Na quinta-feira, 28, a Folha do Litoral News prosseguiu com a série de entrevistas com os vereadores eleitos em Paranaguá. O entrevistado foi o advogado e vereador reeleito para seu terceiro mandato pelo partido REPUBLICANOS, Dr. Adalberto Araújo, que é também jornalista e comunicador, sendo ordenado pastor desde 2012, bem como atuante no meio esportivo como enxadrista e mestre da Federação Internacional de Xadrez. Dr. Adalberto, que foi reeleito com 1.006 votos, abordou sua expectativa para atuação na próxima legislatura, trazendo propostas para temas de relevância para o município como Patrimônio Histórico, Segurança e Saúde, além de qual deve ser seu posicionamento na Câmara. Confira:
Patrimônio histórico
“Esse é um problema que a gente vê que se arrasta há muitos e muitos anos. Eu penso que passa inicialmente pela formação pelo Poder Executivo de uma equipe técnica, competente, que seja do ramo, para poder formular projetos junto ao Iphan e instituições federais para trazer recursos, para fazer esta revitalização, esta recuperação. Não podemos conceber que um prédio como o Palácio Visconde de Nácar que já recepcionou o imperador do Brasil esteja abandonado, inclusive oferecendo risco de desabamento. Sabemos que ali havia preciosidades, obras de arte, a própria escadaria, que eu não sei em que condições está, quantas figuras históricas não passaram pelo Palácio Visconde de Nácar?”, afirma o vereador.
Segundo ele, outra possibilidade é a devolução de recursos da Câmara ao Executivo com o intuito de utilizar esta quantia para revitalização dos prédios. “Quem sabe, em conversa com os vereadores, em havendo uma boa gestão na administração da Câmara Municipal, com eventual sobra, que por vezes voltam recursos da Câmara, são devolvidos para a Prefeitura, este ano, se não me engano, acho que em torno de R$ 15 milhões serão devolvidos, por que não, devolver, mas já com uma chancela indicando ao prefeito que os 19 vereadores pretendem que os recursos sejam utilizados para revitalização destes prédios?”, destaca Dr. Adalberto. Ele destaca também que havendo um bom diálogo com o prefeito e ele sendo favorável a esta iniciativa, não o pressionando desde já, isso poderá beneficiar o município. “A gente não sabe realmente em que condições o prefeito irá pegar a Prefeitura. Talvez haja prioridades em cima de prioridades, então é uma coisa que precisa realmente ser construída com diálogo e bom senso, mas sim, precisamos nos atentar para a nossa História, nossa memória”, salienta, frisando inclusive a necessidade de educar as crianças por meio dos prédios revitalizados.
“Penso que cabe uma restauração no próprio Cemitério Municipal Nossa Senhora do Carmo, onde estão sepultados vultos históricos. Temos ali pessoas que fizeram história no Brasil, não digo nem no Paraná, que poderiam fazer parte de um circuito de turismo, de visitação, como acontece em outras cidades. Temos que trabalhar nesse sentido sim”, ressalta Araújo.
Segurança
O vereador explica que segurança pública é um problema complexo que deve ser levado como prioridade pelo Poder Público. “Paranaguá, como cidade portuária, infelizmente têm sido exposta não somente a criminalidade, mas a própria prostituição e prostituição infantil. Não podemos fechar os olhos para esta situação, tem que haver uma integração das forças de segurança, isso todo mundo fala, para que haja primeiramente uma inibição da prática de delitos, bem como a parte da repressão onde, para isso, é necessário uma Guarda Civil Municipal (GCM), uma Polícia Militar, uma Polícia Civil e uma Polícia Federal, muito bem equipadas. Percebemos às vezes que o crime organizado está muito mais preparado e amparado do ponto de vista bélico inclusive, do armamento, do que o próprio Poder Público. Tem que haver esta interação. Nos preocupa muito, por exemplo, uma decisão recente do STF retirando atribuições de flagrante por parte da GCM. Então, o guarda civil municipal que prende o traficante em flagrante e o STF está mandando soltar por conta de que a Guarda Civil Municipal não teria esta atribuição, o que para nós é uma temeridade, espero que este posicionamento tenha sido isolado e que haja uma ampla discussão com a sociedade”, salienta.
“Do ponto de vista constitucional, seria do Estado a responsabilidade maior pela repressão e questão da segurança pública, mas sim, tem que haver essa interação e uma participação do Poder Público Municipal nestas linhas de frente. Uma ideia que me ocorreu há algum tempo, mas até porque eu não estava tendo uma base de vereadores suficiente para uma iniciativa nesse sentido, eu penso que valeria uma audiência pública com especialistas na área de segurança, mas também chamar as comunidades religiosas, os líderes religiosos, para debatermos a segurança pública e avançarmos em algumas ideias que possam ser factíveis e implementadas, fazendo um protocolo de intenções, levando essas sugestões para diversas esferas de governo, seja municipal, estadual e federal. Não podemos continuarmos inertes a esta situação, inclusive com pessoas inocentes morrendo por conta de brigas com líderes de tráfico, muitos jovens morrendo”, afirma Araújo.
