As universidades públicas do Paraná têm, neste ano, 200 estudantes indígenas. Em 2016, sete indígenas concluíram o Ensino Superior, entre eles advogado, pedagogo e médica. O Dia do Índio, 19 de abril, festeja as origens culturais do Brasil. O Vestibular Indígena, ofertado pelas sete universidades estaduais e a Universidade Federal do Paraná, é uma forma de valorizar essa cultura.
Ser protagonista da própria história, com mais oportunidades e melhores condições de vida, é o sonho de muitos jovens indígenas que ingressam na universidade. Jefferson Gabriel Domingues, da etnia Guarani, é um destes jovens. Ele conseguiu a formação acadêmica e realização profissional e hoje é professor e diretor da Escola Estadual Indígena Yvy Porã, na Terra Indígena Pinhalzinho em Tomazina (Norte), onde nasceu.
“Com o ensino superior, os índios passam a ganhar mais espaço na sociedade, participar de forma efetiva nas áreas em que atuam, com formação profissional,” ressalta Jefferson Gabriel, que se formou em História, em 2010, pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
MAIS CONDIÇÕES
A Comissão Universidade para Índios (Cuia), formada por representantes das universidades públicas, é que organiza o vestibular. Wagner Amaral, presidente da Cuia, destaca que a formação acadêmica contribui para que os jovens tenham melhores condições de vida. “A presença deles nas universidades aumenta a perspectiva da formação de profissionais que conhecem a realidade de suas comunidades e de seus povos, levando maior qualidade nos serviços de saúde, educação, gestão dos territórios, gestão de políticas e projetos sociais”, diz ele.
Nas universidades públicas são ofertadas 52 vagas para os indígenas: seis em cada uma das sete universidades estaduais e 10 vagas na Universidade Federal do Paraná.
Estudantes da UEM preparando material didático para práticas pedagógicas
Segundo o presidente da Cuia, o vestibular está ganhando cada vez mais atenção e importância nas tribos. “A primeira edição, em 2002, contou com 54 candidatos para 15 vagas. A mais recente edição teve 753 inscritos para 42 vagas. Isso ocorre devido ao significativo crescimento demográfico nas terras indígenas e expansão da oferta de Ensino Fundamental e Ensino Médio nas aldeias”.
CONTRIBUIR
Da etnia Kaingang, Gilza Ferreira de Souza, formada em Serviço Social na Universidade Estadual de Londrina (UEL), entrou em 2006. Entrei sem perspectiva, sem motivação, sem saber ao certo o que é a universidade, o que era morar em uma cidade grande, mas a própria instituição mostrou a importância da formação acadêmica. Como eu poderia contribuir para minha tribo, para a sociedade”.
Gilza segue na vida acadêmica, atualmente tem um projeto na UEL, junto ao Programa Universidade Sem Fronteiras. “Realizo um sonho na verdade, continuo na UEL e trabalhando junto com meu povo”, comenta a assistente social.
Para Jefferson Gabriel Domingues, relacionar os temas curriculares (obrigatórios segundo o Ministério da Educação) à realidade da aldeia é fundamental. “Como professor de História, posso trabalhar com o meu olhar de índio para os conteúdos, valorizando os nossos sábios da aldeia, que são os detentores dos etnosaberes, mostrando que os nossos etnoconhecimentos podem ser trabalhados de forma paralela com os conhecimentos científicos dentro dos temas propostos no currículo”, diz ele.
O Vestibular Indígena é organizado no sistema de rodízio, entre as sete universidades estaduais e a UFPR. Em 2017, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) será a responsável pelo processo seletivo. É a terceira vez que a UEM coordena o vestibular. As inscrições podem ser feitas entre os dias 30 de junho a 31 de julho e a estimativa é de ter mais de 600 inscritos.
A seleção é feita em duas etapas: uma prova oral, no 1.º dia de outubro, depois, no dia 2 de outubro, uma prova de redação e conhecimentos gerais, com tópicos como Língua Portuguesa, Matemática, Biologia, História, Geografia e Língua Estrangeira ou Língua Indígena (Guarani ou Kaingang).
Projetos na Universidade sem Fronteira
Três projetos de extensão com a temática indígena foram aprovados pelo Programa Universidade Sem Fronteiras, o que, segundo o presidente da Cuia, contribui para aumentar a relação da universidade com as aldeias.
Entre outras ações da Cuia há a publicação do livro “Universidade para indígenas: a experiência do Paraná”, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) e o Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Outra ação foi a criação do Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica de Estudante Indígena, na UEL, com o objetivo de auxiliar e acolher os índios que ingressaram no Ensino Superior. O projeto oferece cursos especiais, retomando conteúdos do Ensino Médio, com um ano de duração.
AEN