Meio ambiente e sustentabilidade são focos da revisão do Plano Diretor em Paranaguá

80% do território do município é composto por áreas ambientais e massa de água

A revisão do Plano Diretor que está em andamento em Paranaguá, de acordo com técnicos da empresa Safra Planejamento, responsável junto à prefeitura pela elaboração do processo, coloca como alicerces o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente. De acordo com o estudo e mapeamento feito no processo, cerca de 80% da área do município é composta por água, entre mar e a baía de Paranaguá, bem como por áreas de matas, ou seja, pensar no desenvolvimento parnanguara é algo que deve obrigatoriamente levar em consideração o respeito ao meio ambiente aliado à evolução econômica, urbana e social.

A revisão para estabelecimento do novo Plano Diretor é algo que está sendo feito desde 2019 em diálogo contínuo com a população urbana, das comunidades insulanas e rurais, bem como setores públicos e privados envolvidos, com diagnóstico da realidade urbana, proposições para reordenamento da cidade e elaboração de uma nova Lei ao fim do processo que norteará as prioridades do Plano de Ação e Investimento (PAI) no município para os próximos anos.

Após cumprimento de duas fases da revisão, com diálogo com a população em audiências e oficinas com a comunidade, diagnóstico da realidade do município, a fase atual em vigência é a 3, com proposições e diretrizes em diálogo com moradores em 14 bairros de Paranaguá em oficinas de leitura. A quarta e última etapa da revisão é de legislação e do Plano de Ação e Investimento (PAI), que definirá as principais ações e prioridades para desenvolvimento, planejamento urbano e zoneamento, em que o meio ambiente será um dos focos.

Meio ambiente

Fabrício Vergara, arquiteto e urbanista, diretor da Safra Planejamento, responsável por auxiliar a Prefeitura de Paranaguá na revisão do Plano Diretor, afirma que a questão ambiental na cidade deve ser vista com responsabilidade. "Além da necessidade de preservação, o meio ambiente é uma potencialidade de Paranaguá. O turismo ambiental é algo que pode ser explorado potencialmente por toda esta riqueza do meio ambiente de Paranaguá, algo que precisa ser melhor trabalhado. Se vê muito potencial. Em um momento que se fala na geração de emprego, os postos de trabalho podem estar justamente neste turismo ambiental, que vai preservar os espaços. Paranaguá tem uma visão de emprego muito voltada ao Porto, então esta questão ambiental, que hoje parece ser um peso para o município, pode ser um grande atrativo e tem um potencial na área econômica e social para ser explorado", explica.

Eduardo Rodrigues, engenheiro ambiental e sanitarista, um dos técnicos responsáveis pela revisão do Plano Diretor, destaca que a riqueza ambiental de Paranaguá é levada em consideração neste processo. "Temos várias reservas naturais, um ecossistema rico, com espécies que não se encontram em outros locais, o que é muito importante para a sociedade e para a comunidade acadêmica com vários estudos. Um dos pilares do Plano Diretor é a sustentabilidade, um tema muito falado hoje em dia, que está baseada em três pilares: ambiental, social e econômico", explica.

"Ouvimos em diálogo com parte da população com relação às áreas verdes, se isso atrapalha o desenvolvimento da cidade, por não poderem ser ocupadas ou utilizadas, mas quando falamos em respeitar o meio ambiente, estamos abordando sobre a manutenção da nossa própria vida. Não podemos pensar só no desenvolvimento da cidade, da economia e expansão urbana em detrimento desta riqueza ambiental importante para Paranaguá, para o Paraná e o Brasil. Buscamos equilibrar esta relação. A cidade tem um grande potencial e tem que se desenvolver, mas em equilíbrio com aspectos sociais e ambientais", detalha, ressaltando que todos os setores devem ser focados em prol do equilíbrio.

Áreas verdes e massa de água

Arquiteto e urbanista, Fabrício Vergara, engenheiro sanitarista e ambiental, Eduardo Rodrigues, e geógrafo Eduardo Molina

O geógrafo Eduardo Molina ressalta que a revisão do Plano Diretor não foca somente a área urbana de Paranaguá, mas sim todo o território do município. "Paranaguá é um município gigantesco. Quando começamos a fazer as análises e entendemos o território parnanguara, a gente se depara com um número espantoso: 80% de todo o território de Paranaguá é composto por unidades de conservação ambiental e massa de água. Então, 80% de tudo é dividido entre estações ecológicas, parques estaduais e municipais, áreas de conservação, e massa de água. Temos 20% de local habitável, urbanizável. Então, esta riqueza ambiental do município, ela é Paranaguá, ela se confunde com a cidade, é impossível a gente não pensar a cidade, que é  20%, sem olhar os outros 80%", explica.

Ilhas e comunidades tradicionais

Molina afirma que o Plano Diretor não foca somente a cidade, mas toda a área do município. "Não só nas leis, que devem reger o município, devemos pensar também em estratégias. A população insulana, de comunidades tradicionais de Paranaguá, é parte da sociedade, deve ser inserida no debate e nos investimentos. São muitas comunidades tradicionais e insulares em Paranaguá, além de Alexandra, uma comunidade antiga, datada do século XIX, enfim, tudo isso deve ser contemplado na história e em nossa realidade, explorando seus potenciais", explica. "As ilhas e comunidades tradicionais possuem um potencial enorme de transformar todo este território em geração de emprego e renda com o turismo e, claro, se respeitando o desejo delas", afirma o geógrafo.

"É importante salientar que hoje elas têm esta questão de ser comunidades tradicionais. Todas estas mudanças podem implicar em uma transformação e descaracterizar estas comunidades tradicionais. Este é um cuidado também do Plano Diretor. Em fevereiro tivemos uma oficina com representantes do Estado trazendo esta questão das características das comunidades tradicionais, o que é muito importante. Eles têm a necessidade de emprego, mas também deve ser tomado um cuidado para serem mantidas essas características", explica.