Religiosidade

Carnaval: religiões explicam suas visões e posicionamentos sobre o período

Falar de carnaval é falar sobre cultura, portanto vamos conhecer sobre algumas práticas religiosas

Imagem de mãos unidas em oração, cercadas por velas acesas, simbolizando reflexão e devoção em um ambiente sereno e espiritual. Carnaval: religiões explicam suas visões e posicionamentos sobre o período

As origens do carnaval passam por muitos povos e remetem a tradições desde a idade média (Foto: Andrey Kuzmin/Getty Images)

As origens do carnaval passam por muitos povos e remetem a tradições desde a idade média, quando um prisioneiro vestia-se como rei e era tratado como tal pelo período de um dia, até os tempos atuais, as quais desfiles de escolas de samba mostram carros alegóricos e trajes coloridos.

Inicialmente, as festas carnavalescas eram celebrações pagãs e muito populares. Os povos da babilônia foram aqueles que abriram as alas para a festividade que hoje conhecemos, logo outros povos também iniciaram a realização da festa como os mesopotâmicos, em seguida os gregos com festas dionisíacas, em razão do deus do vinho Dionísio e os romanos com festa em razão do deus Baco, também deus do vinho.

Mas dando um salto no tempo histórico, chegamos nos dias de hoje, onde temos um mundo pluralizado, com diversas culturas e religiões. Onde o carnaval é celebrado de forma artística, mas com costumes não tão longe dos quais aconteciam há tempos na história. 

Portanto, falar de carnaval é falar sobre cultura, hoje o jornal Folha do Litoral News traz para você como as religiões católica, evangélica, islã e umbanda, vivem este tempo de festa.

Catolicismo 

Para a Igreja Católica, a festividade do carnaval não é comemorada, entretanto é uma forma de preparação para o tempo que se inicia na sequência da festividade: a quaresma. Este é um momento a qual é permitido comer carne, já que na quarta-feira de cinzas é dia de jejum para os católicos e durante o tempo quaresmal, há abstinência de carne às sextas-feiras.

“Era como um dia de permissão para comer muita carne justamente um dia antes da quarta-feira de cinzas, que é um dia justamente onde os católicos não podem comer carne porque é um dia de jejum e penitência, como é também na sexta-feira santa. É claro que os que quiserem fazer penitência durante toda a quaresma ou durante o ano também podem fazer, mas já é opcional”, relatou o missionário redentorista padre Fred Duarte.

De acordo com o missionário redentorista, a festa de carnaval foi instituída para a permissão de se comer carne, mas acredita que hoje há alguns exageros na comemoração.

“As pessoas vão ao carnaval para se divertir, mas é preciso fazer isso com respeito. Hoje, festas como estas são aproveitadas para blasfemar a Deus e a religião, levando ao desrespeito com o próximo”, salientou o padre.

Imagem de um homem sentado em um escritório com símbolos religiosos ao fundo. Ele usa óculos e um colar com um crucifixo, representando um ambiente de fé e espiritualidade. Carnaval: religiões explicam suas visões e posicionamentos sobre o período
“Era como um dia de permissão para comer muita carne justamente um dia antes da quarta feira de Cinzas, que é um dia justamente onde os católicos não podem comer carne”, relatou o missionário redentorista padre Fred Duarte (Foto: ©Folha do Litoral News)

Após a festividade do carnaval, os cristãos católicos são convidados a retirar-se para a quaresma. Este é um momento muito significativo e simbólico para os católicos, pois é o tempo que os cristãos relembram a passagem de Jesus pelo deserto e realizam práticas de abstinência de carne às sextas-feiras, assim como jejuns e outros tipos de penitência a fim de lembrar com respeito o sofrimento Cristo e as tentações que viveu no deserto.

