Paranaguá, a Cidade-Mãe do Paraná, celebra seus 376 anos de história. Em meio às comemorações, o professor e pesquisador de história e genealogia, Hamilton Ferreira Sampaio Junior, destaca a importância de memória, povo e terra, e como esses elementos se entrelaçam na construção da identidade da cidade.
Uma Viagem ao Século XIX
“Caminhar pelas ruas de Paranaguá é como viajar no tempo. Os casarões antigos, as calçadas de petit pavé, o coreto da praça, o chafariz, a fontinha e as igrejas nos transportam para o século XIX. Nessa época, a cidade era um ponto de encontro de marinheiros de todo o mundo, aguadeiros e engraxates disputando clientes, e o Mercado do Café fervilhava com a venda de frutas e peixes por medidas de “lata”. No entanto, a realidade atual, com seus edifícios em ruínas e janelas quebradas, nos lembra de um distanciamento entre os parnanguaras e sua própria história”, enfatiza Hamilton Junior.
Ao completar 376 anos, Paranaguá enfrenta um ponto de inflexão. “A cidade, outrora vibrante, parece ter perdido parte de sua memória histórica. Muitos de seus habitantes não conhecem a rica história local”, uma desconexão, que o professor Hamilton Junior acredita ser crucial reverter. “Falta uma pitada de amor pela própria história e, por que não, pela própria cidade”, afirma o professor.
O valor da história local
Para resgatar essa conexão, é essencial que os parnanguaras compreendam e valorizem sua história. “Paranaguá teve um papel fundamental na formação do Paraná, desde a luta pela emancipação política do estado até a construção do Palácio do Visconde de Nácar e da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba. Figuras ilustres como o Barão do Serro Azul, Dr. Leocádio Correia, Júlia da Costa e Hugo Simas são exemplos de filhos da terra que contribuíram significativamente para a história local e nacional”, relembra o historiador.
Memórias esquecidas
Episódios marcantes, como o naufrágio do navio pirata “La Louise” em 1718, a recuperação da Sumaca Aurora por pessoas escravizadas, e a declaração de guerra à Inglaterra em 1850, são memórias que poucos ainda preservam. A imprensa de Paranaguá, com sua luta pela emancipação dos escravizados e pela construção da República, também desempenhou um papel crucial.
Preservação do patrimônio
Preservar o patrimônio cultural tangível e intangível é essencial para manter viva a identidade cultural de Paranaguá. “O respeito e a valorização do legado histórico podem contribuir para a ideia de desenvolvimento sustentável, que considera a importância de preservar os recursos culturais e naturais para as futuras gerações”, ressalta Hamilton Junior.
Reflexão e futuro
O professor nos convida a refletir sobre o passado para nos conectarmos com o futuro. “Talvez seja o momento de olharmos para o passado, entender de onde viemos e como chegamos até aqui. Esse exercício pode nos ajudar a nos conectar com o futuro e aproveitar este momento oportuno para refletirmos sobre a cidade em que queremos viver e deixar para nossos filhos”, disse Hamilton Junior destaca a importância de fomentar o sentimento de “Paranaguaridade”, incentivando as crianças a se tornarem vetores de sustentação do resgate da memória e da identidade patrimonial da cidade. Como ensinam historiadores como Pierre Nora e Paul Ricoeur, é essencial que as gerações futuras mantenham uma ligação entre o passado e o presente.
Hamilton Junior nos convida a fechar os olhos mais uma vez e sentir a brisa do mar que atravessa a Baía de Paranaguá. “Essa brisa, que nos traz um frescor e uma renovação, simboliza a esperança de um futuro melhor para a cidade, baseado no resgate e valorização de sua rica história”, conclui o historiador.
Referências: Nora, Pierre. *Les lieux de mémoire*. 3 v. Gallimard: Paris, 1997; Nora, Pierre. *Entre memória e história. A problemática dos lugares*. Projeto história. 10. PUCSP: São Paulo, 1993; Ricoeur, Paul. *Architecture et narrativité*. Urbanisme, 303, nov.-déc.1998, Paris, p. 44-51; Poiesis. *Architecture. Arts, sciences, et philosophie. L’architecture et le temps*. 11, Paris, Toulouse, 2000.