Na terça-feira, 10, o casal Reinaldo Bucenko Junior, de 55 anos, e Claudia Regina Nonnenmacher, de 35, foi apresentado pela 1.ª Subdivisão Policial de Paranaguá à imprensa em coletiva realizada no local. Ambos foram presos na segunda-feira, 9, e já estavam sendo investigados pela prática continuada de tortura contra os dois filhos de Claudia, uma menina de 10 anos e um menino de 6.
O trabalho de investigação realizado pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria) revelou indícios de que a mãe e o padrasto utilizavam as crianças em rituais de magia negra.
O casal residia na Estrada do Imbocuí, local onde foram apreendidas anotações semelhantes às utilizadas em tais rituais. O Nucria representou pela busca e apreensão na residência dos investigados no dia 19 de maio. Reinaldo foi preso nas imediações da própria delegacia de polícia, enquanto Claudia foi capturada quando recebia atendimento médico no Hospital Regional do Litoral.
A denúncia partiu da escola em que as crianças estudavam, já que ambas apresentavam lesões por todo o corpo, gerando desconfiança entre os professores. O casal encontra-se encarcerado na 1.ª Subdivisão Policial à disposição da Justiça e as crianças estão sob responsabilidade dos avós maternos.
Casos recentes de abuso infantil:
- Homem é condenado a 17 anos de prisão por estuprar a filha
- Homem é detido por estupro de vulnerável na Ilha do Mel
- Homem é condenado a 116 anos e oito meses de prisão por crimes de estupro de vulnerável contra deficientes intelectuais
INVESTIGAÇÃO
A delegada do Nucria, Maria Nysa Moreira Nanni, explicou que a investigação específica para a prisão ocorre desde o início deste ano, mas as crianças enfrentavam os problemas desde 2015. “Os pais interceptaram a ação dos conselheiros tutelares, retiraram as crianças da escola e nós perdemos a identificação das crianças. Como os maus-tratos continuaram, novamente as lesões foram observadas e fizeram a denúncia rapidamente ao Nucria. As crianças foram acolhidas e a partir daí conseguimos fazer a investigação para resultar em um processo criminal”, esclareceu.
“A gente quer resolver a situação e quanto menos a criança sofre, mais fácil ela se recupera”, frisou a delegada do Nucria, Maria Nysa Moreira Nanni
De acordo com as investigações, o caso acontecia dentro do círculo familiar, não envolvendo outras pessoas. Quando analisado o local onde os rituais aconteciam e com base nas características das vítimas e dos agressores, a delegada realizou o pedido de busca e apreensão dos apetrechos e materiais comumente associados a alguma atividade religiosa.
“As crianças sofriam espancamentos diários e em várias partes do corpo. Na perícia, foi constatado que havia marcas de lesões com datas diferentes porque o corpo deixa essas marcas com colorações diferentes. Era como se o corpo das crianças fosse o mapa das agressões”, relatou a delegada.
As investigações, segundo a delegada, estão praticamente concluídas, já que muitas testemunhas já foram ouvidas e, atualmente, há um processo criminal a cargo da Justiça. O casal é acusado de diversos crimes, mas somente aqueles envolvidos com maus-tratos e tortura puderam ser divulgados pelas autoridades policiais. Com dúvidas sobre o andamento da investigação, os acusados passaram um tempo foragidos e, neste período, conseguiram um habeas corpus e um contramandado de prisão da primeira representação realizada.
SÍNDROME NAS CRIANÇAS
As crianças apresentavam um caso muito severo conhecido como Síndrome de Estocolmo, que é o nome dado a um estado psicológico em que a pessoa sente simpatia, sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor. “A criança mais velha ao mesmo tempo que narrava a tortura, queria proteger os pais. O menino teve um quadro de regressão, não falava, não tinha como se expressar, somente mediante desenho, apresentava pânico, se mudava de ambiente chorava muito, por isso não foi ouvido porque seria muita agressão. Ele chegou a desenhar a família dele com um anjinho no céu e analisando a situação vimos que ele estaria idealizando o pai, que já faleceu”, abordou a delegada.
DENÚNCIAS
Ao longo da investigação, procurou-se entender do que se tratava a violência cometida contra os menores e sobre o ritual que era praticado. “A questão do ritual satânico veio a partir de denúncia e isso nos chamou muito a atenção. Não ficou evidente que havia ritual envolvendo crianças, mas que as crianças estavam em um ambiente em que havia este tipo de tema. Se a perversidade com que elas eram criadas está envolvida com isso, não temos como saber, os réus não quiseram se pronunciar”, informou a delegada.
A denúncia foi primordial para chegar à prisão da mãe e do padrasto.
“Todos nós, cidadãos de bem, somos responsáveis pela segurança pública”, destacou o delegado adjunto da 1.ª Subdivisão Policial de Paranaguá, Nilson Diniz
“A pessoa que faz a denúncia pode ajudar a iniciar uma pesquisa, mas para que tenha consistência, precisamos de testemunhos compromissados. Se considerarmos que crianças e adolescentes são prioridade absoluta e que a legislação coloca que a sociedade tem essa responsabilidade, não tem como falar que não quer se envolver. Muitas pessoas viram essas crianças sofrendo, mas demoraram para falar por medo. Não tem por que ter medo, se a população dá força para a polícia, aí sim a gente tem condições de ajudar a sociedade a viver em uma paz mais concreta”, afirmou a delegada Maria Nysa.
PRISÃO
De acordo com o delegado adjunto da 1.ª Subdivisão Policial de Paranaguá, Nilson Diniz, os envolvidos já teriam conhecimento sobre a investigação e, por isso, já possuíam um contramandado de prisão. “Eles já se cercaram de todas as maneiras para frustrar qualquer tipo de responsabilização, que frustrasse a obtenção de elementos testemunhais e a apreensão de objetos que utilizavam nas práticas que realizavam. Só que não há mal que perdure, as investigações continuaram, foram muito bem dirigidas pelo Nucria”, disse.
O delegado salientou, ainda, que se trata de prisões preventivas, as quais são diferentes das prisões temporárias, que tinham prazo de 30 dias. Agora, eles ficarão encarcerados enquanto se encontrarem presentes e latentes os fundamentos da prisão preventiva.
Neste caso, como ocorreu no núcleo familiar e na clandestinidade, as denúncias eram mais difíceis. “Agora que o crime tomou notoriedade, é importante que a população tome responsabilidade. Todos nós, cidadãos de bem, somos responsáveis pela segurança pública. O cidadão de Paranaguá tem mostrado que tem assumido essa responsabilidade. Deixo como canal de denúncias anônimas, o serviço 181, que serve para qualquer crime”, enfatizou Diniz.