Com a proximidade do Dia de Finados, o movimento nos cemitérios aumenta de forma expressiva. O cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Paranaguá, é considerado um dos mais antigos do Brasil, de acordo com pesquisadores.
No local existem túmulos de mais de 100 anos que ainda recebem visitantes comprovando que a morte não é capaz de apagar o brilhantismo que a pessoa teve em vida. De acordo com o administrador do cemitério, Elisio Poletti, alguns túmulos são visitados o ano inteiro.
“O túmulo de Maria Bueno e Dr. Leocádio são os mais visitados. As pessoas trazem flores e acendem velas o ano inteiro, pois existe uma devoção antiga e muito forte em todo Paraná”, conta Poletti.
Todos os anos, no dia de Finados, o campo santo recebe em média 30 mil visitantes. Neste ano a expectativa não é diferente. O movimento iniciou na semana que antecede a data em homenagem aos falecidos. Neste sentido alguns sepulcros ganham destaque.
MARIA BUENO
Maria Bueno nasceu em Morretes, em 1854, e morreu em Curitiba em 1893. Teve uma vida sofrida e ajudou os pobres. Conforme relatos históricos, o modo violento como Maria Bueno foi morta, causou comoção na cidade.
No local da tragédia, atual Rua Vicente Machado, no Centro de Curitiba, foi colocada uma cruz de madeira, onde nasceu uma rosa vermelha. Segundo a lenda, Maria Bueno passou a atender as preces dos devotos que iam até o local. Apesar de estar sepultada em Curitiba possui túmulos espalhados por todo o Paraná. Há relatos de milagres e preces atendidas, sendo também chamada de ‘santa Maria Bueno’ por muitos devotos.
DR. LEOCÁDIO
O médico Leocádio José Correia nasceu em Paranaguá no ano de 1848 e faleceu na sua terra natal em 1886. Apesar de ter partido há mais de um século, a devoção em torno do médico cresce a cada ano. Além da medicina, também exerceu outras atividades: foi deputado e autor de peças teatrais.
Em seu túmulo, localizado no cemitério Nossa Senhora do Carmo, as visitas são intensas o ano inteiro. Fátima Hajar, que trabalha no cemitério, também é devota do médico. Ela contou que teve um pedido atendido. “Ele me curou em uma semana quando eu quebrei a costela. Rezei para ele e fiz promessa e fui atendida”, contou.
AURICIDIA SANTOS
Outro túmulo que está preservado e possui mais de um século pertence a alguém que fez parte da cultura popular de Paranaguá. Auricidia da Costa Santos viveu apenas 20 anos, entre 1895 e 1915. De acordo com os funcionários do cemitério, muitas pessoas ainda visitam o túmulo. “Ela foi enfermeira voluntária e curandeira. Muitas coisas que ela não pôde fazer no tempo dela aqui na terra está fazendo hoje. Quem reza com fé tem seu pedido atendido”, contou a funcionária Fátima, que é testemunha dessa devoção.
COSME E DAMIÃO
Outro local que tem intensa visitação no cemitério é o monumentos em homenagem aos santos da igreja católica Cosme e Damião. “Não podemos chamar de túmulo e sim um ponto de referência que está presente aqui no cemitério há mais de 100 anos”, conta o administrador Poletti. No local, as pessoas acendem velas e deixam doces em forma de agradecimento por pedidos atendidos.
TÚMULOS HISTÓRICOS
Alguns mausoléus apresentam estilo das construções da época como janelas góticas e adornos de ferro cheios de detalhes que na época eram importados da Europa. Esculturas de anjos são as mais comuns nos túmulos erguidos no século XIX. De acordo com os historiadores que publicaram artigos sobre esse tema, antes dessa época, as pessoas eram enterradas em torno das igrejas, por isso as características dos primeiros túmulos remetem aos símbolos sacros, como imagens de anjos e cruz.
Túmulo de Visconde Nácar é uma das referências históricas
A sepultura do comerciante que chegou a ser vice-presidente da província do Paraná, Manuel Antônio Guimarães, o Barão e Visconde de Nácar, possui uma coroa. O símbolo indica a monarquia, perpetuando para a posteridade o título nobiliárquico que recebeu de D. Pedro II.
Dos túmulos históricos que se encontram no campo santo, ganham destaque o do rico comerciante alemão Mathias Böhn, o qual fixou residência em Paranaguá, falecendo em dezembro de 1907. Outros jazigos de personalidades que podem ser encontrados no local são: professor Randolfo Arzua, do contabilista Alberto Gomes Veiga, do comerciante Prisciliano Correia, José Gomes, Coronel Elísio Pereira entre outros.
Poletti mostrando o tumulo do Coronel Elisio Pereira, preservado pela família
Capela central foi o primeiro necrotério de Paranaguá
LIMPEZA DE TÚMULOS
Ao longo da semana, centenas de pessoas movimentaram o cemitério realizando limpezas e reformas. De acordo com a administração do local, as manutenções são permitidas até o dia 1.º de novembro.
A aposentada Rosi Ramos de Oliveira, moradora no Jardim Iguaçu, todos os anos faz a limpeza do túmulo da família. “Aqui estão sepultados meu neto Matheus, meu cunhado José e meu sogro. É um lugar que temos que preservar porque é a nossa última morada. Por isso temos que zelar porque agora só resta a saudade”, contou ela enquanto limpava.