No início da Semana do Meio Ambiente, com atividades alusivas ao tema em escolas e na sociedade em geral, a Folha do Litoral News traz uma entrevista com o 2.° tenente da Polícia Militar Ambiental, Alfredo Werner Eiglmeier. A Força Verde tem como objetivo fiscalizar práticas que ameaçam a fauna e a flora como as explorações florestais, os desmatamentos, as atividades poluidoras do meio ambiente, na redução do contrabando e comércio ilegal de animais silvestres, além de atuar com projetos de educação ambiental a fim de conscientizar a população sobre a importância de cuidar do meio em que vivem.
O 2.° tenente Werner começou na carreira policial em 2006, na Polícia Militar do Rio Grande do Sul, onde atuou como policial ambiental. Em 2010, passou no concurso para soldado no Paraná e, logo em seguida, de oficiais na Academia da Polícia Militar do Guatupê. Atuou no policiamento ostensivo comum na capital e na região metropolitana. Há cerca de um ano, veio o convite para voltar à Polícia Ambiental, desta vez em Paranaguá.
Nesta entrevista, Werner falou sobre os principais crimes ambientais que ocorrem no litoral paranaense e destacou que a melhor maneira de conscientizar a população sobre o prejuízo causado pela poluição é desenvolvendo ações de educação ambiental para crianças. Confira a entrevista:
Folha do Litoral News: O litoral tem particularidades no que se refere ao trabalho de fiscalização ambiental?
Tenente Werner: Não diria que aqui é mais difícil, mas temos algumas ramificações da fiscalização ambiental. No interior, trabalha-se muito a questão do desmatamento para grandes lavouras, de araucárias, que é uma árvore específica dos Campos Gerais, isso não temos, mas temos principalmente a questão da pesca predatória e da caça ilegal, por causa da Serra do Mar, que é uma mata ainda muita preservada e tem muito animal silvestre.
Folha do Litoral News: Quais os principais crimes ambientais verificados no litoral e quais prejudicam mais o meio ambiente?
Tenente Werner: Os principais crimes seriam a pesca predatória, a caça ilegal e desmatamentos para invasão para moradias, mas em quantidade menor. Acredito que todas tenham seu grau de importância, porque o meio ambiente é uma cadeia. Os crimes ambientais afetam o meio ambiente de forma que não tem como priorizar, mas depende da ótica de cada pessoa. Para parte da população, maus-tratos contra os animais são crimes gravíssimos e nós, enquanto policiais, tentamos dar prioridade a todos os tipos de crimes. Mas, obviamente, se ocorrer um acidente, por nossa região ser portuária, com certeza temos que dar uma atenção especial, pois causa uma repercussão maior.
Folha do Litoral News: Como atua a Polícia Ambiental no litoral?
Tenente Werner: A Polícia Ambiental atua basicamente tendo como uma lei como principal norteadora, que é a Lei 9.605, que trata dos crimes ambientais. Ali há vários crimes previstos, contra a fauna, que são contra os animais silvestres e nativos, contra a flora, que são desmatamentos, queimadas, invasão de mata ciliar, crimes como extração irregular de minérios etc., a própria lei de crimes ambientais dá um norte do nosso tipo de trabalho. Trabalhamos na prevenção por meio do patrulhamento, na repressão se virmos um crime e também na investigação porque chegam até nós crimes que já aconteceram e temos que ir atrás de proprietários da região para buscar informações a respeito. Também trabalhamos na educação ambiental, através de palestras, de turmas da Força Verde Mirim, todos os anos temos turmas em Guaraqueçaba, em parceria com a reserva Salto do Morato. Trabalhamos em ramificações bem grandes na área ambiental.
Folha do Litoral News: A temática da Educação Ambiental é importante no litoral, haja vista que parte da população, muitas vezes, colabora com a poluição. O que pode mudar esse cenário?
Tenente Werner: Na educação ambiental se ressalta a importância da proteção do meio ambiente, dos recursos naturais e do uso sustentável desses recursos. O trabalho é feito com crianças porque elas são o futuro e porque de alguma forma transmitem o conhecimento aos pais e replicam essa informação. Muitos crimes ambientais nas comunidades mais rurais são feitos de forma inocente, porque fazem parte do cotidiano dessas populações. Então é uma criança que vai deixar de cometer um crime ambiental lá na frente. Além de saber usar o recurso natural de forma que não destrua a natureza.
Folha do Litoral: Como a população pode colaborar com o trabalho da Polícia Ambiental?
Tenente Werner: De várias formas, a proteção do meio ambiente começa desde o momento em que você separa o lixo corretamente dentro de casa, também através de denúncia, verificando práticas de crimes ambientais. Sempre que for cortar uma vegetação, se tiver alguma dúvida pergunte às autoridades. O IAP e o IBAMA também estão aí para ajudar a esclarecer. O litoral tem muitas construções em locais irregulares, então pergunte para não ter que sofrer uma sanção lá na frente. Na questão da pesca, muitos gostam de pescar e sem ter muito conhecimento acabam praticando uma pesca predatória, que pode causar grandes danos. É importante sempre conversar com os órgãos responsáveis, pois é uma forma de ajudar nosso serviço e a natureza que é o nosso principal objetivo. Para informações e denúncias, a população pode entrar em contato pelo telefone (41) 3420-9400.
Folha do Litoral: Fica o espaço para suas considerações finais.
Tenente Werner: É importante ressaltar que o policial ambiental é o principal parceiro que o pescador tem e não inimigo. Há uma cultura que acaba sendo natural de uma rivalidade entre o pescador, que por falta de conhecimento ou práticas antigas, cometem crimes ambientais sem saber da legislação. Como a nossa função é fiscalizar para que isso não aconteça, com o tempo foi se criando uma rivalidade. Mas, temos tentado mudar. Se não fosse a fiscalização que estamos fazendo, muitos pescadores já não teriam mais peixes para extrair, que é a sua renda. Por isso, aos poucos tentamos quebrar essa cultura de rivalidade entre pescador e polícia ambiental porque é justamente o contrário, o primeiro protetor do pescado é o policial, para que as nossas espécies sejam preservadas e o pescador sempre tenha o seu sustento.