Em 1.º de maio, uma verdadeira força-tarefa entre artistas e população foi realizada no Projeto Andada, realizado pelo Paranaguá Mais Cores na passarela da Ilha dos Valadares, tornando-a a ponte mais colorida do mundo, segundo a organização. Mais de 300 pessoas atuaram no espaço, entre equipe e voluntários, tornando um local cinza em uma arte urbana coletiva, também conhecida como “asphalt art”, de mais de 1.700 metros quadrados. Apesar de hoje concretizada, a obra foi uma verdadeira missão e o “gigante” só foi vencido com esforço do Paranaguá Mais Cores, apoio de moradores, organização do trânsito, segurança e diálogo com o Poder Público Estadual e Municipal.
A idealização e realização do “Projeto Andada” é do Paranaguá Mais Cores, assim como da Crabe, Mucha Tinta e Bernardo Bravo Idealização, sendo realizado com apoio do Governo do Estado por meio do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE), da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (SEEC), com incentivo da ODU da ONU, patrocínio da Copel e apoio da Prefeitura de Paranaguá.
“Pode procurar no Google, na Inteligência Artificial (IA), onde você quiser, em chat GPT, inglês, português e espanhol, não vai ter. Hoje a ponte mais colorida do mundo é a nossa, não existe em nenhum lugar este tanto de metros quadrados, falo isso porque pesquisei, temos a passarela mais colorida do mundo, em metragem quadrada, tudo pintado a mão”, afirma Giovanni Negromonte, o “Gio Negromonte”, advogado, artista e um dos idealizadores do Paranaguá Mais Cores e do Projeto Andada.
Segundo o idealizador, a equipe do Projeto Andada começou a atuar na pintura da passarela em 23 de abril. “Foram sete dias de preparo até o dia 29, fizemos este mural inteiro em oito dias. Se somar tudo, estamos falando de umas 300 pessoas atuando nesta arte urbana coletiva. Só na nossa equipe de produção estamos falando de cerca de 50 pessoas, temos mais a equipe que foi fazer a limpeza do manguezal que também foi de 50 pessoas, aí há mais de 150 a 160 voluntários, bem como pessoas que atuaram no baile de fandango, o Thinker na eletricidade, então dá para dizer uma média de 300 pessoas”, explica, destacando que no dia 1.º de maio foi feito barreado para mais de 350 pessoas, entre equipe, voluntários e comunidade.
Negromonte ressalta que a arte foi feita por vários dias para conclusão em 1.º de maio junto com os voluntários e população. “Quando chegamos lá, percebemos que colocar 500 pessoas em cima da ponte ficaria perigoso, pois a ponte é um local de fluxo de pessoas, havia risco de alguém cair da ponte, alguma criança, então começamos a pensar em outra dinâmica. Diminuímos o número de pessoas, com 70 a 80 no turno da manhã e da tarde, colocando pessoas só para cuidar do guarda-corpo com fiscais voluntários. Então, entramos dia 23, pedimos para descer toda a equipe do Paranaguá Mais Cores, muita gente de Curitiba que é de Paranaguá, bem como caiçaras de Matinhos, Morretes, então fomos meio que pedindo para o pessoal vir para já irmos pintando e adiantando”, explica.
Detalhes da obra
“No dia 1.º de maio deixamos as garras dos caranguejos para as pessoas pintarem, algo que fazia todo o sentido, com os voluntários vindo para finalizar o desenho com a gente”, detalha, ressaltando também a repercussão positiva com os voluntários e o sentimento de fazer parte da obra. “É um sentimento de missão cumprida. A gente venceu um gigante. Quando eu falo que é a ponte mais colorida do mundo há esta lógica de ser uma grande coisa anunciada, mas o fazer dela é muito difícil, porque é um gigante de 275 metros, é enorme, para fazermos ele utilizamos uma tática de guerrilha, pintando e entrando rápido, tendo a munição que era a tinta, tinha que chegar comida e água, tinha drone que precisava subir para observar o traçado do desenho, algo feito pela OPA Filmes”, salienta Gio.
O idealizador ressaltou que no dia 1.º de maio foi o “golpe de misericórdia” para finalizar a obra. “Esta galera que vem pintar, dos voluntários, vem trazendo a força da cidade, de querer um local bonito e agradável com o amor que você sente. Então, quando eles chegaram, nós sabíamos que seria neste dia que iríamos concluir. A ponte da Ilha dos Valadares é um local muito simbólico, tomar este lugar e quebrar o cinza com as cores é missão cumprida”, frisa.

