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Realidade e percepção: como nossos sentidos nos fornecem uma percepção equivocada da realidade e podem prejudicar nosso futuro

Pesquisa foi realizada pelo Instituto Ipsos no ano de 2017, intitulada “Perigos da Percepção”

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Em pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos (a terceira maior empresa de pesquisa e de inteligência de mercado do mundo), no ano de 2017, intitulada “Perigos da Percepção”, demonstra-se como as pessoas de 38 países estão equivocadas sobre diversos parâmetros e características existentes em seus próprios países.

A pesquisa realizou 29.133 entrevistas e os dados demonstram que as percepções dos cidadãos não correspondem à realidade presente em suas próprias nações. Nesse ranking, os brasileiros ficaram à frente apenas dos sul-africanos, o que é denominado pela pesquisa de “índice de percepção equivocada”, ou seja, somos o segundo país que mais erra em relação ao que se pensa/percebe e o que se apresenta/é. Do lado oposto do ranking (os que mais acertam) encontram-se os países nórdicos, Suécia, Noruega e Dinamarca.

Os temas abordados pela pesquisa são os mais variados: violência (taxa de homicídios, mortes por ataques terroristas), sistema carcerário (imigrantes presidiários), saúde pública (gravidez na adolescência, correlação entre vacinação e autismo, diabetes, suicídio), mercado de consumo e hábitos da população (consumo de açúcar e álcool, posse de smartphone, posse de conta no Facebook, quantidade de veículos registrados no país) e religiosidade (crença no paraíso, no inferno, em Deus). Apesar da diversidade dos temas, algumas respostas, ilustram o que está presente no “imaginário” do povo brasileiro, distanciando a realidade da percepção individual e coletiva.

O papel da mídia no estabelecimento entre correlação e causalidade, nossa baixa taxa de leitura, os preconceitos arraigados em nossas vidas, nosso grau de escolaridade, o tipo de educação que recebemos, o acesso à cultura de forma geral, todos esses fatores certamente influenciam nosso grau de percepção da realidade, distanciando-nos ou aproximando-nos dela. Entretanto, é importante salientar que análises conjunturais e planejamento eficaz dependem desse tipo de percepção e quanto mais afastados estivermos da realidade como ela é, e não como se apresenta, mais dificuldades teremos em realizar análises de nossos problemas cotidianos e, portanto, pensar como será nosso futuro.

Alguns dados obtidos na pesquisa citada ilustram nossa percepção distanciada da realidade. Por exemplo, quando perguntado: de cada 100 presos no Brasil, quantos você acha que nasceram em outro país? O dado oficial revela o percentual de 0,4%. A percepção do brasileiro foi de uma média de 18%. Será que esse percentual se deve às recentes ondas migratórias de venezuelanos e sírios que recebemos? O percentual revela  traços xenofóbicos de nossa população? Quando perguntado: qual o percentual de garotas entre 15 e 19 anos que dão à luz a cada ano no Brasil? O dado oficial revela o percentual de 6,7%. A percepção do brasileiro foi de uma média de 48%.

Será que os comportamentos, as roupas e a cultura dos jovens nos levam a essa conclusão? Trata-se meramente de um conflito de gerações? Qual a impressão que temos de nossas jovens? Outra pergunta: de cada 100 mortes de homens e meninos com idades entre 15 e 24 anos em seu país, quantas você acha que foram por suicídio? O dado oficial revela o percentual de 3,3%. A percepção do brasileiro foi de uma média de 29%. Esse percentual distorcido deve-se ao fato desse ser um assunto considerado tabu? Ou revela uma preocupação excessiva com a saúde mental de nossos jovens?

A verdadeira resposta para as perguntas levantadas exigiria um estudo aprofundado sobre o tema, com pesquisa de campo e uma base de entrevistados expandida. Só assim teríamos uma noção mais aproximada do que nos impinge a uma percepção distorcida da realidade em cada um desses temas. Mas esse não é o propósito nem o objetivo do presente artigo. O objetivo preponderante é destacar como uma visão distante da realidade pode prejudicar nossa capacidade de análise sobre diversos temas e impedir que análises adequadas e críticas sobre eles sejam realizadas. Se não compreendemos nosso presente, certamente teremos nosso futuro prejudicado.

Um dado curioso, mas que nos imprime algum alento é o seguinte: nosso índice de confiança na correção de nossas respostas, ou seja, de que as respostas dadas correspondem à realidade existente é intermediário, o que significa que temos conhecimento de nossa ignorância e não superestimamos nossa informação. Esse já é um primeiro passo para uma devida correção de rumos que, aliada à busca de informação e análise da realidade pode, em um futuro próximo, fortalecer nossa visão de país e de mundo. Apenas tendo noção de nossa realidade, de nosso país, é que poderemos alavancar a perspectiva do futuro que queremos e desejamos.

Diante dos dados, que confirmam uma percepção distanciada dos fatos, nos resta ouvir a opinião das pessoas comuns, dos cidadãos, daqueles que, por um motivo ou outro não conseguem distinguir o imaginário do que realmente ocorre e daqueles que o fazem. E você, em que situação se encontra? Qual a sua capacidade de perceber a realidade? O que confunde ou limita sua percepção? Você tem clareza da realidade que se apresenta? A todos nós, desejos de uma semana repleta de verdades, livre de obscurantismos, falácias e manipulações, até a próxima quinta-feira.

Professor Dr. Bruno Gasparini – Coordenador do Curso de Direito do Instituto Superior do Litoral do Paraná (Isulpar), advogado, autor, palestrante, mestre em Direito das Relações Sociais, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento

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