Segundo o Dr. Adalberto, a sociedade não pode entender que “enquanto estiverem se matando os traficantes está tudo beleza”. “Não está beleza, gente. É você fazer uma negativa da autoridade do poder do Estado. A vida está em primeiro lugar, então é você assinar um atestado de incompetência e não gerir a questão da segurança pública. Um exemplo disso é que no terminal rodoviário em frente ao INSS, nós temos os sanitários, que estão, infelizmente, em estado deplorável. Se hoje uma senhora ou uma moça tiver que ir ao banheiro, ela não terá papel higiênico no banheiro, ela terá que ir administração do terminal pegar meia dúzia de folhinhas e ir até o sanitário”, frisa, salientando que isso ocorre devido à gestão municipal afirmar que não pode deixar papel higiênico no banheiro “pelos drogaditos irem lá, pegarem e roubarem o papel higiênico, isso é um atestado de incompetência, é dizer para a população que não se têm condições de coibir este tipo de delinquência dentro de um prédio público”, explica, ressaltando que isso exemplifica “a incompetência de gestores na condução deste tipo de problema.
“Não podemos normalizar, achar que está tudo bem, que faz parte, que o Brasil vive esta epidemia de violência. Paranaguá precisa mirar nos melhores exemplos, nas melhores gestões, ver como as políticas de tolerância zero contra o crime deram certo, inclusive em cidades do Brasil, especialmente do sul. Precisamos mirar nos bons exemplos, ver o que funciona lá que pode ser aplicado em Paranaguá”, afirma Dr. Adalberto. “Os comerciantes e moradores da região central da cidade reclamam muito da falta de monitoramento e de policiamento ostensivo para coibir essa práticas. No La Barca, temos o Clube Santa Rita ao lado, que já está cansado de suportar prejuízos porque os drogaditos, os dependentes químicos, invadem o lugar, roubam desde fiação até os caiaques e equipamentos. O banheiro do La Barca, que agora acabou de ser entregue, estava em condição que você não podia ir, porque o pessoal usa aquele espaço para se drogar. Então, tem que haver um policiamento ali”, explica, destacando a necessidade das forças policiais atuarem contra este tipo de crime, dando uma resposta à população.
“Vamos dialogar, fazer uma comitiva junto à Secretaria de Estado da Segurança, junto ao novo comandante da nossa GCM e secretário municipal de Segurança, para que possamos encontrar soluções. Até um tempo atrás, a PMPR não tinha viaturas suficientes para poder atender as demandas, então, se a viatura estava aqui pelo centro e acontece alguma coisa na Vila Garcia, até o policiamento chegar lá demorava”, explica, frisando também a necessidade de que a central de atendimento seja local.
Saúde
Segundo o vereador, com relação à saúde pública, é necessário recorrer a bons exemplos na gestão da área, inclusive em municípios paranaenses com alto grau de eficiência e de satisfação dos usuários. “Temos que ver o que acontece lá, para replicar em Paranaguá. Muito disso passa não somente pela questão do atendimento, mas também pela falta do equipamento, você não tem um raio-x, um vidrinho daquele para fazer coleta e exame, você veja que coisa banal, aconteceu isso agora. Às vezes não se tem o curativo. Isso é falta de gente com capacidade para prever a duração dos materiais, necessidade de licitações, antevendo demoras em processos e não deixando o risco de faltar o insumo lá na ponta. Eu tenho que me antecipar, isso é planejamento e gestão”, frisa.
“Com relação ao atendimento, é necessário ter um número razoável de profissionais para estar à disposição da população e, mais do que isso, fazer uma capacitação constante que o servidor, a maioria têm, mas alguns não contam com empatia pelo próximo que está alí. Ninguém vai para a UPA para admirar o prédio, vai lá porque está precisando estar lá, um familiar está, então, é possível que haja uma forma de atendimento diferente, humanizada, para se colocar no lugar do outro. Isso se faz motivando, dando um ambiente de trabalho bom ao servidor, com um equipamento para ele trabalhar adequadamente, sendo bem remunerado, recebendo a hora-extra que faz, aquele que têm direito ao adicional tem que recebê-lo. Ele deve ter uma satisfação para estar alí e ser servidor, servir à população, assim como os agentes políticos, prefeitos, vereadores e outros cargos de confiança dos gestores”, salienta Aráujo.
