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Entrevista

Comandante do 9.º Batalhão de Polícia Militar discorre sobre ações para redução da criminalidade

Tenente-coronel Rui Noé Barroso completou um ano de atuação em Paranaguá

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O tenente-coronel e comandante do 9.º Batalhão de Polícia Militar de Paranaguá, Rui Noé Barroso, entrou para a PM em 1988, após formação na Academia do Guatupê como aspirante a oficial. A carreira começou em Foz do Iguaçu, depois passou por Cascavel, por algumas unidades de Curitiba, nos batalhões de Polícia de Trânsito, Agência Central de Inteligência da PM, no Grupo de Combate ao Crime Organizado que hoje está extinto, o antigo grupo Águia, atuou na Corregedoria e no Batalhão de Operações Especiais.

Durante três anos, o tenente-coronel ainda exerceu sua atividade na Força Nacional de Segurança Pública, de 2014 a 2017, quando atuou em grandes eventos como Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016. Além disso, foram 15 operações em nove Estados brasileiros. No mês passado, o tenente coronel Rui Noé completou um ano no comando do 9.º Batalhão da Polícia Militar.

Natural de Curitiba, o comandante falou sobre a criminalidade em Paranaguá, as atividades da PM no município, as operações que estão em andamento, Operação Tiradentes e Depurar, para inibir a criminalidade; e destacou que a população hoje contribui de forma significativa para o trabalho policial.

 

Folha do Litoral News: Tivemos um alto índice de homicídios em Paranaguá neste ano, a que você atribui esse aumento?

Comandante Barroso: Além dos homicídios, houve furtos e roubos e vários fatores estão atrelados a isso. Muitas vezes, a população pensa que não tem polícia na rua, mas a Polícia Militar está nas ruas, estamos com um esforço ordinário e extraordinário de forma paliativa para atender a Operação Depurar e a Operação Tiradentes. No primeiro quadrimestre deste ano, a PM prendeu 243 pessoas, que estão relacionadas a esta esfera de homicídio, roubo, furto, violência doméstica contra a mulher, e esta é uma estatística que não aparece, do trabalho, mas é uma estatística que é fato. Portanto, a Polícia Militar está nas ruas. Esse índice de criminalidade, principalmente os homicídios, tem vários fatores envolvidos. Nós temos a questão do índice de desemprego, a falta de oportunidades, o índice de tráfico e consumo de substâncias entorpecentes. É importante que se diga que temos um contato frequente com o Dr. Rogério da 1.ª Subdivisão Policial e, dos 37 homicídios que ocorreram em Paranaguá neste período, dois deles, o latrocínio ao motorista de táxi e um feminicídio no qual uma mulher foi morta por esfaqueamento, foram os únicos dois crimes que têm caráter passional e de latrocínio, todas as demais vítimas foi comprovado por inquérito da Polícia Civil que tem relação ou ligação direta com o consumo ou tráfico de entorpecentes. Isso significa que essas 35 pessoas não mereciam atenção? Claro que mereciam, mas esse é um fato, um dado relevante e mostra esses fatores que orbitam em torno da criminalidade.

 

Folha do Litoral News: Esse índice, portanto, não revela que não está havendo um trabalho da Polícia e sim um desequilíbrio social em Paranaguá?

Comandante Barroso: Exatamente. Há alguns dias participamos do I Fórum de Segurança Pública de Paranaguá onde foram discutidas essas questões. Nós participamos, assim como o delegado Rogério da Polícia Civil, o delegado da Polícia Federal, e demais pessoas ligadas à segurança pública, e nós descrevemos isso, que a segurança pública tem diversos fatores. Em relação ao fator de programa de governo, a superlotação das cadeias, a legislação, por exemplo, é necessário que seja feito um trabalho com os dependentes químicos. Noventa por cento dos crimes de furto ocorridos em Paranaguá orbitam em torno do tráfico e consumo de entorpecentes. Não podemos dizer que todo dependente químico se enquadra nesse contexto, mas uma grande parte. Se ele vier de uma base mal estruturada, de falta de oportunidades e desemprego, são cenários sociais e econômicos que refletem nisso. Ele vai cometer furtos e roubos para que esse objeto seja trocado por droga para satisfazer o seu vício.

 

Folha do Litoral News: Além do policiamento ostensivo e preventivo, que outras atividades a PM presta à população?

Comandante Barroso: A PM hoje procura compartilhar de alguns programas sociais, que são de suma importância, essa é uma preocupação que muito embora não seja missão legal da PM, queremos contribuir para isso. Em Paranaguá hoje existe a Patrulha Mirim, que desenvolve atividades físicas e culturais dentro do quartel. Temos ainda atividades da Guarda Mirim em Matinhos e em Pontal do Paraná. Para que esses jovens tenham uma atividade, é um investimento para que eles não fiquem na rua, não fiquem ociosos e não sejam seduzidos pelo tráfico de drogas.

 

Folha do Litoral News: Com relação ao crescente número de moradores em situaçãode rua em Paranaguá, esses cidadãos oferecem algum risco à sociedade na visão da PM?

Comandante Barroso: É bastante notória a população de moradores de rua em Paranaguá. Essa é uma questão social, a Polícia Militar constata essas pessoas na rua, muitas delas são dependentes químicos, então cumprimos o papel legal, de revistar, verificar se não é foragido da justiça, e damos o encaminhamento a essas pessoas. A grande maioria é segregada pela sociedade, abandonada pelo Estado. Por isso, é uma questão social e não afeta em sua totalidade a segurança pública. Nós entendemos que é preciso que se façam políticas públicas. Essas pessoas, além de estarem passando necessidades, muitas estão doentes e precisam ser acolhidas. Parte da população tem questionado sobre essa problemática dos moradores de rua, mas são pessoas que não podemos relegar a segundo plano. Eles não apresentam perigo à sociedade, tivemos um caso isolado de um homicídio que foi cometido em tese por um morador de rua. Existe sim uma parcela pequena que é usuária de droga e neste caso damos o encaminhamento. A população se assusta, mas esse é um problema que tem que ser resolvido de forma macro pela união de esforços.

 

Folha do Litoral News: De que forma a população pode ajudar no trabalho policial?

Comandante Barroso: A população, além de nosso principal cliente, nós somos parte dela também. A população tem nos ajudado sobremaneira, temos recebido denúncias através do 190, do Disk Denúncia, via e-mail pela ouvidoria geral do Estado. Todos têm a identidade preservada e essas informações são canalizadas para nós. Temos ferramentas do serviço de inteligência, tecnológicas, que nos auxiliam a dar um combate para enfrentar o crime de maneira eficiente. Agora, a informação da população é fundamental porque muitas vezes ela tem a posse de dados onde a nossa ferramenta não chega. As pessoas, às vezes, ficam receosas em passar a informação temendo represália, mas a origem das identidades são preservadas e isso tem contribuído muito para otimizarmos nosso trabalho, nosso serviço de inteligência que usa essas informações aliadas a todas que já temos para que possamos ter mais eficácia na aplicação do policiamento e aumentar a sensação de segurança.

 

Folha do Litoral News: Deixe suas considerações finais.

Comandante Barroso: Houve um movimento recente pedindo mais segurança e nós o entendemos como legítimo, democrático e apoiamos essa iniciativa. Gostaria de salientar que a Polícia Militar está nas ruas, temos o compromisso nesse enfrentamento e queremos reduzir essa elevação momentânea, pois vamos diminuir esse índice de homicídio, roubos e furtos. Vamos nos empenhar ao máximo para trazer esses número a um nível aceitável.

 

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