagens dignas do Império, não era a República dos seus sonhos. A sua era a pátria dos negros enjeitados de Paranaguá, que ele salvara da chibata, das centenas de jovens que, letra a letra, guiara para a vida paranaense”.
Priscila Onório Figueira
BIBLIOGRAFIA
Trevisan, Edilberto. Mestre-escola da Província. In: Gazeta do Povo, artigos publicados de 20 de janeiro de 1991 a 17 de março de 1991. Curitiba, 1991.