Há alguns dias, comprei um desses alimentos embalados a vácuo, cuja pontinha da embalagem possui uma seta indicativa dizendo “abre fácil”.
Com unhas afiadas, dediquei-me a essa tarefa. Mas o tal “abre fácil” consumiu alguns minutos do meu tempo em que não economizei nas tentativas. Revirei a embalagem, usei o polegar e o indicativo da mão direita, depois o da mão esquerda, respirei fundo, contei até dez e, por fim, peguei uma tesoura e a estraçalhei.
Como não resisto a uma comparação, lá vou eu para a minha “filosofice”.
Tem gente que também não “abre fácil”. É propaganda enganosa. A embalagem esconde o conteúdo. Não adianta forçar, não adianta revirar, propor outras tentativas, outros meios, outras formas.
Tem gente que é difícil. Não sabe facilitar a vida. Não se entrega, não se dispõe. Fecha-se, lacra-se, esconde-se.
Coloca no status do WhatsApp a palavra “disponível”, mas nunca está. Experimente ligar para essa pessoa. Você tentará uma, duas, três, cinco vezes. Só ouvirá um “alô” do outro lado da linha se a criatura difícil se dispuser a sair da própria armadura e mostrar-se interessada ao que o telefonema possa render. Caso contrário, escutará: "Deixe o seu recado após o sinal”.
Gente difícil não coopera, faz questão de ser do contra ou de ficar em cima do muro, não se envolve, não está nem aí. Não percebe que chama a atenção da pior forma, do jeito mais insignificante.
Os difíceis trazem com eles um cardápio de desculpas, são incapazes de enxergar os próprios erros e se colocam na posição de vítimas com a maior facilidade. Batem no peito e o estufam para dizer: “Sou uma pessoa difícil”.
Para decifrá-los é preciso ter bola de cristal. É preciso jogar as cartas. O que passa na cabecinha dessa gente difícil?
“Sou uma pessoa difícil”. Dou meia-volta volver e vou procurar a minha turma: os fáceis.
Os fáceis não estão embalados a vácuo. Sabem que a vida não deve ser desperdiçada com infantilidades e com dramas baratos. São pessoas que, sem ter medo de se colocarem frágeis, mostram os sentimentos. São pessoas inteiras, intensas. Dizem a que vieram.
Gente que não procura fazer dos dias um tormento e tem a capacidade de relativizar os dissabores.
Gente que responde às mensagens, dá retorno, comparece aos compromissos e atende ao telefone.
Que venham os divertidos, os que descomplicam, os que não exigem de nós doses cavalares de paciência, os que são fáceis por natureza e que batem na mesma sintonia!