Em setembro é realizada a Campanha Nacional de Doação de Órgãos, que visa conscientizar a população sobre a importância deste ato, capaz de salvar entre sete a nove vidas. Apesar de apresentar um aumento de 15,7% no número de transplantes no primeiro semestre de 2017, o Brasil ainda possui mais de 35 mil pessoas aguardando doações na fila do Sistema Único de Saúde (SUS).
Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que o Brasil possui uma média de 16,2 doadores por milhão de habitante (PMP), bastante distante dos líderes do ranking mundial, como a Espanha (39,7 PMP), Croácia (39 PMP) e Bélgica (32,4 PMP). Ainda assim, alguns estados, como Santa Catarina (37 PMP), Paraná (34 PMP) e o Distrito Federal (29,6 PMP), se destacam e comprovam que podemos melhorar esses índices e dar uma nova oportunidade de vida para muitas pessoas.
A doação de órgãos no país é regida pela Lei n.º 9.434/97, que determina que a retirada de órgãos e tecidos “post mortem” de pessoas só pode ser realizada após a constatação de morte encefálica (perda definitiva e irreversível das funções cerebrais) por dois médicos e sob autorização de cônjuge ou parente.
Infelizmente, o aproveitamento dos órgãos exige que exista circulação sanguínea para irrigá-los (caso o coração pare, apenas as córneas podem ser aproveitadas), o que faz com que a decisão em relação à doação seja tomada pela família ainda em um momento de luto e tristeza. Atualmente no Brasil a taxa de recusa dos familiares para a doação é de 40%, um número elevado e que em alguns estados alcança até 70%.
Mudar esse cenário exige um trabalho de sensibilização e informação que destaque a importância das pessoas avisarem as famílias que desejam ser doador caso venham a falecer. Também é preciso ações que combatam os diversos mitos que cercam o assunto, como a ideia errônea de que a doação desfiguraria o corpo ou que é necessário documento ou registro que expressem a vontade de ser doador.
O fato é que a doação é simples, sem burocracia ou despesas para a família do doador, uma vez que o procedimento é custeado pelo SUS. É preciso lembrar também que um dos grandes desafios em relação ao transplante é a compatibilidade, portanto quanto mais doações de órgãos existirem, maiores serão as chances de beneficiar as pessoas que estão na fila das Centrais de Transplantes.
Um exemplo positivo nesse sentido aconteceu no Paraná, que em 2010 era apenas o 10.º no ranking de doação e transplante de órgãos e atualmente é o segundo estado com melhor desempenho no país, diminuindo pela metade a fila de espera (de 3,3 mil em 2010 para 1.724 no início de 2017). Consequência de ações sistemáticas promovidas pelo Governo do Estado em parceria com entidades sociais e iniciativa privada, que nos levaram a ter a segunda menor taxa de recusa de doação de órgãos do Brasil.
Muitas vezes precisamos enfrentar tragédias que fogem do nosso alcance conseguir fazer algo para evitá-las. Ainda assim, mesmo diante de um momento triste como a morte, temos que lembrar que ainda podemos compartilhar a vida daqueles que amamos e trazer esperança para quem mais precisa de solidariedade e de um verdadeiro ato de compaixão.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)