Os moradores na Vila Guarani que estão em área de manguezal terão que deixar suas casas por se constituíres em locais de preservação permanente. O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região responsabilizou a Prefeitura de Paranaguá pela urbanização da área, a qual deveria ter sido proibida. Esta não é a primeira vez que a população do bairro ouve a notícia de possível realocação, que resulta em medo de, desta vez, terem realmente que deixar suas casas.
O Tribunal determinou que os ocupantes sejam realocados, as construções existentes desmanchadas e a área recuperada. A ação é movida desde 2011 pelo Ministério Público Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Em nota, a Prefeitura de Paranaguá, por meio da assessoria de comunicação social, esclareceu que as pessoas que se encontram nessas áreas irregulares devem ser incluídas nas políticas de regularização fundiária. “A atual administração deve estudar com cautela todas as ações que serão tomadas, especialmente, com relação aos moradores na Vila Guarani e à decisão judicial”, frisou a prefeitura.
REALIDADE DOS MORADORES
Residente no fim da Rua Antônio José Santana Lobo há cerca de dez anos, Maria Pontes relata que a sua vontade era de reformar a casa para oferecer uma vida melhor a seu filho e neta. Segundo ela, os moradores aguardam indenizações e não uma realocação para outro bairro da cidade. “Quando vim para cá era do mesmo jeito que está hoje. Se nos derem a indenização, a gente sai daqui, mas para colocar a gente em um local onde não tem condições para nada, eu não vou. Minha filha foi realocada para o Porto Seguro e lá não tem nada perto, fica tudo difícil. Para quem vive de pesca, o que vai fazer lá?”, indagou Maria, relatando um pouco da realidade de quem mora no local. “A prefeitura veio aqui e disse que eu não poderia fazer obras na minha casa, porque eu vou perder, faz mais de um mês que estou tentando reconstruir um pedaço da minha casa que estava caindo. Quando chove, durmo na chuva”, afirmou.
“Minha filha foi realocada para o Porto Seguro e lá não tem nada perto, fica tudo difícil. Para quem vive de pesca, o que vai fazer lá?”, indagou a moradora Maria Pontes
Para ela, a realocação somente dos moradores nesta localidade na Vila Guarani, enquanto outras em Paranaguá vivem a mesma realidade, se justifica pelo interesse da ampliação de uma empresa. “Por que estão vindo só aqui? Tem outros bairros nessas mesmas situações. Já tentaram colocar uma placa para interditar a minha casa, mas por que isso? Falam que aqui é área de risco, mas nos querem tirar daqui porque há o interesse da empresa. Por isso, se me pagarem para sair daqui, até hoje eu saio”, contou Maria.
João do Carmo Constantino chegou na Rua Antônio José Santana Lobo em 2005 e está há dois meses desempregado. Sua vontade também era a de melhorar sua casa, mas foi orientado a não fazer obras sob o risco de perdê-la. “A prefeitura esteve aqui, me chamaram também para ir lá conversar, explicaram que teríamos que sair daqui e que não valia a pena construir porque iríamos perder. Isso foi há mais ou menos uns três anos”, destacou.
João do Carmo queria melhorar sua casa, mas foi orientado a não fazer obras sob o risco de perdê-la
O morador concorda com Maria e acredita que o melhor seria se eles pudessem ter condições financeiras de morar em outro bairro. “A situação da gente é difícil, mas a gente não tem outro lugar para viver. A melhor solução para nós seria uma indenização, pelo menos poderíamos comprar uma casa onde quiséssemos. Isso preocupa a gente, porque nunca se resolve, a gente fica ‘em cima do muro’ sem saber o que fazer”, afirmou João.
INDIGNAÇÃO
Há 25 anos morando no mesmo local na Vila Guarani, Oziel Pires de Barros, lembra que já foram feitas promessas para melhorar a qualidade de vida de quem mora na região. “Falaram que iam fazer o esgoto, aterrar a rua e colocar iluminação, até hoje não fizeram nada. Muita gente deixou de construir para esperar por isso”, disse.
Oziel Pires quer uma indenização para se mudar para outro bairro
Segundo ele, o problema não está em sair do local, mas na forma como querem tirar as famílias. “A gente tem que escolher o local que queremos ir, porque já teve muito pescador que colocaram no meio do mato, o que ele vai fazer lá? Os filhos estão se envolvendo com drogas e aqui eles iam buscar marisco para comer em casa. Tem que olhar isso também. Com a indenização cada um escolhe onde quer ir”, alegou Oziel.