Pesquisadores da UFPR descobriram espécie na Ilha dos Currais, em Pontal do Paraná
A natureza do litoral do Paraná é rica e única, uma das provas disso foi divulgada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR): a descoberta de uma espécie de molusco nomeado de Drymaeus currais que só existe no Parque Nacional Marinho da Ilha dos Currais, em Pontal do Paraná. O invertebrado é nativo do litoral paranaense e só existe na região, sendo que está, inclusive, ameaçado de extinção. De acordo com a UFPR, a ilha é também o maior berçário de atobás de todo o Brasil, entre outras contribuições importantes para e ecossistema.
“O estudo feito pelos cientistas, publicado na Revista da USP Papéis Avulsos de Zoologia, revela que a espécie resulta de um processo evolutivo que a tornou distinta do Drymaeus castilhensis, molusco natural da Ilha de Castilho, que fica a aproximadamente 70 quilômetros ao norte do parque”, explica a assessoria da UFPR. “Apesar da concha rajada muito similar ao Drymaeus castilhensis, um estudo anatômico complementar demonstrou importantes diferenças que permitiram a separação específica”, complementa.
Segundo a UFPR, há características reprodutoras e digestórias únicas da espécie. “A pesquisa é conduzida pelo professor Carlos Eduardo Belz, do Centro de Estudos do Mar (CEM); pelo pesquisador Marcos de Vasconcellos Gernet, do Programa de Pós-Graduação em Zoologia da UFPR; em parceria com o professor Luiz Ricardo Simone, da Universidade de São Paulo (USP)”, salienta.
“Pela semelhança visual com o Drymaeus castilhensis, pensamos se tratar da mesma espécie e ficamos intrigados. Moluscos terrestres são organismos muito sensíveis, por isso é difícil imaginar que um indivíduo pudesse ter chegado até a região flutuando em alguma coisa ou carregado por aves marinhas”, afirma Belz. O fato de um molusco terrestre estar em uma ilha chamou a atenção dos pesquisadores. “Os indícios levam a acreditar que o invertebrado iniciou o processo de especiação, isto é, de evolução há centenas de anos, quando o mar de toda a costa brasileira era muito mais recuado”, afirma a assessoria.
“Nessa época, Currais ainda não era um arquipélago e pertencia ao continente. Provavelmente espécies similares circularam por essa região e, com o avanço do mar e da linha de praia, as ilhas ficaram isoladas e isolaram também essa população de molusco”, ressalta o professor. De acordo com ele, após centenas de anos em que os animais ficaram se reproduzindo entre eles, aconteceu a divisão das linhagens.
O pesquisador Gernet destaca ser pitoresco o fato do habitar ser reduzido a uma ilha pequena. “Os indivíduos estão limitados a essa ilha, nem nas outras ilhas desse mesmo arquipélago foram localizados exemplares. Por isso, esse pequeno ambiente tem extrema importância para a manutenção dos animais dessa classe. Qualquer interferência ou desequilíbrio que ocorra nessa ilha, como uma queimada na vegetação, implica o desaparecimento da espécie”, explica, destacando que a estiagem depende da umidade e, consequentemente da chuva, sendo que a estiagem pode ser um fator de risco para o caramujo.
“A descoberta do molusco é importante para a biodiversidade do litoral paranaense e sugere que o ambiente está favorecendo o aparecimento de novas espécies. De acordo com os pesquisadores, o estudo, que iniciou em 2017, aponta para a existência de diferenças anatômicas entre duas populações de conchas quase indistinguíveis e indica, portanto, a necessidade de explorar o máximo possível as características além da concha nesses organismos”, informa a UFPR.
Ilha dos Currais
“Criado em 2013, o Arquipélago de Currais é o terceiro Parque Nacional Marinho do Brasil – os outros dois estão localizados em Fernando de Noronha (PE) e Abrolhos (BA). A área tem extrema importância para a biodiversidade marinha do litoral do Paraná, apesar de ser pouco conhecida pela população e de ainda não ser objeto de muitos estudos”, informa a UFPR, destacando que o arquipélago está localizado a seis milhas náuticas de Pontal do Paraná. “Constituído por um grupo de três pequenos ilhéus rochosos, a Ilha do Grapirá representa 81% da sua área total, que possui 1.357,7 hectares”, completa.
Com informações da UFPR
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