Outras práticas realizadas pelos católicos são os atos de participarem de retiros de carnaval, para manter-se ligados com Cristo antes do tempo quaresmal e retiros espirituais que podem ser feitos em monastérios, casas de retiro, ou até mesmo aos fins de semana com a família e amigos.

“Aproveitem o tempo de quaresma para se reconciliar com Deus, com todas as pessoas com quem brigaram ou tiveram algum desentendimento e reconciliar-se consigo mesmos. Porque somente quem se ama e valoriza a si mesmo, é capaz de amar e valorizar os outros, este é o maior ensinamento de Deus a nós”, destacou o padre Fred Duarte.

Evangélicos

Para os cristãos evangélicos, o carnaval tem seu significado como “festa da carne”, e período que antecede a quaresma, a qual os cristãos ficavam 40 dias sem comer carne, seguindo até a sexta-feira santa. O pastor Maurici Alves, da igreja Assembleia de Deus, relembra a carta de São Paulo aos Gálatas, na bíblia evangélica, capítulo 5 versículo 16. 

“Digo porém, andai em espírito e não cumprireis a concupiscência da carne”, ou seja, está interligado a este período. Por isto os cristãos neste tempo, ao se divertirem nas festas acabam exagerando, esquecem de se divertir de maneira sadia, e cometem os excessos da carne”, enfatizou o pastor.

O pastor da Assembleia de Deus, Maurici Alves destacou a importância dos cristãos prestarem atenção e não deixarem levar pelos prazeres que o mundo oferece, além disso, enfatiza que devemos sempre cuidar do corpo.

“É bom ficar atento aos exageros que a festa pode trazer para nós, como o excesso de bebidas alcoólicas, excessos relacionados aos desejos do corpo. Tudo isso pode gerar muitos problemas, por isso devemos andar sempre com espírito ligado a Deus”, enfatizou o pastor.

Um homem sorri na frente de uma pintura retratando um pastor com ovelhas. A pintura está emoldurada e pendurada na parede. Carnaval: religiões explicam suas visões e posicionamentos sobre o período
“Nós os cristãos evangélicos, desaprovamos essa festividade, pois fugiu muito do real significado, que era a preparação para o tempo da quaresma”, enfatizou o pastor Maurici Alves, da igreja Assembleia de Deus (Foto: ©Folha do Litoral News)

Outra prática realizada pelos evangélicos durante este tempo, é a realização dos retiros espirituais. Esses retiros são realizados em casas, chácaras, sítios e locais apropriados e geralmente mais afastados para que os participantes criem essa relação com Deus, desligando-se do mundo.

“Nesse sentido, nós os cristãos evangélicos, ou protestantes, desaprovamos essa festividade, pois fugiu muito do real significado, que era a preparação para o tempo da quaresma, o tempo em que aconteceu a libertação do povo do egito e preparava-se para a páscoa, a ressurreição de Cristo”, enfatizou o pastor Maurici Alves.

Islã

Para os mulçumanos, não existe a comemoração do carnaval, mas para os fiéis dessa religião há duas festividades do Eid al-Fatr e o dia do sacrifício.

“Nós só temos duas festas, não temos outras festas no ano. Uma festa que vem depois do mês de jejum, que é o dia do desjejum, é chamada de Eid al-Fatr e a segunda festa, seria o dia do sacrifício”, destacou o sheik, Kassem Charkie.

O dia do sacrifício citado pelo sheik, foi o dia em que Abraão foi sacrificar o seu filho Ismael e Deus desceu um cordeiro dos céus, e Ele sacrificou esse cordeiro no lugar do filho de Abraão, desta forma, este dia também é comemorado pelo povo muçulmano.

“Então, nós, os muçulmanos, só temos essas duas datas festivas e o carnaval, na realidade, faz parte da cultura brasileira, mas não da religião. Nem o cristianismo, nem o judaísmo, nem o islâmico têm essa cultura de festa de carnaval. Mas, sim, é uma cultura aqui do Brasil e foi passando, foi mudando de época para época, até que chegou como está hoje”, salientou o sheik.

