Em Paranaguá, o mês de dezembro sempre traz um significado especial. As ruas, casas e igrejas se transformam em cenários mágicos para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, e a tradição natalina tornou-se uma das manifestações culturais mais ricas da cidade.
Segundo o historiador Hamilton Ferreira Sampaio Junior, o Natal parnanguara reflete as raízes religiosas, culturais e comunitárias que definem a identidade da região. “A Missa do Galo, celebrada à meia-noite do dia 24 de dezembro, constituía o ponto alto do Natal e o momento mais aguardado pelos fiéis. Todos esperavam ansiosamente a chegada do ‘Menino Jesus’. A celebração tinha início às 20 horas, quando o ‘Menino Jesus’ era colocado na manjedoura, simbolizando o nascimento de Cristo. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga da região, era o cenário principal das celebrações, que reuniam toda a comunidade”, comenta o historiador, enfatizando que os presépios ocupavam um lugar central na tradição. Montados tanto nas igrejas quanto nas residências familiares, representavam a cena do nascimento de Jesus.
Criatividade Local
Os presépios eram o coração da celebração natalina, retratavam a cena do nascimento de Jesus. “Entre as décadas de 1950 e 1960, destacava-se o presépio mecânico de Manoel da Cunha Picanço, instalado em sua residência na Rua Barradas, próximo ao local onde hoje se encontra a loja Pernambucanas. As residências também eram adornadas com luzes e plantas, aumentando ainda mais o encanto da época natalina.
Outro atrativo marcante era o Papai Noel do Veiga, que promovia uma carreata com carros alegóricos que percorriam o centro da cidade, um momento muito aguardado por todos”, outro não mais importante era o Natal da Loja Hermes Macedo, sempre com muitos atrativos, os pais levavam os filhos para assistirem e aproveitarem todas estas celebrações, relata Hamilton, e enfatiza as iniciativas organizadas pelos comerciantes da cidade. “Entre eles, o senhor Chafic Farah, Cesário e muitas outras firmas de Paranaguá que colocavam em suas lojas o Papai Noel com balas e brindes para que as crianças pudessem fazer seus pedidos de Natal. Cada estabelecimento tinha o seu próprio Papai Noel”, completa.
Um amigo se recorda de um presente especial que recebeu: um remo de engrenagem, espécie de carrinho de rodas acionado por impulsos dos braços, semelhante a um vagonete, que proporcionava horas de diversão na Praça Fernando Amaro. “As crianças aguardavam ansiosamente o Natal, cuja noite constituía o ápice das celebrações, com a distribuição de presentes e a ceia, servida pontualmente à meia-noite”, comenta o historiador.
Tradições Gastronômicas
A ceia de Natal era uma celebração única. Entre os pratos tradicionais estavam o bacalhau, pernil, peru e, para muitas famílias, o caranguejo. Entre as frutas, destacavam-se maçãs e peras, muitas vezes envoltas em papéis coloridos. Rabanadas, bolos de fubá, bananas e pratos preparados com melado e farinha também eram comuns. “Entre os costumes curiosos, destacava-se o hábito de quebrar patas de caranguejo e fingir que eram nozes — as chamadas ‘nozes de caranguejo’. Essas receitas natalinas tradicionais representavam mais do que apenas alimentos; eram formas de conectar as pessoas, celebrar a herança cultural e criar memórias duradouras entre amigos e familiares. Cada prato possuía sua própria história e significado, o que tornava a refeição de Natal ainda mais especial”, comenta Hamilton.
Outro costume encantador encontrado na pesquisa do historiador era a chegada dos moradores das ilhas da Baía de Paranaguá, que traziam seus afilhados à cidade para receberem a bênção dos padrinhos e os presentes dos compadres. O Rio Itiberê fervilhava com barcos coloridos vindos das ilhas.
Solidariedade e Festas Natalinas
Desde o início do século XX, a solidariedade fazia parte do Natal parnanguara. “Em 1902, foi criado o Natal dos Pobres, uma iniciativa nobre de dona Hermínia Ferreira dos Santos, zeladora da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus. Ela percorria o comércio local para angariar donativos destinados aos mais necessitados. O dinheiro arrecadado era reunido na ‘Caixa’ e, na manhã de Natal, após a missa das 8 horas, os presentes adquiridos com esses recursos eram distribuídos na sacristia da igreja matriz. Essa ação humanitária perdurou até o ano de 1929”, explica Hamilton, que também menciona as festas natalinas dos Clubes. “O Club Litterario promovia festas infantis em comemoração ao Natal, realizadas sempre no dia 25 de dezembro, com ampla distribuição de prêmios, brindes e doces. Em 1951, foi montada uma grande árvore de Natal, com diversos presentes, enquanto as crianças entoavam em coro canções natalinas. Cantorias e manifestações populares, como a Folia de Reis, também integravam as festividades. Grupos de músicos, munidos de violas e tambores, visitavam as residências, cantando e levando bênçãos”, enfatiza.
Paranaguá, com sua forte ligação às atividades portuárias, preservava um senso de comunidade muito presente. Trocas de alimentos, visitas entre vizinhos e confraternizações em praças e ruas eram práticas comuns. “No século XIX, a cidade, embora fosse um importante porto e centro comercial, ainda mantinha características de uma pequena vila, com ruas de pedra, construções coloniais e uma vida social centrada na igreja e no mercado. O Natal, portanto, era um reflexo dessa vida simples, mas repleta de significados, unindo religião, cultura e comunidade”, explica Hamilton.
O historiador Hamilton destaca que essas festividades mostram como a cidade unia fé, cultura e convivência comunitária em uma época que, embora marcada por dificuldades, era rica em significado.
“Caros leitores, nos despedimos desta memória natalina com uma linguagem que apenas quem é bagrinho pode compreender… Que “Meu Bonje” te traga um “semelho” de um “lemarde” de um “chimirde” de um Natal. “Vede” que é noite de festa, “disque”! “Quedele” a alegria? Heim seus “coisos bobos”? Amanhã é dia de ficar de “varde” e hoje de ficar “cozido”. Então “dale” Feliz Natal pra mim que “te dolê”, finaliza Hamilton, desejando a todos um feliz Natal.