Paranaguá 376 anos

Cervejaria mescla identidade parnanguara com ousadia e qualidade

Pedro Petry explica criação da DASH Cervejaria

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Criar o próprio negócio não é fácil, requer não apenas empenho, mas também ousadia e amor ao que se faz. É exatamente assim que foi criada a DASH Cervejaria, de Paranaguá, através do sócio-proprietário, Pedro Petry, que começou se interessando pelo ramo cervejeiro, estudando a fabricação, criando seus próprios rótulos junto aos familiares e amigos e verificando a viabilidade do negócio. Em 2015, então, criou a DASH, loja localizada na rua Maneco Viana, 329, posteriormente produzindo cervejas próprias, sempre levando a identidade parnanguara na fabricação e divulgação, tudo isso também mesclando a música, o rock independente, shows e identidade visual, demonstrando que o empreendedorismo é também uma característica contínua de quem nasceu e vive na Cidade-Mãe do Paraná. 

“Sou um apaixonado por cerveja, isso de forma muito informal, de beber no boteco, tomando as marcas nacionais comerciais, que acredito que todo mundo começa assim, não tem jeito, isso ocorreu na época da faculdade. Já era aficionado e meu irmão comprava umas cervejas diferentes, o meu pai também, eu não comprava, porque não tinha dinheiro, e eu ia ‘serrando’ e já comecei a perceber que haviam coisas diferentes, não somente aquele líquido amarelo, leve, pouco amargo. Fui então caminhando, ia no supermercado e pegava uma cerveja diferente, muita coisa importada na época, isso lá por 2011 a 2013”, salienta Pedro. 

O diferencial foi um curso que ele fez em 2014 de sommelier de cerveja na Universidade Positivo, algo que “virou a chave” na sua vida. “Fiz totalmente porque eu gostava, sendo um curso que tinha jornalistas que queriam se aprimorar na área gourmet, gente que trabalhava em restaurante e queria se especializar, donos de bar e cervejarias e eu estava ali, vi que havia um mundo, que a cerveja ia muito além. O curso abriu a minha cabeça. Provei cervejas do mundo inteiro, das escolas cervejeiras e toda aula era super divertida”, explica, destacando que o curso durou cerca de seis meses, onde a prova final era de degustação às cegas para uma banca formada por cervejeiros experientes e de destaque de cervejarias do Paraná, onde havia perguntas sobre história das cervejas e foi perguntado para ele sobre o processo inteiro de fabricação do produto. “Vi que precisava aprender ainda mais”, destaca. “Cheguei em casa e fui comprar um kit de cerveja para saber fazer e nunca mais errar essa pergunta”, completa.

“Comprei uma panela, coisas bem ‘fuleragem’ e em 2015 começa o que seria o projeto da minha vida. Começou informal, fazia cerveja em casa e não tinha nome, como se fosse cozinhar, é a mesma coisa, demora um pouco mais, pois há a morosidade da fermentação e maturação, mas é super divertido você abrir a tua própria cerveja, ver se ela ficou boa, normalmente fica legal, porque é uma espécie de teu filho”, explica Petry, ressaltando que o início a degustação era principalmente junto aos amigos. Foi então que surgiu a ideia do nome. “Sempre fui muito parnanguara e de início queria um nome que remetesse a Paranaguá, pensei em vários como Porto, Bagre, Itiberê e nada ficava legal. É algo difícil dar um nome. Tinha uma lista de uns 30 nomes e coloquei DASH no meio, que é a abreviação de uma banda que eu gosto que é Dashboard Confessional e deixei no meio. Os caras ficaram me perturbando, acredito que já tinha feito a minha décima cerveja, já tinha aprimorado, comprado equipamento novo e decidi pegar o nome DASH que pra mim era o menos pior”, explica.