Três homens vestindo roupas tradicionais brancas em um ambiente interior. O espaço apresenta decoração detalhada e um tapete vermelho. Esta imagem destaca a cultura e a tradição islâmica. Carnaval: religiões explicam suas visões e posicionamentos sobre o período
“Nem o cristianismo, nem o judaísmo, nem o islâmico têm essa cultura de festa de carnaval. Mas, sim, é uma cultura aqui do Brasil e foi passando, foi mudando de época para época, até que chegou nesse que está hoje”, salientou o sheik Kassem Charkie. Na foto: Hajj Gassan Sabra Bhay, presidente da Sociedade Beneficiente Árabe Muçulmana de Paranaguá; Sheik Mansur Mohamed Elhadi; Sheik Kassem Charkie (Foto: Sociedade Beneficente Árabe Muçulmana de Paranaguá)

O ramadã é um tempo muito importante para os mulçumanos, que acontece no nono mês do calendário islâmico. Segundo a tradição, foi no nono mês que em 610 o profeta Muhammad recebeu a revelação da palavra de Allah, desta forma é um mês sagrado, onde os muçulmanos fazem jejum do nascer ao pôr do sol.

“Neste mês iniciou o mês de ramandã, o mês do jejum, que é o 9º mês do calendário lunar, que coincidiu em começar o dia 1º de março. Então esse é o mês sagrado, o mês em que Deus desceu todos os livros sagrados à terra”, declarou sheik, Kassem Charkie.

De acordo com o sheik, foi neste mesmo mês que Deus prescreveu o jejum para todas as religiões e é durante este período que os fiéis devem estar cada vez mais ligados a Deus, realizar a caridade, se aproximar do próximo e ajudar a quem precisa. O ramadã, portanto, é um momento de entrega a Deus e das práticas do jejum.

“Este é o mês de misericórdia, o mês de bênção, o mês que a pessoa se aproxima mais de Deus Todo-Poderoso e dessa forma alcança a misericórdia de Deus, sem dúvida nenhuma”, ressaltou Kassem Charkie.

Umbanda

Para os umbandistas, o carnaval simboliza o momento de recolhimento, a qual guardam o momento quaresmal, que corresponde aos 40 dias de Cristo no deserto. Estes fiéis realizam neste período o jejum de carne e, ao sair de casa, procuram ficar o mínimo de tempo possível fora. 

“Nós guardamos a quaresma, fazemos jejum, nos cuidamos para que não nos aconteça nada, pois o período da quaresma é um período muito forte, espiritualmente falando. Outra prática que fazemos, são os retiros espirituais, sempre abertos ao público da casa e às pessoas que desejam conhecer mais sobre as nossas práticas”, declarou o sacerdote de umbanda, Dr. h. c. Lederson Souza.

Neste período, as casas de umbanda acolhem e recebem seus fiéis para que possam realizar os seus retiros em segurança. Diferentemente de algumas religiões, as práticas de jejum realizada pelos umbandistas estão relacionadas aos trabalhos que os mesmos devem fazer. 

“Nosso jejum está relacionado ao nosso trabalho, pro exemplo, se amanhã tenho uma consulta, um trabalho, uma função, um dia antes entro em preceito, tenho que me abster de bebidas alcoólicas, cigarros, vícios em geral, para que meu corpo esteja o mais puro possível para aquele momento”, destacou Dr. h. c. Lederson Souza.