“Quando a gente faz uma obra dessas, mexemos com a dinâmica em sociedade, com uma comunidade inteira de 40 mil pessoas, essa obra no fim é para ela, não é para mim. Eu não posso chegar lá e fazer algo que não faz sentido para essas pessoas, porque elas irão viver isso”, afirma Negromonte. “O caranguejo é um símbolo de representação, de identidade cultural, por isso as pessoas gostam. Imagine se eu fizesse tudo de caveira de ponta a ponta, não iria fazer sentido para os moradores. A palavra Andada é algo em comum para todo mundo, possuindo relação com a andada do caranguejo, tentamos relacionar isso muito bem”, acrescenta.
Segundo Negromonte, a ideia central do projeto Andada foi utilizar a figura do caranguejo como uma identidade parnanguara. “Você vê o caranguejo, você entende que ele faz parte de você mesmo. Então fizemos esta representação da andada do caranguejo para se reproduzir com a andada da população para poder se reproduzir na sua vida em sociedade, para ir para a escola, o trabalho, comprar coisas no supermercado. Há esta relação, por isso toda a obra conta com vários caranguejos, tendo elementos locais como as caudas de peixe, o sol e a lua que trata dos ciclos e da maré, por isso também um lado é vermelho representando o dia e o outro lado é azul representando a noite, com o verde sendo a Mata Atlântica. Temos a lua também em uma lógica de pesca”, detalha.
“Quando publicamos o vídeo final você vê a repercussão positiva junto aos moradores, de pessoas que não moram mais em Paranaguá e que falam com orgulho e saudade da cidade. Então, é algo que está sendo muito legal”, ressalta Negromonte.
Ideia surgiu do cinza
Segundo Gio Negromonte, a ideia surgiu quando ele atravessava a passarela para ir até a Ilha dos Valadares e via aquela estrutura cinza, ou seja, sem vida. “Atravessamos para ir ao fandango, para visitar o Mestre Zeca, ir até o Mar de Lá, entendo que a Ilha dos Valadares é o grande berço da nossa cultura, por isso vou muito para lá, e nessas travessias do cinza uma vez me deu um clique de que aquilo tudo cinza poderia ser pintado”, salienta, destacando que a ideia podia ser “coisa de maluco”, algo também reforçado pelo fato de que quando mandou o projeto ao PROFICE ainda não existia a ponte de veículos da Ilha dos Valadares.
“Quando construíram a outra ponte eu era a pessoa que estava mais feliz no mundo, porque ficou perfeito, se não teríamos que pintar com uma passarela só. Teria que pintar a metade antes de fazer a outra, não sei como iria ser, mas a ideia surgiu disso, ao longo dessas travessias nesse pensamento de que dava para pintar, que era possível, fui correndo atrás, estamos falando de um projeto que envolve cinco anos de trabalho desde a concepção da ideia até conseguirmos mandar para edital, aprovar o edital, captar recursos via edital e conseguir uma data final para entrar em campo, colocando sua equipe na guerrilha para atacar e entregar”, salienta, destacando também a realização de 10 oficinas na Ilha dos Valadares.


Durabilidade
“Quando falamos de arte urbana, estamos falando de uma arte efêmera, uma arte com uma durabilidade menor, pois ela está sujeita aos efeitos do tempo, da chuva, do sol, não é algo para sempre. Eu, Giovanni, acredito que a obra terá uma durabilidade de seis meses, mas a fábrica fala que teremos uma durabilidade de um ano deste mural, eu jogo menos, pois estamos falando de 40 mil pessoas de fluxo por dia, é muita gente. Além disso, se alguém derruba algo pesado, por exemplo, acaba com parte do desenho, enfim, mas foi utilizada a melhor tinta possível com a melhor qualidade possível, tudo mais bem preparado possível, agora é esperar”, afirma Negromonte.
Gio destaca o agradecimento a toda a equipe que o apoiou no projeto. “Quando você for pintar o quadro, você fica parado na frente com um pincel e faz um traço na tela. Quando você está em uma ponte, o traço é de vários metros, sua dimensão é teu corpo que pinta”, afirma. “No último dia de pintura fizemos 26 quilômetros andando cada um da equipe, a média por dia era de 20 quilômetros por dia, é atravessar a ponte sei lá quantas vezes. Quando você pinta em um lugar você está sentado, mas lá tudo você está em pé e em movimento”, finaliza Gio.