O vereador ressalta a necessidade de ter empatia no atendimento de saúde, bem como verificar a questão dos concursos públicos no setor, principalmente na área médica. “Não é possível termos que esperar três meses para o agendamento de uma consulta. A gente vê isso no dia-a-dia. Como se corrige isso? Passa justamente por esta compreensão. Penso que, no caso do prefeito eleito Adriano Ramos, a primeira coisa que ele têm que fazer é conquistar o coração do servidor nas mais diversas áreas, mas especialmente na área de saúde pública. Eu sei que, especialmente neste início de mandato, não vai dar para corrigir vários problemas, até porque o orçamento será engessado e pelas dívidas, mas tem que fazer com que o servidor compre esta ideia. Se nos primeiros 100 dias, a população até pode ir lá e continuar demorando para ser atendida, mas se tiver um servidor que converse, tenha compreensão, ofereça um copo de água, atendendo de forma humanizada, a população já sentiria uma diferença, mas para isso é necessário motivar o servidor, caminhar junto com a gestão”, completa.
“Saúde pública não pode esperar, saúde pública é para ontem. Minha percepção é de que têm que se caminhar ao lado do servidor para fazer o melhor atendimento que possa ser feito, gerindo bem os recursos públicos, pois arrecadamos bastante e gastamos mal, aplicando o recurso público, dando estrutura para o servidor trabalhar e propiciar a contratação de médicos, enfermeiros, técnicos, para poder atender a população da melhor forma”, afirma o legislador.
Posicionamento na Câmara
Dr. Adalberto afirma que o foco dele é prosseguir sendo coerente no seu mandato, assim como ocorreu nos outros dois na Câmara. “Não é porque estaremos na base do prefeito eleito Adriano Ramos que a gente vai digamos esquecer o nosso passado. Isso é coerência. É você estar deste lado ou daquele do balcão e permanecer da mesma forma, algo inegociável. Se tem uma coisa que eu tenho certeza que o Adriano não irá fazer é mandar matéria complexa, às 17h, para votar às 17h30 em regime de urgência. Tem algumas matérias, vamos supor, o Tarifa Zero, que foi imposto, votado em regime de urgência, é uma matéria que deveria ter sido precedida de audiências públicas para ouvir a população, saber qual modelo queremos, de que forma, que garantias mínimas iríamos ter sendo um serviço gratuito, onde prefeitura e empresários desembolsam mensalmente recursos, vendo qual o modelo de serviço, os itens de comodidade, Wi-Fi, ar-condicionado, frota renovada, etc. Inclusive chegamos a apresentar emendas neste sentido que foram derrubadas”, explica.
“Outra coisa necessária é discutir o orçamento, estar nas comunidades, ouvir a população, ver os anseios dos moradores de cada bairro, para que a gente possa ter um orçamento mais próximo da necessidade da população possível. Tendo um prefeito que sabe das agruras que é ser vereador, cobrado, pois nós estamos mais na padaria, no supermercado, na rua, vendo o jogo de futebol no campinho da Vila Primavera, então somos cobrados e ele vai ter a sensibilidade de não mandar abacaxi para a gente votar. Às vezes poderá ter matéria impopular, mas que é necessária, onde é necessário ter o debate, importante permitir o contraponto, até porque, de repente, podemos fazer uma emenda, uma contribuição, lá na Câmara de Vereadores, para melhorar o texto, com um outro olhar”, frisa, destacando que o prefeito eleito será aberto ao diálogo com os vereadores, “para que possamos, já quando vier do Executivo, ter um texto mais próximo daquilo do que a gente vê como correto para ser votado”, explica.
Outro ponto frisado e que deve ser prioridade na próxima legislatura, para o vereador, é o Plano Diretor. “Vamos sugerir a revisão do Plano Diretor, que o Poder Executivo reveja pontos importantes, para que alguns gargalos sejam desfeitos aqui em Paranaguá, permitir novas construções, casas populares para atender a população que mais precisa, pois hoje as áreas que estão liberadas para construções são mais para gente que ganha bem. Agora, para liberar conjuntos habitacionais em regiões que já têm estrutura, não se permite fazer além de três ou quatro pavimentos. Alguma coisa precisa ser refeita. A quem atende este tipo de restrição? Então, precisamos rever algumas coisas e tenho certeza que o prefeito eleito conhece essa realidade, já foi vereador e ele tem dito e repetido que ele vai fazer a cidade se desenvolver a partir de um conjunto de medidas que passam inclusive na alteração de algumas leis”, finaliza Dr. Adalberto Araújo.
A entrevista na íntegra está na página da Folha do Litoral News no Facebook.