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Cervejaria cigana, a DASH produz diversos rótulos, com destaque para a Session IPA

Pedro ressaltou que levou o nome DASH a um amigo próximo, que fez a logomarca e identidade visual em poucos minutos, algo que “pegou” e que ficou até hoje. “Gostei do nome. Procurei saber se já existia ou não. Fui no INPI, registrei tudo certo. Ainda era algo distante, não imaginava viver disso. Eu na época ainda não podia vender as cervejas, então só ficava no prejuízo, dando as cervejas, seria até ilegal comercializar os produtos sem imposto. Comecei a fazer bonés e camisetas da DASH e vencer, como se fosse de banda, para comercializar e pelo menos pagar a minha cerveja e beber de graça. Foi um sucesso. Vendi uns 200 bonés. Começou a sair meio do controle, muitas pessoas não sabiam o que era a DASH, isso lá por 2015. Em 2016, então, o meu irmão Ivo Petry, que têm uma veia muito de  comércio e empresário, queria um lance de vendas e procurava um ramo, mesma época em que voltei a Paranaguá após morar em Curitiba, queria ficar aqui perto da família, então unimos isso, eu ficava o dia inteiro fazendo cerveja em casa e ele viu a possibilidade de abrir a nossa loja de cervejas”, acrescenta.

Cervejaria cigana

“A loja da DASH foi aberta em 2016. Já era uma cervejaria e acabou virando uma loja, ela é muito forte hoje no mercado para quem gosta de cervejas especiais. Nessa época ainda não vendíamos nossas cervejas, elas eram feitas em casa ainda, mas queríamos começar, já estávamos vendo como seria o mercado em Paranaguá. Foi sucesso total. Em 2017 já faço uma leva da Session IPA que é a nossa primeira cerveja no ‘Lagarto’ da Ozean, o Leonardo Lopes,  que é o que chamamos de cervejaria cigana que é o que Dash hoje é. Temos as nossas receitas, o nosso método de envase, que é o nosso barril ou fazemos em lata também, chegamos na cervejaria com a nossa receita, produzimos lá, fermenta, matura, terminou de maturar a gente bora nos barris e o problema é nosso, nós que vendemos a nossa cerveja”, afirma o cervejeiro. 

A primeira leva da Session IPA teve produção de 300 litros que são vendidos muito rápido, onde vi o potencial de ser uma cerveja para estar sempre engatada. “Em 2018 eu descubro que a Ignorus, que é uma cervejaria de Curitiba, em Colombo, estavam abrindo a casa nova deles após serem ciganos. Fui o primeiro a bater lá, estavam comemorando o chá de casa nova e eu já estava alí pra ver se tinha um tanque. Por acaso da vida, eles botaram fé em mim, acreditaram e falaram que seria 2 mil litros para produção, aí eu pensei como eu iria fazer para sair dos 600 litros para os 2 mil litros. Isso era em junho de 2018, pensei que ia ter Copa do Mundo e ia dar certo, inclusive na época teve a greve dos caminhoneiros e ficamos com receio, mas foi um sucesso total, tanto é que até hoje estamos na Ignorus fazendo a mesma cerveja quase que mensalmente”, explica.

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Além da loja física, próximo passo é a inauguração da fábrica própria, algo que está em fase final de implementação em Paranaguá, no Parque São João

Fábrica própria sendo construída

Além da Session IPA, a DASH conta com outros rótulos como a New England IPA, bem como cervejas sazonais. “O grande projeto agora da DASH que estamos galgando desde 2020 é dar esse passo para a casa própria, que é para deixar de ser cigana e ter a nossa própria indústria, o que facilitaria em questão de autonomia, pois hoje dependo dos tanques estarem livres da Ignorus para poder fabricar. Vou poder fabricar uma batelada menor de cervejas diferentes, não preciso, por exemplo, fazer uma Session IPA de 2 mil litros, posso fazer quatro cervejas diferentes de 500 litros, com uma variedade maior de rótulos”, explica.

Você sabe como iniciou a produção de cerveja no mundo?

“Foi um passo audacioso, pois há toda uma questão de legislação, pois infelizmente ainda cervejaria consta como uma indústria que parece que não deve ser instalada no centro da cidade, quando na verdade uma cervejaria era estaria mais enquadrada como se fosse uma padaria, algo que pode estar no bairro, ela não é nociva, não produz barulho, não tem nada”, explica Pedro, ressaltando que existem cervejarias em São Paulo em locais centrais nobres, bem como nos EUA e em outros países. “Precisávamos ser de Paranaguá, é a nossa raiz, não queríamos ser só uma cervejaria, queríamos ser a cervejaria da cidade, pois somos conhecidos assim lá fora, em Curitiba e em outros estados, principalmente as latas que são criadas em Paranaguá”, acrescenta.

