A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, nesta segunda-feira, 21, reacendeu após a Páscoa, um legado de renascimento. Isso porque renascer significa germinar de novo. E foi assim, que o papa se manifestou pela última vez, em solenidade em Roma, no Domingo de Páscoa, fazendo renascer suas forças em meio à saúde debilitada, para deixar a mensagem de confiança e esperança única nos planos de Deus. Essa mesma, que Jesus deixou ao viver a sua dolorosa Paixão.
Será coincidência a morte do papa, um dia após a Páscoa? Serão os planos de Deus?
Será que ele sentia? Será que em suas conversas com Deus poderia entender que aquela seria sua última passagem como Francisco? Foi por isso o olhar de fragilidade à multidão, em meio à grandeza de sua força?
Mesmo que lhe faltassem ar e vigor, Francisco andou em seu Papamóvel, no agora, último passeio pela Basílica de São Pedro, e saudou a multidão no Domingo do Renascimento de 2025. Abençoou crianças. Sempre crianças. “Vinde a mim os pequeninos”.
É desse tradicional e marcante gesto de Francisco, que recordo como se fosse hoje.
Papa Francisco no Brasil
Era julho de 2013, quatro meses após ser conclamado papa, (único latino-americano), quando Francisco chegou ao Brasil, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro.
E no meio de todo aquele entusiasmo no maior evento católico de jovens do planeta, lá estava eu. Uma mala, uma câmera e um sonho: me aproximar e fotografar o papa.
A justificativa era realizar o sonho da minha mãe, devota de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Paraná, que queria ver o papa em solo brasileiro. Mas, no fundo, a vontade maior era mesmo a minha.

Juntei minha fé, a juventude daquele tempo, o escapulário no pescoço e a câmera fotográfica de uma jornalista, mas, sobretudo cidadã, que sempre foi amante da humanização em fotos e textos.
Era sábado à noite e o papa passava em um corredor pela Avenida Atlântica, em Copacabana, na noite de sábado, 27 de julho, quando aconteceria a Vigília da Juventude. Desembarcou no Forte de Copacabana, e em meio à avenida lotada de fiéis e incontáveis seguranças, atravessava a orla em seu Papamóvel.

Chegou. Parecia um raio de luz. Ofuscava os olhos diante de tamanha presença espiritual. Algo que não há como descrever. Apenas sentir. O mundo parecia parar e silenciar mesmo em meio a todo barulho. Era o silêncio dos céus. Era o humanismo do Francisco.
Saudava a todos, sorria, e parava para abençoar os bebês, que estavam nos colos dos seus pais. Foi como um renascimento para as crianças. Um batismo em meio à multidão. Perto da praia, mas longe das águas. Longe da igreja, mas perto do amor do maior canonizador da Igreja Católica: o Papa Francisco. Levantando as crianças como um pai levanta um filho em seus braços, Francisco abençoou e protegeu os pequeninos.

Ali, em Copacabana, esquecia-se tudo. De um lado, havia uma manifestação, mas pequena, diante da passagem do papa. Se o Rio é conhecido pela sua violência, não foi o que se viu naqueles momentos. União, alegria, famílias, mãos dadas, louvores e cantos eram aclamados por jovens, adultos e crianças. Sem distinção, Copacabana era branca, negra, amarela, indígena e ocupada por diversas nacionalidades. O propósito era um só: fé. A fé que um papa como Francisco simbolizava.

Na procissão apressada dos jovens, lá fui eu. Acompanhando os passos do papa, apertando os botões da câmera, pois só queria registrar sua passagem. A estátua de Carlos Drummond era ponto de descanso para os exaustos; as areias já não abrigavam os esportistas do dia, mas sim as barracas de acampamento das pessoas que passariam a noite em vigília. A chuva foi embora e deu espaço ao frescor de uma noite mais fria que costume, no Rio de Janeiro. O calor humano permaneceu. Eram louvores em ritmo de samba, pagode, pop, e as bandeiras dos países se misturavam no clamor da fé.


Corri. Torci o pé. Não parei. Fiz parte da procissão apressada dos jovens que o acompanharam – até a metade da Avenida Atlântica. O papa passou ao meu lado. Fiz o sinal da cruz. Fiz um pedido em forma de oração. Ele seguiu…

Certamente, se eu tivesse um celular com câmera moderna, naquele momento, teria feito uma selfie. Não para ostentar, mas para guardar. Sem selfie, sem grupos de mensagens e sem muita tecnologia, mas com as imagens eternas que ficam na memória, a passagem do Papa Francisco me trouxe uma dimensão para além de humildade e humanização.
Coincidência ou não, na Sexta-feira Santa desse 2025, quando fechava a capa do jornal impresso da Folha do Litoral News, me veio uma voz à mente “sugerindo” colocar um pensamento do papa na capa do jornal. Assim fiz. Talvez por ser admiradora de sua liderança frente à Igreja Católica, ou pela experiência vivida em 2013. Sem saber, ali estaria divulgando pela última vez uma palavra do papa em vida.
Hoje, faço essa reflexão em forma de texto autoral, pessoal e humanizado, como homenagem ao líder da Igreja Católica. Para Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, as palavras humanizadas, mesmo que simples, sempre foram um dom da sua comunicação com a sociedade. Para o bem e pelo bem.
Não à toa, recentemente, o papa, através do Vaticano, alertou sobre o uso da Inteligência Artificial nas mídias, destacando que “a mídia gerada pela Inteligência Artificial pode gradualmente minar as bases da sociedade. A Inteligência Artificial contém a sombra do mal devido à sua capacidade de desinformação”.
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*Esse texto não contém escrita ou qualquer interferência de Inteligência Artificial