Paranaguá é caracterizada pela presença de milhares de caminhoneiros advindos de todos os lugares do País, os quais têm, na maioria das vezes, os terminais portuários como principal destino. No entanto, o movimento diário do tráfego de veículos pesados é, corriqueiramente, um dos motivos de grande reclamação da população local, muito em razão dos complicadores para o trânsito, para a malha viária e para a questão ambiental, quando há derramamento de grãos nas vias urbanas.
Porém, para quem reclama dos inconvenientes causados pela presença dos grandes veículos carregados com grãos ou contêineres, deixa de lado o entendimento sobre o sofrimento que os motoristas passam em virtude da falta de estrutura e condição de trabalho em seu dia a dia.
O motorista Antonio Tadeu Biscaia, de 55 anos, 38 deles dedicados ao trabalho nas estradas do Brasil, revela que os caminhoneiros deixaram de ser bem-vindos pela população em geral. “Recentemente, com o grave acidente ocorrido na BR-277, viramos alvo da manifestação de ódio por muitas pessoas”, reclamou. Segundo ele, quem anda pelas estradas do País sabe bem como é viver sem a menor estrutura de trabalho e tendo que, muitas vezes, atender às exigências dos chefes que pedem por mais produtividade, mesmo que isso represente algo perigoso para a vida do próprio condutor do veículo. “Como em todas as profissões, há muita pressão para que a produtividade seja alta e os prejuízos mínimos. Isso porque, além das exigências para que as viagens sejam feitas em maior escala (aumentando as horas trabalhadas e reduzindo o tempo de descanso), temos que reduzir os custos de uma longa permanência nas estradas, o que acarreta sérios riscos para todos, inclusive para o motorista”, detalha.
Devido à condição atual a que os motoristas precisam estar submetidos, Biscaia afirma que a responsabilidade pelos acidentes nas estradas deve ser compartilhada, pois os fatores que geram as ocorrências não são provocados somente por uma pessoa. “É fato que a maioria das estradas é precária, esburacada e sem áreas de escape, situação que dificulta a nossa segurança, quando há um problema mecânico. Contudo, quando há o mínimo de estrutura, o pedágio é absurdamente caro, o que faz com que o motorista precise trabalhar ainda mais, ou seja, dirigir por mais horas do que o normal para conseguir ter o mínimo de sustento para ele e para a família. Além disso, sobre os patrões, eles deveriam exigir menos dos seus motoristas, pois o estresse pelo aumento de produtividade é levado para dentro do caminhão”, lembra.
O catarinense Eleandro Segal, de 29 anos, relata que os jovens motoristas contribuem para a fama ruim dos caminhoneiros, uma vez que boa parte faz uso de drogas ou de outros mecanismos para se manter acordado por mais tempo. “Não é uma situação incomum, pelo contrário, pois sabemos que há este mal em nossa classe, circunstância não percebida no passado. O motorista de antigamente tinha a fama de mulherengo, hoje, infelizmente, é também de drogado”, observa.
MAIS PROBLEMAS
A falta de estacionamentos apropriados para os motoristas de caminhão é uma reclamação da classe em geral, principalmente em cidades como Paranaguá. Segundo os motoristas entrevistados, os postos de combustível só permitem que o caminhão fique ali parado se houver o abastecimento no local.
Como solução para os males que afetam a classe dos motoristas, os quais transportam as cargas que impulsionam a economia brasileira, os caminhoneiros pedem que haja mais representação política, a qual faça valer a obrigatoriedade por melhores condições de trabalho.