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Um dos rótulos lançados pela DASH

Identidade parnanguara

Petry reforça a necessidade de valorizar as raízes do local, tanto na questão estética, quanto nos ingredientes, sendo essencial que a fábrica seja localizada na cidade. “Em Paranaguá a questão imobiliária, de barracão, é tudo muito caro comparado, por exemplo, com Pinhais, Colombo e outros locais com cervejarias. Queríamos ser daqui, acabamos dando passos para trás. Compramos um terreno, levantamos um barracão e agora, finalmente, estamos no processo de negociar equipamentos, estamos chegando lá. Foram quatro a cinco anos bem morosos”, completa.

“O barracão está de pé. Teremos um bar na nossa indústria e iremos manter a loja. Iremos fabricar mais. O foco lá será no recebimento de eventos com churrasqueiras disponíveis, pretendo fazer uma cozinha mais para frente”, salienta, destacando que o foco é iniciar a produção em 2025. O novo espaço fica localizado no Parque São João, na Avenida Belmiro Sebastião Marques. “É um projeto de vida. Somos apaixonados por cerveja, assim como Paranaguá é. Recentemente, o Festival da Cerveja Artesanal comprovou isso, tive que sair no meio do evento para ir na fábrica pegar mais chopp”, destaca Pedro. 

Mercado local 

“A gente luta em questão de impostos para trazer a nossa cerveja para um preço mais competitivo. As grandes cervejarias contam com várias isenções e nós estamos pagando tudo que tem para pagar. O foco é deixar tudo o mais democrático possível, assim como a cerveja é um líquido democrático, a gente não entra em um papo de tentar elitizar o negócio. Com a fábrica conseguimos tirar um intermediador e conseguimos valorizar o produto no sentido de ter um preço mais condizente e com ainda melhor qualidade”, afirma o cervejeiro, destacando a qualidade e identidade de um produto local. 

“O evento foi um sucesso para as cervejarias, quem vendeu comida e para as bandas, com cervejarias de todo o litoral, entre elas a Ozean, a cervejaria do nosso decano, que é o Léo, que chegou quando tudo era mato, o Lucas da Três Morretes, o Hespanha que também são bagrinhos, o Brux, o pessoal de Pontal, de Matinhos, o BornHouse, enfim, várias cervejarias. Existe mercado e potencial, todas agregam, não temos pretensão nenhuma de ser um grande grupo, somos muito comunidade”, frisa, destacando o diferencial do produto local ser fresco, podendo ser retirado com um growler (recipiente para reter a cerveja após tirar do barril), com qualidade diferenciada.

Paranaguá e aniversário da cidade

Pedro Petry ressalta a importância de Paranaguá para a sua identidade, para a existência da DASH e reforça a celebração de 376 anos da cidade. “Não é só a cidade, é o clima, Paranaguá tem um negócio diferente. Recebo muita gente aqui no meu balcão que é de fora, de outros lugares e que não sai mais daqui, acaba se apaixonando, fala da rapidez de deslocamento do trabalho pra casa, entre outras coisas. Lógico que temos nossos defeitos na cidade, é normal, não é perfeito e se fosse perfeito não teria graça”, completa.

A DASH participará em 17 e 18 de agosto, no Museu Municipal de Artes, no Portão, em Curitiba, do Festival da Cultura Cervejeira Artesanal, representando Paranaguá pela terceira vez no evento, que é o maior voltado à cerveja no Paraná. “Desejo mais um ano maravilhoso para Paranaguá, um ano importante, de eleição, que cada um seja consciente nas suas escolhas. Desejando felicidades aos parnanguaras, que carregam a cidade nas costas”, finaliza Pedro Petry.

A DASH Cervejaria fica localizada na rua Maneco Viana, 329, em Paranaguá. O Instagram é o @dashcervejaria e o Facebook pode ser acessado aqui. O telefone é o (41) 3422-8512.

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Loja física da DASH foi inaugurada em 2016 e prossegue na ativa até hoje em Paranaguá
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Cervejaria mescla identidade parnanguara com ousadia e qualidade

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Leonardo Quintana Bernardi

Jornalista graduado pela PUC-PR com atuação desde 2012 no jornalismo impresso, online e em audiovisual, bem como em assessoria de comunicação. Já trabalhou em órgãos públicos, jornais locais, freelances em veículos de alcance nacional e desempenha suas funções na Folha do Litoral News desde 2017. Defensor do jornalismo como meio de transformação social.