Imagem de um homem sorridente com um chapéu claro, usando uma camisa branca e sentado à mesa em um ambiente de escritório. O fundo é azul e há uma placa com o nome 'Folha do Litoral'. Carnaval: religiões explicam suas visões e posicionamentos sobre o período
“Nós guardamos a quaresma, fazemos jejum, nos cuidamos para que não nos aconteça nada, pois o período da quaresma é um período muito forte, espiritualmente falando”, destacou Dr. h. c. Lederson Souza (Foto: ©Folha do Litoral News)

Outra prática realizada pelos fiéis umbandistas é o afoxé. Este festejo acontece para purificar o local onde acontecerá o carnaval, no caso, em Paranaguá, o movimento inicia no pré-carnaval para purificar e proteger o local onde os foliões passarão no banho à fantasia, protegendo também as pessoas que por ali passarem durante a festividade. 

“O afoxé abre os carnavais, vem com sentido de purificação, ele acontece onde haverá a festa de carnaval. Neste caso, aqui em Paranaguá, o  afoxé acontece antes do carnaval em razão do banho à fantasia, para purificar o local”, salientou o Lederson Souza.

Esta prática, portanto, serve também para a purificação dos espíritos de pessoas escravizadas, para encaminhá-los. Por esta razão, o afoxé em Paranaguá tem sua saída da Igreja de São Benedito, construída pelos escravos.

“Esses espíritos ficam por ali pois foi a igreja construída por eles, igreja a qual frequentavam, eram batizados e por ser um local que os aproximava de Deus, por ali esses espíritos ficam. Então com o afoxé, eles são levados até o Rio Itiberê, onde é feito o presente para Iemanjá e é colocado no mar, para que ela leve esses espíritos para o local da sua ancestralidade”, disse Dr. h. c. Lederson Souza.

Desta forma, após a festa do afoxé, os fiéis se fecham, realizam seus retiros espirituais a fim de se resguardar, voltando com suas atividades, após o período quaresmal. 

Conselho ao jovens 

Embora cada religião tenha suas tradições, o ensinamento de cada uma delas partem de um mesmo princípio, o amor, o cuidado e a valorização de si e do próximo, seguir nos caminhos que os levam a serem bons uns para os outros. Cuidar-se de si para bem ajudar os que mais precisam, sendo assim, cada membro das religiões entrevistada para esta matéria, deixaram sua mensagem aos jovens.

“O meu conselho a todos os jovens de Paranaguá, do Paraná, do Brasil e do mundo inteiro é buscar a santidade de vida enquanto há tempo. Amar ao próximo como a si mesmo e se doar por ele. Esse é o verdadeiro amor cristão”, declarou padre Fred Duarte.

“Os jovens têm uma grande responsabilidade, pois são eles os responsáveis por dar continuidade a nossa nação, então não se deixem levar pelos desejos carnais. Peço que façam uma reflexão para terem uma vida segura, sadia, dentro os preceitos de Deus, pois Deus tem coisas especiais para oferecer a nós, basta que sigamos seus caminhos”, salientou o pastor Maurici Alves.

“Para os jovens, a procura do conhecimento é muito importante. Procurar, pesquisar, saber da realidade, saber tudo, perguntar, questionar, tirar as dúvidas, isso é muito importante. Também saber ‘por que eu fui criado?’, ‘por que Deus me criou?’, ‘por que eu estou nesse mundo?’, ‘depois que eu morrer, depois que eu sair desse mundo, para onde eu vou?’, tudo isso é muito importante e através disso essa pessoa se aproxima mais do seu criador. Esse é um conselho que eu dou para todos os jovens, a busca pelo conhecimento”, evidenciou o sheik Kassem Charlie.


“Para os jovens o conselho que dou é que busquem o conhecimento sobre a vida, sobre as religiões principalmente, pois somente com o conhecimento, é que teremos o respeito em relação a fé do próximo. Peço que olhem o próximo com amor, pois o que somos nós sem o amor?”, ressaltou Dr. h. c. Lederson Souza.

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Maria Heiffer

Redatora, formada em Letras Português desde 2019 pela Unespar, estudante de jornalismo e revisora de textos acadêmicos. Atuou como redatora em editora e em rádio. Desempenha suas funções na Folha do Litoral News como coprodutora (MEI).