Há quem diga que passar em um concurso público é sorte. Sorte de cair o conteúdo que o candidato à vaga estudou, sorte de poder ter feito um curso preparatório ou porque aquela vaga tinha mesmo que ser de determinada pessoa. No entanto, a realidade é que essa conquista envolve horas de estudo, dedicação, superação e renúncias. Camila Lopes Barboza Nunes, de 33 anos, tem dois filhos, marido, casa, toda uma vida construída, mas não desistiu dos estudos. Ela juntou seu sonho de trabalhar na área da saúde com o apoio que recebeu da família para ter sua vida transformada.
E foi na unidade do Senac Paranaguá que encontrou toda a base que precisava para tirar seu sonho do imaginário e traze-lo para a realidade. Ela acaba de se formar no curso de Técnico em Enfermagem, o mais concorrido da instituição, e já passou em primeiro lugar em um concurso público da Prefeitura de Morretes.
Neste ano, Camila se inscreveu no concurso da Prefeitura de Morretes para atuar como Técnica em Enfermagem no município. E quando saiu o resultado, ela teve a confirmação de que a dedicação aos estudos aplicada nos últimos anos tinha dado resultado. “Quando abriu o edital eu já me inscrevi. Eu estudei e estava confiante, mas eram mais de 300 candidatos. Minha mãe viu o resultado e deu pulos de alegria, ficamos muito felizes”, contou.
Para ela, a conquista se deve ao seu esforço e também ao preparo recebido no Senac. “Eu parei esses anos da minha vida para estudar. Eu participei de tudo que o Senac propunha, em ações sociais, tudo para aprender ao máximo. Toda base que precisei eu encontrei aqui. Os professores são maravilhosos, quero leva-los para a minha vida”, ressaltou Camila.
Humanização no atendimento
Camila fez estágio na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no Hospital Regional do Litoral (HRL), Hospital Paranaguá e em unidades básicas de saúde. “Nos estágios vi que gosto do pronto socorro, de atender aquela pessoa que chega sem saber o que tem. Muitas vezes o paciente chega emotivo, precisando conversar, se acalmar, o profissional de saúde também precisa ter essa sensibilidade. Uma vez um professor me falou que muita gente não procura o serviço de saúde por causa dos profissionais e eu não quero ser esse profissional que afasta os pacientes. Essa é a diferença que aprendemos no Senac”, afirmou.
Para ela, a profissão exige calma e amor ao próximo. “Enfermagem é o dom de cuidar, tem que gostar de pessoas, eu quero cuidar do outro como se fosse da minha família”, ressaltou Camila.
Estudos, casa e família
Conciliar todas as tarefas do dia a dia com dois filhos, de 13 e sete anos, não foi fácil, motivos para desistir não faltaram, segundo Camila. “O Senac é muito rígido com horários e eu tenho filhos para deixar na escola, tinha que completar os horários de estágios, meu marido é portuário e trabalha em escala, essa parte foi bem difícil, tive momentos que pensei que não ia conseguir”, revelou.
Mesmo diante dos desafios diários, ela não desistiu, muito por conta do apoio que recebeu da família e da instituição. Se depender dela, os estudos não param por aí. “Quero ainda fazer uma faculdade e me especializar”, disse.
Formação
A coordenadora e professora do curso de Técnico em Enfermagem do Senac Paranaguá, Silmara Stefania Ferraz Kmet, disse que este é o curso mais concorrido da instituição. “Abrimos 30 vagas e em horas conseguimos fechar. Tem história de alunos que entram às 5h da manhã no site para conseguir fazer a inscrição, tem pessoas que esperam há anos”, relatou Silmara.
Por outro lado, o mercado de trabalho também tem vagas. “Muitas pessoas acham a profissão bonita, mas não tem o perfil para atuar na área. Temos algumas desistências por conta disso. Mas, quando o aluno se encontra mesmo na enfermagem, como é o caso da Camila, que já teve outras experiências, a gente sabe que será uma boa profissional. A gente foca muito no aluno fazer essa diferença no mercado, porque trabalho ele vai ter. É preciso ter profissionais que olhem para o paciente como um ser humano, com seus defeitos, dores, não é só fazer um procedimento. Focamos muito nessa questão da humanização desde o começo do curso”, enfatizou Silmara.
O curso inclui o Projeto Integrador, que estimula o aluno a passar o seu conhecimento para a comunidade. “Tudo parte do aluno, o instrutor é só um mediador. No projeto integrador, as turmas pegam um local como o Abrigo de Idosos, faz uma pesquisa de campo para saber o que eles precisam e são instigados a pensar em como o conhecimento deles pode favorecer e elaboram uma ação no local”, disse Silmara.
O modelo pedagógico adotado pelo Senac, de acordo com Silmara, é diferenciado, aposta na autonomia do aluno e o coloca como protagonista. “Eles precisam fazer apresentações, não tem muita prova, eles fazem autoavaliação. Na verdade, eles são avaliados a todo o momento, no momento de tratar o seu paciente, a sua ética e postura, todos os dias dentro da sala e no campo de estágio”, frisou a professora.